No sul da Bahia, na chamada Costa do Descobrimento, vivenciei as profundas mudanças trazidas pela implantação de um empreendimento de silvicultura e indústria de celulose, a Veracel Celulose. O complexo envolve o cultivo de florestas plantadas há 30 anos, e a operação de uma unidade industrial de produção de celulose, em funcionamento há 20 anos, responsável por abastecer mercados nacionais e internacionais.
Desde então, o empreendimento tem contribuído significativamente para o desenvolvimento socioeconômico local. Segue gerando novas oportunidades de emprego e renda, incentivando proprietários de terras a se tornarem produtores florestais e diversificando a base econômica regional, o que contribuiu para a descentralização da posse e do uso das terras.
Além dos impactos diretos na cadeia produtiva, a presença deste empreendimento contribuiu para fomentar a expansão do comércio, a instalação de novas instituições de ensino (escolas e universidades), a ampliação da rede hospitalar com diferentes especialidades, o surgimento de laboratórios, a modernização da rede hoteleira e o crescimento da infraestrutura urbana. Somados, esses fatores resultaram na dinamização econômica nas cidades da região, atraindo investimentos e promovendo a melhoria das condições de vida da população local.
Conhecer detalhadamente os impactos do empreendimento, bem como os riscos e oportunidades associados à sua presença no território, é essencial para a definição de estratégias de gestão e governança. A partir dessa leitura da realidade, torna-se possível estruturar um modelo de atuação empresarial que seja eficiente e capaz de responder às demandas sociais, econômicas e ambientais.
Empresas do setor de florestas plantadas para produção de celulose possuem alcance global, geram oportunidades, promovem diá-logo e contribuem para o desenvolvimento sustentável, articulando a governança. Devido à sua complexidade, aos custos envolvidos e à necessidade de perenidade, esses empreendimentos não podem se isolar de seu entorno.
Ao contrário: precisam desenvolver práticas socioambientais responsáveis e reconhecer as comunidades como parte integrante. Assim, as comunidades locais passam a ser reconhecidas como atores relevantes, parcerias e relações de confiança são estabelecidas, universidades e centros de pesquisa colaboram no conhecimento, políticas públicas são articuladas, fóruns de diálogo são estruturados, e acordos são firmados com foco no desenvolvimento coletivo.
Para garantir a continuidade e viabilidade do negócio a longo prazo, é necessário mapear o território de atuação, identificar suas potencialidades e desafios, articular parcerias com setores público e privado e sociedade civil, além de construir estratégias conjuntas para enfrentar as principais necessidades que possam surgir.
A partir disso, vale salientar que as certificações são instrumentos fundamentais para assegurar a sustentabilidade dos empreendimentos florestais, pois exigem o cumprimento de princípios, critérios e indicadores que abrangem desde a conformidade legal até a forma de manejo das florestas, as relações estabelecidas com a sociedade e os resultados socioambientais gerados.
No aspecto ambiental, o empreendimento promove a articulação de fóruns e a mobilização de diferentes atores para o debate e tratamento de temas críticos que afetam a biodiversidade, tais como mudanças climáticas, alterações no uso do solo, queimadas, poluição e uso inadequado de defensivos agrícolas.
Paralelamente, são incentivadas iniciativas que contribuem para a conservação ambiental, como a restauração de áreas degradadas (essenciais para a recuperação de habitats), a proteção da fauna e da flora, a implementação de sistemas agroflorestais que favorecem a produção de alimentos mais saudáveis, além do cultivo de espécies perenes e práticas agrícolas sustentáveis. Tais ações, quando conduzidas de forma responsável e integrada, têm potencial para mitigar impactos ambientais e promover benefícios duradouros para os ecossistemas e para a sociedade.
Os ativos florestais podem ainda ser compartilhados com as comunidades para o desenvolvimento de atividades complementares, como a apicultura, promovendo serviços ecossistêmicos relevantes.
A manutenção de ambientes florestais saudáveis garante a sobrevivência de polinizadores como as abelhas, fundamentais para o equilíbrio dos ecossistemas e para a segurança alimentar global. A perda desses insetos comprometeria a disponibilidade de alimentos, afetando toda a cadeia trófica, desde herbívoros até carnívoros, gerando impactos diretos na produção agrícola e na estabilidade das indústrias e das populações humanas.
No aspecto social, destaca-se a necessidade de promover não apenas crescimento econômico, mas também o desenvolvimento inclusivo e sustentável das comunidades. Isso exige o reconhecimento das instituições sociais locais, seu fortalecimento técnico e estrutural e sua participação ativa nos processos de decisão e execução.
São diversas as iniciativas de investimento social em parceria com as comunidades, abrangendo não apenas ações voltadas à mitigação de impactos operacionais, mas também programas planejados e estruturados para atender a grupos organizados juridicamente e à coletividade em geral. Essas iniciativas incluem a promoção da inclusão social por meio de processos produtivos, capacitação profissional, geração de renda e fortalecimento da agricultura familiar.
Também abrangem a utilização compartilhada dos ativos florestais com as comunidades, seja para a produção de alimentos, seja para outras finalidades, o fortalecimento das instituições sociais, a preservação e valorização da cultura das comunidades tradicionais, além de melhorias nos setores de educação, cultura e saúde.
Adicionalmente à atuação dos empreendimentos, criam-se oportunidades de acesso à terra e a introdução de tecnologias modernas, aliadas a assistência técnica e sistemas de monitoramento, permitindo melhores resultados econômicos e sociais e incentivando a permanência das famílias no campo com qualidade de vida. Ao articular diferentes atores, compartilhar informações e fomentar a educação, esses empreendimentos contribuem para a formação de cidadãos mais conscientes, engajados e preparados para uma atuação preventiva e proativa, assegurando a manutenção da vida e a sustentabilidade no planeta.
Nada do que fazemos pode ser considerado sustentável se não fizer sentido para as pessoas.