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Leo Kaufman Dias Baptista

Engenheiro da Rewood - Soluções Estruturais em Madeira

OpCP65

A construção em madeira vem aí e vem para ficar

Sou engenheiro civil atuante no setor da construção como projetista, calculista e responsável por obras em madeira (em especial, madeira laminada colada) como integrante da equipe Rewood. Trago discussões acerca do tema “densidade da madeira” sob dois pontos de vista atualmente contraditórios, talvez um tanto distantes, mas que buscam um objetivo comum. O primeiro, como projetista, o segundo, como fabricante.


A densidade é o principal parâmetro projetual para quem trabalha com madeira. Ela é diretamente relacionada à resistência e ao módulo de elasticidade da espécie escolhida para o projeto. Esses dois são constantemente lembrados durante a etapa de cálculo estrutural, mas também existem parâmetros bastante importantes relacionados com a densidade, de forma menos direta, como “defeitos” (nós, fendas, abaulamentos, fibras reversas, etc.), trabalhabilidade, tratabilidade, coloração, entre outros.


Algumas espécies de madeira podem ser adequadas para vencerem certos vãos, garantirem alturas de peças (terças, vigas, tesouras, etc.) condizentes com projetos, reduzirem-se deformações ou garantir desempenho e durabilidade “X”.


Frente a tamanha gama de parâmetros (expresso aqui meu primeiro ponto de vista, como projetista), se encontra o verdadeiro potencial da construção civil no Brasil. Não há no mundo tamanha variedade de espécies como as encontradas neste País (algumas delas, inclusive, com densidades superiores a produtos engenheirados e altamente manufaturados que estão “na moda” no exterior). Não há país onde as árvores cresçam rápido como aqui.


O potencial brasileiro reside na variedade e na diversidade das suas espécies, e o setor da construção civil possui todas as ferramentas para acompanhar essa guinada que é a busca pela sustentabilidade objetivada no mundo, se passarmos a utilizar conscientemente a madeira no setor.


Historicamente, a construção com madeira no Brasil é marcada pela utilização de espécies até a sua exaustão. Espécies que estavam em alta e que tinham as propriedades conhecidas eram utilizadas até se tornarem extintas, ou em risco de extinção. Para contornar esse aspecto, a norma NBR 7190, Projetos de estrutura de madeira (1997), propôs a divisão das madeiras em função da sua classe de resistência.


Pois também algo que acontece com certa frequência é a falta de especificação, ou erros durante essa etapa de projeto. A classificação das espécies em função da sua resistência permitiu a utilização de uma maior gama de espécies, uma vez que se era possível a obtenção de diversos parâmetros de cálculo necessários de uma espécie pouco conhecida em comparação com sua classe de resistência. Observou-se, também, a direta ligação dessas propriedades com a densidade das espécies.


Para estabelecer um contraponto, explícito a minha perspectiva sob a óptica de fabricante.

Sobre a MLC, madeira lamelada colada (termo mais correto que “laminada”), aos não familiarizados, discorro um pouco sobre o assunto. Trata-se de uma técnica relativamente antiga, com pouco mais de 100 anos, onde uma lamela é colada a outra, sob pressão, na direção paralela às fibras da madeira, permitindo a criação de elementos lineares com seções e comprimentos muito maiores (teoricamente infinitos) do que os “obtidos” diretamente da natureza. 


Usualmente, a MLC é utilizada para vencer vãos maiores e utilizar de seções mais robustas quando comparadas a obras que utilizam madeira serrada. O advento das tecnologias de colagem permitiu o desenvolvimento da técnica, porém as recentes tecnologias de conectores (chapas, parafusos, etc.) permitiram interfaces com outros sistemas e a extrapolação dos limites já imaginados para construções com madeira.


Somos uma das poucas empresas a produzirem MLC no mercado brasileiro. Ela é feita em processo industrial, sob rígidas normatizações e controle de qualidade, sob demanda e praticamente pronta para sua instalação em obra. Um dos valores da empresa é a busca pela diversidade, realizando colagem tanto de pínus, quanto de eucalipto, com destaque para Pinus oocarpa, Pinus taeda, Eucalyptus grandis e Eucalyptus urograndis.


Existem necessidades inerentes por se tratar de um processo industrial. Constância e velocidade no fornecimento, quantidade, homogeneidade e qualidade da madeira (ausência de “defeitos”) são algumas delas.


Esses são os principais motivos que explicam a utilização de apenas (esses) dois gêneros na fabricação da MLC.


Outros motivos que explicam a utilização de poucas espécies quando falamos em produtos industrializados são os relacionados à adaptabilidade das tecnologias e à sequência/seriação da produção. A cola é desenvolvida para espécie “X”, o tempo de cura, a pressão aplicada durante a colagem e o tamanho das emendas variam em função da espécie utilizada.


Não que seja impossível a utilização de espécies diferenciadas na fabricação da MLC, mas esta requer algumas mudanças importantes na essência do processo produtivo. Como inúmeros tipos de ensaios estruturais, desenvolvimento de diferentes tipos de adesivos, adequação dos métodos de colagem, tamanho das uniões, pressão aplicada, etc. E o mesmo é válido para outros métodos/sistemas construtivos, como CLT (cross laminated timber), NLT (nail laminated timber) e Woodframe, por exemplo. Sugiro a pesquisa sobre esses temas para os menos familiarizados com construções em madeira.


Um dos aspectos visados em construções em madeira é a estética. As características naturais e inerentes ao material, e suas variações, são capazes de transmitir sensações de conforto que são difíceis de ser explicadas.


A busca pela diversidade também é desejável, já imaginou uma peça de MLC em cores vibrantes como a da madeira de roxinho? Ou manchadinha, como a madeira de um angelim pedra? Quem sabe intercalar múltiplas madeiras para adquirir aspectos como as de uma caixa de lápis de cor?


Para concluir, é possível a utilização de uma maior variedade de espécies e, portanto, densidades nas construções com madeira? A resposta é sim. Porém, para que estas também sejam utilizadas em produtos industrializados, são necessários alguns passos extras. Além da experiência e testes – que são comuns aos pontos de vista –, são de suma importância regulamentações e normatizações para tal. Questões que permeiam entre os pontos de vista são: a busca pela segurança, durabilidade, redução de custos, popularização e sustentabilidade ao se construir com madeira. 


Os cuidados, os manejos e as necessidades das árvores plantadas para a construção são diferentes daquelas destinadas ao setor da celulose e papel. Esta última representou o maior percentual do mercado nos últimos tempos, mas fica o aviso: a construção em madeira vem aí e vem para ficar.