O grande avanço experimentado pelo setor de florestas plantadas no Brasil muito se deve à grande sinergia que sempre existiu entre as empresas e instituições de pesquisa. Nas fases pré-competitivas, a troca de informações e complementaridades de conhecimentos proporcionaram o desenvolvimento e o aprimoramento de muitas técnicas, métodos e processos, os quais alavancaram a produtividade do setor florestal do Brasil.
Há, inclusive, programas cooperativos para o desenvolvimento de várias áreas que compõem a atividade florestal como um todo. Em muitos países, essa interação praticamente não existe, pelo menos entre as empresas. Embora haja uma grande quantidade de desenvolvimentos realizados nesse formato, escolhemos o da miniestaquia, por ser um caso típico de interação e sinergia e por ser uma técnica que revolucionou a forma de clonar árvores superiores de espécies florestais.
Os primeiros passos em direção ao desenvolvimento dessa técnica foram dados quando trabalhamos na Bioplanta, uma empresa de biotecnologia, que também era voltada à clonagem de espécies agrícolas e frutíferas. Foi lá que as primeiras discussões e os primeiros testes foram realizados. Discussões com pessoas de elevado nível científico, como a Dra. Linda Caldas (in memoriam), Dr. Dário Grattapaglia, Dr. Rui Caldas, Dr. Márcio de Assis, Dr. Marcos Paiva e Dr. Marcos Machado, consolidaram a percepção dos conceitos de fisiologia da propagação, que começaram a ser implementados na clonagem do eucalipto.
A ideia era tentar desenvolver uma técnica mais eficiente, sobretudo na produção de propágulos em espaços menores do que se utilizava até então. Nessa época, já se iniciava a utilização dos jardins clonais de campo, que era uma evolução em relação às áreas de multiplicação clonal usadas no início da clonagem no Brasil.
Foi testada a produção de propágulos diretamente de mudas clonadas por micropropagação, a partir das plantas nos tubetes. As caixas de mudas eram colocadas sobre camalhões de terra bem fertilizada para permitir o acesso das raízes, que saíam das bases dos tubetes, ao solo fertilizado. As mudas eram podadas, e seus rebrotes, utilizados como fontes de propágulos.
Os resultados iniciais foram animadores, mas, na iminência da paralisação das atividades da empresa, fomos para o Rio Grande do Sul trabalhar na Riocell. Foi na Riocell que o desenvolvimento da microestaquia ganhou corpo. A Riocell possuía um laboratório de micropropagação, e todas as mudas que eram plantadas nos jardins clonais vinham de mudas micropropagadas.
Então, chamou a atenção que o enraizamento das plantas no laboratório era 20 pontos percentuais maior do que das estacas coletadas no jardim clonal de campo, embora viessem dos mesmos clones e de plantas geneticamente idênticas. Daí se concluiu que o simples fato de plantar as mudas no campo e manejá-las para produzirem brotos estava reduzindo o potencial de enraizamento obtido no laboratório. Dessa forma, se imaginou que a alta predisposição ao enraizamento obtida nas mudas micropropagadas estava sendo perdida e que, se as brotações fossem obtidas diretamente das mudas micropropagadas, essa perda poderia ser evitada.
Assim, foram realizados vários testes utilizando miniestacas apicais das mudas enraizadas, contendo dois pares de folhas mais o ápice, bem como as brotações que apareciam após a poda. Esses testes começaram a comprovar que o potencial de enraizamento obtido nas mudas do laboratório poderia ser recuperado com esse procedimento. Isso foi a sinalização de que se poderia melhorar significativamente o enraizamento, além de abrir a possibilidade de criar um sistema mais intensivo de produção de brotos para o enraizamento operacional.
Com os decisivos apoios, suportes e incentivos do Dr. Celso Foelkel, Eng. Jorge Gonzaga (in memoriam), José Totti e Renato Rostirolla e a ajuda dedicada de Norberto Jardim (in memoriam), Osmar da Rosa e João Bauer, vários trabalhos foram desenvolvidos, no sentido de viabilizar comercialmente o uso da miniestaquia.
Inicialmente, a produção de propágulos era feita podando as mudas enraizadas no laboratório e cultivadas em tubetes. O ápice da muda e, posteriormente, suas múltiplas brotações, constituíam a fonte de propágulos para a clonagem operacional. A fertirrigação, para manter a capacidade de produção de novos brotos, era feita a céu aberto.
Os próprios tubetes eram os minijardins clonais. Em 1994, na Riocell, foram plantados os primeiros 400 ha utilizando mudas de eucalipto produzidas por essa técnica, o primeiro do mundo. Em 1996, foram produzidas 1.000.000 de plantas por miniestaquia de mudas juvenis de famílias de Pinus taeda, mostrando que a miniestaquia poderia ser viável em outros tipos de espécies florestais.
Muito importante destacar que nunca se procurou obter patentes, ou esconder de quem quer que fosse, o que viria a ser uma verdadeira quebra de paradigma na clonagem de espécies florestais. Sempre foi compartilhada, como em cursos sobre clonagem de eucalipto ministrados em universidades e em encontros técnicos florestais. Esse descobrimento também era compartilhado com todos os visitantes, sem nenhuma omissão dos aspectos positivos e os detalhes envolvidos na concepção daquela nova forma de clonagem. Isso foi fundamental para o desenvolvimento desse sistema robusto, que possui vantagens técnicas, econômicas e ergonômicas em relação ao sistema de macroestaquia, utilizado até então.
Na International Paper (Champion, na época), o Dr. Aloisio Xavier, João Comério e Eduardo Campinhos, entre outros, juntamente com a equipe de pesquisa da empresa, desenvolveram os minijardins clonais de subirrigação por inundação temporária, que foram utilizados por algum tempo e adotados por outras empresas do Brasil e do exterior.
Desde a consolidação da microestaquia e da miniestaquia, o Ipef por intermédio do Edson Higasi (in memoriam) e do Ronaldo Luiz da Silveira, com orientação do Prof. Antônio Natal Gonçalves, realizava vários estudos sobre diferentes tipos de minijardins clonais. Esses estudos culminaram no estabelecimento dos minijardins clonais em leito de areia, apoiados em hidroponia (canaletões de areia).
A melhor condição nutricional das minicepas foi fundamental para se ter maior taxa de multiplicação e de enraizamento. Esse sistema se tornou o mais utilizado pelas empresas e, até hoje, tem sido predominante na clonagem por miniestaquia. Na UFV, o Prof. Aloisio Xavier orientou várias teses, que ajudaram a aperfeiçoar a miniestaquia como método de clonagem. Ivar Wendling também ajudou no seu aprimoramento e expandiu seu uso para outras espécies arbóreas.
Atualmente, a miniestaquia é utilizada em quase todos os sistemas de clonagem de eucalipto no mundo. Também tem sido utilizada em várias outras espécies florestais, como teca, acácia negra e mogno africano. Portanto esse é um exemplo de que a sinergia entre pessoas, empresas, instituições de ensino e pesquisa pode ser uma poderosa ferramenta no desenvolvimento técnico em fases pré-competitivas dos negócios florestais.