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Germano Aguiar Vieira

Diretor Florestal da Masisa

Op-CP-01

O suprimento de madeira para a ampliação da produção

Antes de falarmos do suprimento propriamente dito, é bom esclarecer as razões que levaram o Brasil a pensar na possibilidade de expandir suas indústrias de base florestal, podendo chegar à liderança mundial do setor. Não podemos atribuir os rendimentos florestais brasileiros, muitas vezes superiores a de outros países produtores de madeira, somente à boa adaptação ao clima tropical de espécies madeireiras, como pinus e eucalipto.

Devemos levar em conta também a história de como nos tornamos silvicultores por excelência, nos últimos 50 anos. Na verdade, o crescimento de qualquer atividade do agronegócio, deve ser baseado em padrões mínimos de qualidade, garantindo a sustentabilidade necessária para que não ocorram turbulências, sempre danosas a qualquer segmento industrial.

Assim, posso afirmar que estamos preparados para crescer com sustentabilidade, baseado em experiências como a da antiga Papel Simão-SP ou a Belgo Mineira-MG, que cultivam o eucalipto nos mesmos solos, desde a década de 50, com produtividades sempre crescentes, variando de 10 a 50 m³ por ha/ano. Contribuíram para este sucesso as 28 universidades, formando mais de 15.000 engenheiros florestais, os Institutos de Pesquisa como a SIF - Sociedade de Investigação Florestal, o IPEF - Instituto de Pesquisas Florestais, a SBS - Sociedade Brasileira de Silvicultura e outras entidades ligadas ao setor, formadas por empresas.

Esta estrutura permitiu a criação de uma importante base genética dessas espécies, dinamicamente melhoradas e adaptadas às condições climáticas e de solos das diversas regiões do Brasil, implantando uma imensa rede experimental, a fim de desenvolver um manejo silvicultural adequado. Vários grupos de estudos foram criados como PTSM-Programa Temático de Silvicultura e Manejo, BEPP - Brasil Eucalipto Produtividade Potencial, NUTREE - Nutrição do eucalipto, Risolyptos, Psilídeo, TI- Florestal, GT-Florestal e, por último, o Genolyptus, formado por 13 empresas florestais e mais 8 Universidades e Instituições de Pesquisa, que avançam rapidamente no conhecimento da genômica, colocando o Brasil como grande produtor de florestas de rápido crescimento.

Nos dias atuais, a estratégia de suprimento de madeira para as expansões ou novas fábricas de celulose e papel tem sido objeto de discussões internas nas empresas consumidoras, em ONG´s, órgãos federais, estaduais e municipais, políticos e até segmentos religiosos. O que fica dessa nova abordagem e que parece consensual é a necessidade da inserção do pequeno e médio produtor rural na cadeia produtiva de madeira.

Por um lado, a sociedade discute o latifúndio e a monocultura em cada município e, por outro lado, as empresas percebem a necessidade de dividir seu negócio com pequenos fazendeiros, ávidos por uma alternativa mais adequada, que equilibre sua receita, às vezes baseada em modelos agropecuários ultrapassados. Regiões vocacionadas para produção de culturas de ciclo longo, como café e eucalipto, insistem, por falta de opções, em competir com outras mais adaptadas à cultura de ciclo curto, como soja, cana etc.

A grande novidade é que com empresas instaladas nestas regiões, fomentadoras e garantidoras da compra do produto, produzir madeira passou a ter um novo sentido para muita gente que, assistidos com tecnologia de ponta em silvicultura, plantando os melhores cultivares, vislumbram ganhos sustentáveis, sem comprometer outras atividades nas suas propriedades.

Precisamos analisar como isto vai acontecer ou, pelo menos, como deveria ocorrer, pois um empreendedor que investe um milhão de dólares para cada mil toneladas de celulose a ser produzida, não pode ficar a mercê de imprevistos de abastecimento em sua unidade produtiva, devido a problemas de infra-estrutura, excessivos entraves burocráticos inseridos no setor e leis restritivas às quais estamos sujeitos para produção de madeira, diferentemente do que ocorre para produção de outras culturas.

Como referência, uma grande empresa produtora de madeira precisa cumprir uma série de exigências para concluir o seu processo produtivo, desde a Licença de operações para atividades silviculturais do COPAM, Alvará de localização da Prefeitura, Guia de Recolhimento de Contribuição Sindical do MTE, Autorização para colheita do órgão estadual, Declaração de corte e colheita DCC, Certificação do registro técnico federal de utilizadores de recursos ambientais do IBAMA, Guia de controle e consumo GCC, Anuidade do Crea, Outorga de direito de uso de águas públicas do IGAM, Permissão de trânsito de vegetais PTV, Certificado fitosanitário de origem CFSO, Licença de exploração de jazidas (cascalheiras) do DNPM, Licença para comercialização de toretes, Consumidor de toretes para energia, Cadastro de Administradora de projetos florestais, Cadastro de proprietário de motosserra, Cadastro de proprietário de máquinas florestais, Porte de motosserras, Porte de máquinas florestais (Harvester ou Feller Buncher), Taxas florestais pagas por cada m³ colhido, Autorização especial de trânsito (caminhões de madeira) e outros referentes às leis trabalhistas e fiscais.

São exigências bastante onerosas para uma grande empresa, quanto mais para um fazendeiro, que se assusta com tamanho controle, não visto em outras atividades agrícolas. Além das amarras burocráticas, a estratégia de abastecimento sustentável depende de um programa organizado de financiamento florestal, que o fazendeiro precisa para iniciar seus projetos.

Embora já existam alguns modelos de financiamentos, Propflora e Pronaf, estes ainda são inacessíveis ao pequeno produtor, sem a presença de uma compradora da matéria-prima, que entra no processo de forma contratual, garantindo o pagamento à instituição financeira. Resumindo, o suprimento de madeira para a expansão de novas fábricas de celulose deve ser baseado na:

1. Utilização de uma menor quantidade de terra, devido às crescentes melhorias na produtividade florestal;
2. Não utilização de áreas com vegetação nativa, devido ao aproveitamento de terras atualmente utilizadas para outras culturas;
3. Maior participação de fazendeiros florestais nas estratégias de suprimento das empresas consumidoras de madeira;
4. Maior engajamento de empresas florestais nas demandas sociais das comunidades que estarão inseridas no contexto regional, e
5. Maiores cuidados ambientais, já incorporados pelas grandes empresas, e que serão disseminados para os fazendeiros florestais.