A modernização do sistema florestal normalmente é relacionada com robôs, alta tecnologia embarcada, veículos autônomos e voadores, inteligência artificial, monitoramento e tomadas de decisões de forma remota, Big Data e muitos outros exemplos que seriam aplicados à silvicultura.
Com isso, é nítida a evolução tecnológica de toda a cadeia ao longo do tempo, suprindo, assim, as demandas silviculturais, mantendo o Brasil como líder em produtividade das florestas plantadas e garantindo competitividade à cadeia. No entanto estaríamos nos restringindo se considerarmos apenas a alta tecnologia como algo que referencie a modernização do setor; desde muito tempo, adaptações do setor agrícola têm impulsionado as atividades florestais. O processo evolutivo é dinâmico e elástico, oscilando ao longo do tempo.
Parafraseando Platão e um outro filósofo, “a necessidade é a mãe da invenção e a inovação sempre surge em momentos de crise”; o tema nos alerta de que devemos, primeiro, identificar os gargalos para depois solucioná-los. Adaptações relativamente simples, como as barras protegidas, ou também conhecidas como conceição, podem trazer maior aderência e modernização do que robôs que ainda são impraticáveis no campo, justamente pelo fato de estarem diretamente solucionando um problema claro, que seria a falta de mão de obra e o risco de fitotoxicidade causado pelos herbicidas não seletivos.
Entretanto, nem sempre é fácil ou simples identificar esses gatilhos. Como exemplo, nem sempre se teve tão claro o quanto as plantas ruderais que infestam os plantios florestais seriam daninhas ao desenvolvimento da floresta plantada, muito menos que isso dependeria do posicionamento, intensidade da infestação e tempo em que estariam competindo. E, ainda, que diferentes sítios responderiam de formas diferentes devido às condições ambientais e das espécies ou clones implantados nas áreas.
Quando foi compreendido que havia a necessidade do controle dessa vegetação de forma mais efetiva para evitar a matocompetição, foram buscadas soluções, como a prática do fogo, que tornava a área livre de infestações, apesar de outros danos que causava, mas não deixava de ser algo moderno para o momento.
Concomitantemente, outras formas adaptadas da agricultura também eram empregadas, como o preparo intensivo do solo com a aração e gradagem, práticas que, sem sombra de dúvidas, foram revolucionárias para o setor. Ao longo do tempo, foram introduzidos os herbicidas agrícolas, que permitiram maior agilidade e menor dependência de mão de obra no controle do mato. Posteriormente, foram sendo registrados produtos com recomendações florestais, sendo introduzidos os herbicidas pré-emergentes, que trouxeram ainda mais modernidade ao manejo, reduzindo as intervenções e os custos no manejo.
O emprego e a oferta de herbicidas não ocorreram por acaso, mas são fruto da necessidade de soluções eficientes para as dificuldades de mão de obra no combate às plantas daninhas e a oportunidade das indústrias químicas em trazer suas soluções para o setor florestal. Ao longo dos últimos anos, a quantidade de produtos químicos ou biológicos florestais vem aumentando, o que demonstra que o setor tem ganhado força, visibilidade, e, por que não, modernidade. Segundo o portal eletrônico do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Agrofit, existem em torno de 314 produtos químicos e biológicos registrados para a proteção de florestas no Brasil, dos quais 218 são herbicidas.
Tendo em vista que, até pouco tempo, as opções herbicidas registradas não passavam de poucas, estamos vivendo um momento de abundância. Entretanto, apesar de esse número aparentar diversidade, a quantidade de diferentes moléculas herbicidas e misturas registrados não passa de 37, e apenas 10 ingredientes-ativos representam 90% dos produtos registrados para o setor, sendo: glifosatos (56%), glufosinato (8%), clorimurom-etílico (7%), flumioxazina (5%), sulfentrazona (3%), isoxaflutol (2%), carfentrazona-etílica (2%), oxifluorfem (2%), quizalofope-P-etílico (2%) e triclopir-butotílico (2%) ? ainda que os 10% restantes representem moléculas, formulações e misturas mais recentes, com alta tecnologia agregada.
De qualquer forma, os produtos herbicidas são compostos pelo ingredientes-ativos, adjuvantes e inertes, que garantem estabilidade e os requisitos necessários para sua eficiência na aplicação, controle e segurança. E, assim, para extrair todo o benefício dessas tecnologias, não basta ter a melhor escolha do produto, mas que sejam feitos também levantamentos fitossociológicos das plantas daninhas, que sejam utilizados equipamentos adequados e regulados, posicionamentos corretos e o momento adequado de aplicação. Ou seja, a inovação e o conhecimento devem caminhar juntos para que não seja uma modernização apenas aparente e frágil.
É importante que todo profissional florestal se sinta parte dessa modernização do sistema florestal brasileiro e se dedique na compreensão dos problemas enfrentados e na busca por soluções inovadoras. Apesar de ser complexo e dependente de ações conjuntas, o setor busca um mesmo objetivo, que é a eficiência na produção sustentável florestal. Exemplos como os pulverizadores autopropelidos, aplicações de produtos defensivos via drones, eucaliptos geneticamente modificados garantindo tolerância a herbicidas, mapeamento da infestação de forma remota, inventários remotos, tudo isso já é parte da silvicultura moderna, aquela que busca maior precisão e eficiência.
Definitivamente, a modernização é algo dinâmico, que sempre se atualiza, conforme as necessidades encontradas. O que é moderno hoje se tornará obsoleto em um futuro próximo, mas isso o torna ainda mais relevante para a modernização do sistema florestal brasileiro, pois todo o aprendizado gerado durante sua operacionalização será utilizado durante o processo de geração de novas tecnologias.