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José Vicente Ferraz

Diretor Técnico da Agra FNP Pesquisas

Op-CP-08

O setor florestal e as terras

O setor florestal brasileiro demonstra uma enorme pujança, fruto da sua indiscutível competitividade, em nível internacional. O setor, segundo estimativas de mais alta confiabilidade, deve crescer, nos próximos anos, a uma taxa de pelo menos 6% ao ano.

Grande parte desta força competitiva sustenta-se na capacidade diferenciada de se produzir, no Brasil, matéria-prima em florestas plantadas, a baixo custo, fruto de uma alta produtividade, proporcionada por elevado nível tecnológico de produção e condições naturais favoráveis, além de baixo custo e alta disponibilidade de mão-de-obra e de terras.

É preciso notar que o custo da terra é um importante fator de competitividade, à medida em que o capital nela investido precisa ser remunerado pela atividade nela desenvolvida, o que, por sua vez, gera a necessidade de um desempenho econômico mínimo. A existência de grandes extensões de terras, perfeitamente utilizáveis para atividades florestais, não aproveitadas ou subaproveitadas, já representa vantagem comparativa relevante, pois viabiliza a necessária expansão das florestas plantadas.

Estimativas conservadoras indicam que existem, no país, cerca de 100 milhões de hectares de terras de qualidade aceitável para atividades agropecuárias pouco exigentes, desde que corrigidas nos seus aspectos de fertilidade, com técnicas simples e relativamente pouco onerosas. Ressalte-se que desta estimativa já foram deduzidas as terras localizadas em ecossistemas frágeis como o Pantanal Mato-Grossense e a Floresta Amazônica, além de parques nacionais, reservas indígenas e as áreas que obrigatoriamente devem ser preservadas por força de lei, como proporção da área total de cada propriedade.

Considere-se ainda que os preços das terras brasileiras, da mais alta qualidade e localizadas nas regiões mais desenvolvidas do país, são significativamente menores que os das terras de países do hemisfério norte, em especial. Mas, mais significativa é a existência, no país, de terras de qualidade razoável e perfeitamente aptas para o desenvolvimento de atividades florestais, de custo extremamente baixo, que simplesmente não existem em outras partes do mundo, exceto, possivelmente, em algumas partes do continente africano.

É possível encontrar terras em estados brasileiros como Maranhão, Piauí e Pará, por exemplo, de bom potencial produtivo, por preços inferiores a R$ 250 por hectare, ou seja, cerca de US$ 125 por hectare. As terras mais baratas existentes em países do hemisfério norte, desde que com um mínimo potencial produtivo, não são encontradas por menos de 9 vezes este preço.

É verdade que o impacto deste valor mais baixo das terras brasileiras é em parte reduzido pelo fato de que geralmente estas estão localizadas em regiões com grandes deficiências de infra-estrutura, mas, mesmo assim, a vantagem brasileira é muito considerável. Neste cenário, é fácil entender que com a menor necessidade de imobilização de capital em terras, o retorno da atividade tende a ser maior no Brasil que em outros países concorrentes do hemisfério norte, o que favorece a expansão acelerada da atividade florestal no país.

Uma questão importante diz respeito à sustentabilidade desta vantagem comparativa, uma vez que parece evidente que a tendência dos preços das terras brasileiras é de elevação. A transformação do Brasil em potência nos agronegócios, acelerada mais recentemente pelo boom da bioenergia, induz à valorização das terras brasileiras, sendo isto inegável.

Porém, a existência do já referido estoque de terras e as próprias condições macro-econômicas do país, levam a crer que este processo de valorização tende a ser, no máximo, igual à valorização das terras que ocorrerá também nos países do hemisfério norte, mantendo-se, portanto, o atual diferencial. Depois do lançamento, pelos EUA, de um ambicioso programa de produção de etanol a partir do milho, muito se tem especulado sobre os seus efetivos efeitos - diretos e indiretos, sobre o agronegócio brasileiro em geral e sobre o preço das terras em particular.

Parece claro que o Brasil será muito beneficiado, dadas as inquestionáveis vantagens comparativas que desfruta em diversos e importantes setores do agronegócio, no entanto, parece precipitado concluir que este desenvolvimento implicará em um movimento de alta nos preços das terras, generalizado e suficientemente grande para eliminar a vantagem comparativa das terras baratas.

Explica-se, em primeiro lugar, o efeito da expansão dos cultivos para a produção de bioenergia ou para substituir a produção de países que utilizarão a sua produção com a mesma finalidade será relativamente restrito. Pois, deve-se ter em mente que a totalidade das culturas anuais e perenes do país, ocupa uma área de aproximadamente 60 milhões de hectares.

Como se viu, existe um estoque de terras disponíveis maior que este, ou seja, a área cultivada poderia mais que dobrar, sem provocar um deslocamento significativo de outras culturas. Segundo, o efeito expansão dos cultivos no país será localizado, seja porque as condições edafoclimáticas de muitas regiões do país não são adequadas para o cultivo de lavouras mais exigentes (mas são utilizáveis para a implantação de florestas plantadas), seja porque não existe suporte logístico para a produção de alguns produtos mais sensíveis ao custo de transporte (notadamente cana-de-açúcar e seus subprodutos etanol e açúcar).

Em conclusão, pode-se afirmar, com bom nível de segurança, que embora seja previsível uma elevação dos preços das terras no Brasil, esta não será, nem tão grande, nem tão generalizada, que venha a eliminar a grande vantagem comparativa que é representada pelo baixo valor relativo das terras brasileiras.