Tive o privilégio de estar envolvido na história da mecanização das atividades de colheita no Brasil desde o final da década de 1980. Naquele momento, houve o firme propósito das empresas florestais em mecanizar todas as atividades de colheita florestal, de forma a reduzir drasticamente os acidentes de trabalho, reduzir a dependência de mão de obra e forçar a capacitação técnica dos trabalhadores para desempenharem outras funções mais nobres e mais técnicas, e não somente o trabalho braçal, e também reduzir os custos de colheita, mesmo que ocorressem no médio prazo.
Com isso, houve um crescimento do nível salarial, o que possibilitou a uma imensa massa de trabalhadores florestais o acesso a uma vida melhor e mais digna. As empresas que lideraram esse processo não tiveram visão imediatista quanto aos resultados a serem obtidos.
Investiram e apostaram em máquinas e sistemas, ajustaram continuamente, para nossa realidade, a tecnologia em máquinas existente em outros países até encontrar a melhor relação de custo/m3. O processo de redução de custos e ganhos em eficiência continuam constantes e, felizmente, o avanço da mecanização da colheita continua firme e forte.
O propósito inicial desse processo, iniciado na década de 1980, transformou-se em um case de sucesso, e é possível estimar que, pelo menos, 90% de toda a colheita florestal em áreas de reflorestamento são totalmente mecanizadas. Além das atividades de colheita, houve significativos avanços no transporte de toras, com caminhões mais eficientes e com inteligentes soluções de reboque e semirreboque, nas operações de carregamento e nas operações de descarga e movimentação em pátio.
Agora é a vez da silvicultura. Graças à tecnologia da informação e às inúmeras tecnologias em máquinas e equipamentos atualmente disponíveis, estou certo de que a curva de aprendizagem poderá ser mais curta, e não iremos repetir os erros do passado. A grande maioria dos profissionais que atuou no processo de mecanização da colheita continua firme e forte no mercado, podendo contribuir significativamente para o novo desafio que será a mecanização plena da silvicultura.
É imperativa a mecanização de todas as atividades da silvicultura a fim de também transformar subemprego em emprego digno e adequadamente remunerado, objetivando a redução de custo por hectare no médio prazo. Tanto na década de 1980 como nos dias de hoje, não cabe o imediatismo no resultado.
Por outro lado, também creio que não cabe aguardar pela solução final ideal, que talvez demore muito a chegar. Hoje em dia, existem vários fabricantes que oferecem diferentes tecnologias em desenvolvimento contínuo, porém ainda não existe nada realmente consolidado. Sempre há algo a melhorar, sempre há algo a mudar nos equipamentos e nos processos.
É preciso uma união de esforços para reduzir o tempo de maturação do desenvolvimento e realmente permitir o avanço da mecanização e a implementação da automação em todas as atividades de silvicultura. Cada área é única. Dentro da mesma empresa, com mesma topografia, dentro do mesmo estado, porém, com tipo de solo diferente, é necessária uma tecnologia específica.
Nenhum equipamento é 100% aderente a todas as situações. Há que desenvolver, e desenvolver em conjunto. Tecnologias já existem. Precisam ser adaptadas à nossa realidade. Essa adaptação pode levar muito tempo, ou pouco tempo, dependendo do real interesse e da disposição das empresas florestais em efetivamente participar e atuar como agente transformador.
O desenvolvimento, assim como os resultados iniciais que irão animar ou não a empresa florestal a continuar, não pode ser de responsabilidade exclusiva dos fabricantes de máquinas e implementos e nem dos prestadores de serviço. Deve haver também interesse das empresas florestais em ousar para baixar custos.
Podemos ver exemplos em países vizinhos onde o grau de mecanização da silvicultura é maior que o nosso, devido a usuários e fabricantes estarem caminhando lado a lado com o mesmo objetivo. As principais atividades da silvicultura, conforme dados apresentados por grandes empresas florestais, são irrigação, preparo de solo (limpa-trilhos/subsolagem/adubação) e plantio.
Já existem inúmeras soluções de máquinas e equipamentos com maior ou menor grau de automação para cada uma dessas atividades. Mas a indústria não decola. Por quê? O investimento em máquinas florestais para colheita é na casa dos milhões, o investimento em equipamentos de silvicultura é na casa de milhares, e, mesmo assim, o setor hesita e mantém a busca pelas adaptações caseiras, ou deixam a cargo de cada prestador de serviço criar suas próprias soluções, com o trinômio baixa tecnologia, baixo valor, baixo rendimento.
Tecnologias de GPS aplicadas ao preparo de solo e ao plantio estão quase prontas, drones estão disponíveis para inúmeras atividades, entretanto acredito que falta fazer o básico na escala da mecanização. Para o adequado avanço da mecanização e da implementação da automação nas atividades, é necessário planejar as etapas da mecanização, considerando quais equipamentos já estão disponíveis com nível tecnológico adequado a esse momento e aguardar o desenvolvimento tecnológico futuro.
O perfeito e o ideal ainda estão distantes. Na comparação da realidade atual das atividades manuais e o avanço da mecanização, o básico e simples é o ideal. Um passo de cada vez, um salto de cada vez é necessário para não desestimular a mecanização. Já existem, atualmente, soluções técnicas muito viáveis, as quais estão vários passos à frente das atividades manuais; cabe ao setor florestal, como um todo, no qual eu me incluo, cancelar a espera pela chegada da solução ultra high tech e partir para o simples e para o básico, para permitir o real avanço da mecanização e ajustar a automação desejada aos níveis necessários.