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Nelson Barboza Leite

Diretor da Teca e Daplan Serviços Florestais

OpCP45

as novas fronteiras: superações e realidade
De tempos em tempos, a silvicultura brasileira migra para novas fronteiras. Essas corridas se dão, quase sempre, em função do contínuo crescimento de setores industriais, mais destacadamente, os de celulose ou de chapas. A história tem mostrado que o crescimento das indústrias tem acontecido de forma cíclica. Mais ou menos, a cada 10 anos, a capacidade produtiva das grandes indústrias, quase duplica. Os novos ciclos de crescimento, no entanto, já se tornaram proibitivos nas regiões mais desenvolvidas. 
 
E essa situação tem sido agravada com a impossibilidade de se aumentarem as áreas de florestas no entorno das grandes unidades consumidoras de madeira. Esse cenário torna inevitável a corrida para novas fronteiras. Essa corrida pode se dar por iniciativa da própria indústria consumidora de madeira, com objetivos e prazos bem definidos, ou através de empreendedores florestais na busca de novas oportunidades de negócio. A silvicultura brasileira, campeoníssima em produtividade,
 
está assentada em regiões com grande lastro de informações técnicas e com procedimentos operacionais bem definidos. No entanto esse pacote tecnológico não pode ser levado às novas fronteiras sem as devidas adequações. Quando a silvicultura vai na frente com pesquisas e experimentações, as migrações se dão sem sobressaltos, e os novos empreendimentos não sofrem solução de continuidade.

Até os eventuais investidores, que seguem a trilha e que, normalmente, não querem investir em pesquisas, também se beneficiam. Quando chegam, encontram as informações necessárias para atender às demandas básicas. Foi assim nas regiões de Minas Gerais, sul da Bahia, Mato Grosso do Sul, nos pampas gaúchos e, mais recentemente, no Maranhão. 
 
Essa corrida, com a indústria consumidora de madeira indo na frente e fazendo pesquisa, diminui, significativamente, o risco, pois gera informações e dá sustentação à fase crítica do pioneirismo. O processo de desenvolvimento ainda pode se consolidar, com mais rapidez, quando políticas governamentais participam do processo, criando mecanismos atrativos às grandes indústrias consumidoras.

O Mato Grosso do Sul é um exemplo a ser seguido.Nas décadas de 1980 e 1990, havia muitas dúvidas a respeito de materiais genéticos, adubação, etc. Florestas de baixa produtividade e muitas florestas se perdendo pelo intenso ataque de formiga. O polo florestal só se consolidou, de fato, quando o governo estadual despertou para as potencialidades do setor e criou condições favoráveis ao estabelecimento das indústrias. Esse exemplo precisa ser conhecido e seguido por outras regiões pioneiras. 
 
No entanto, quando a corrida para novas fronteiras se dá por empreendedores florestais desvinculados de projetos industriais, o assunto exige cuidados complementares. Os que vão, na verdade, unicamente, com o objetivo de transformar seus futuros ativos florestais em grandes negócios podem se frustrar. As necessidades do curto prazo dificultam as ambições de médio e longo prazo. Partir na frente para usufruir-se das oportunidades disponíveis exige sempre “um mínimo” de investimentos em estratégias operacionais para superar as dificuldades e incertezas técnicas iniciais. 
 
Não havendo limitações insuperáveis, as adversidades técnicas e operacionais se resolvem. Mas há de se ter, no entanto, tempo e consciência de que os trabalhos iniciais são imprescindíveis para observações e pesquisas. Só assim, e com contínuas adequações, a silvicultura consegue amadurecer progressivamente os procedimentos operacionais do dia-a-dia. E essa fase inicial, rica em informações, mas cercada de erros e acertos, pode se transformar em grande desconforto aos interesses de curto prazo. 
 
A silvicultura é, essencialmente, uma atividade de médio e longo prazo, e, numa região sem informação técnica, o curto prazo precisa ser cautelosamente trabalhado. Sempre é muito rico em descobertas e é inevitável e crucial para a definição dos procedimentos operacionais. É, na verdade, o “grande professor” e a chave do sucesso dos empreendimentos de médio e longo prazo.
 
As corridas que se deram, nos últimos anos, para as novas fronteiras mostraram que há regiões com condições totalmente impróprias à silvicultura. São limitações, normalmente, de clima ou de solo, ou de ambos. E, nesses casos, a combinação da biologia e da matemática se torna inviável. 
 
A natureza fala mais alto, e não dá para avançar com os riscos insuperáveis. Quem se aventura nessas regiões abusa dos riscos, e as aparentes oportunidades se transformam em intolerável pesadelo. Quase sempre são aventureiros que não respeitam as limitações biológicas. No entanto há regiões que apresentam dificuldades controláveis, e a viabilização da silvicultura só vai depender de pesquisas e experimentações.

É fundamental, nesses casos, o acompanhamento de profissionais experientes, com capacidade de observar e avaliar os detalhes dos trabalhos de campo. As florestas dão todos os sinais para quem entende e é do ramo. Há fortes indícios de que, nessas regiões, estarão concentrados os grandes empreendimentos para dar sustentabilidade ao crescimento da indústria florestal brasileira. Há espaço, não há competição com a produção de alimentos, não há conflitos sociais, nem limitações ambientais. E, em muitos casos, as condições naturais facilitam, sobremaneira, o estabelecimento de logística bastante favorável.
 
As dificuldades iniciais dos trabalhos silviculturais por falta de informações técnicas mais precisas, à semelhança de outras oportunidades, constitui desafio técnico superável, a médio e longo prazo. E o mais interessante é a existência de casos concretos, mostrando os passos estratégicos para a viabilização da silvicultura nessas áreas. Entre algumas regiões com possibilidades de expansão, o estado do Tocantins, nos dias atuais, representa um bom exemplo de “nova fronteira”. 
 
Nesse estado, a silvicultura está se refazendo com novos conceitos e novos procedimentos. Muitos empreendimentos se instalaram nos últimos anos em diversas regiões daquele estado. Alguns foram paralisados por diferentes razões, mas há vários exemplos mostrando os caminhos e os atalhos a serem seguidos. As dificuldades técnicas encontradas, aliadas à crise econômica do País, limitaram o acelerado crescimento, que vinha acontecendo no estado, em anos anteriores. 
 
No entanto muitas experiências que vinham sendo bem conduzidas, mesmo interrompidas, evidenciaram os cuidados essenciais que devem ser adotados nos procedimentos da silvicultura regional. Com certeza, a médio prazo, os que não se abateram com as dificuldades iniciais usufruirão, de fato, das riquezas dessa nova fronteira. Vamos torcer para que os governantes percebam as potencialidades da atividade e a grande oportunidade para se promover um grande polo de desenvolvimento florestal e industrial naquele estado. Quanto às políticas públicas indispensáveis para sua viabilização, não precisa inventar. É só conhecer e aplicar o que foi feito com muito sucesso no Mato Grosso do Sul.