Diretor do Instituto Totum de Sustentabilidade
Op-CP-21
O conceito de sustentabilidade florestal não é novo. Em 1713, o alemão Hannss Carl von Carlowitz (1645-1714), capitão-mor de minas do Eleitorado da Saxônia, empregou pela primeira vez o termo Nachhaltigkeit, para defini-lo. No seu tratado Sylvicultura Œconomica, considerada a publicação pioneira totalmente dedicada ao manejo das florestas no continente europeu, mostrava-se preocupado com a escassez de madeira consumida como lenha ou nas minas de carvão.
E alertava que o volume de exploração não poderia ser superior ao potencial de renovação da mata, para garantir o seu “uso continuado e sustentado”. Dessa forma, o manual recomendava que só devesse ser retirado a cada ano, o volume de madeira correspondente ao produzido em período equivalente.
As ideias expressas por Carlowitz inspiraram os europeus a manejar suas florestas durante muito tempo. Foram, porém, relegadas a segundo plano, com o advento da Revolução Industrial, que buscava o desenvolvimento a qualquer preço, mesmo com o sacrifício dos recursos naturais.
A preocupação com sua conservação ressurgiria com força somente no século XX, assumindo um caráter mais amplo. Em 1983, foi criada a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, com o objetivo de reexaminar os principais problemas ambientais e formular propostas realistas para solucioná-los.
O documento final elaborado por essa Comissão, publicado em 1987, ficou conhecido como Relatório Brundtland (referindo-se à primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, que presidia os trabalhos na ocasião). Apresentava um diagnóstico da situação global e consagrou o uso da expressão “desenvolvimento sustentável”.
Manejo florestal sustentável: Observa-se que, ao longo do tempo, o conceito de sustentabilidade evoluiu, chegando aos dias atuais de forma mais ampla. No caso específico das florestas, inclui a ideia de que é preciso manter indefinidamente o fluxo contínuo de bens e serviços fornecidos para que as gerações sucessivas possam deles usufruir, em igual quantidade e qualidade.
Engloba, também, o uso múltiplo e integrado de seus inúmeros recursos. Além da madeira, outros bens e serviços passaram a ser considerados no seu manejo, como os recursos hídricos, a fauna e a própria flora, oferecendo inúmeras possibilidades de utilização. Em artigo sobre o assunto, professores da Universidade Federal de Santa Maria, RS, explicam que, inicialmente, o termo manejo considerava somente a produção contínua de madeira.
Com o tempo, evoluiu, envolvendo hoje o planejamento ecológico e econômico, em médio e longo prazo, condicionados à capacidade do sítio, à manutenção da qualidade ambiental e às leis do mercado. Dessa forma, uma das funções primordiais da exploração comercial das florestas é a preservação dos recursos naturais como um todo.
Para tanto, é preciso criar uma cadeia produtiva da madeira, que abasteça as indústrias e, ao mesmo tempo, crie empregos e renda, dentro dos rígidos princípios da sustentabilidade. Garantida a perpetuidade da floresta, pode-se pensar no seu manejo, otimizando a produção, ou seja, o volume do corte final, somado aos desbastes. É preciso considerar a dimensão e a qualidade das árvores a serem abatidas, pois as de maior diâmetro alcançam maior valor de mercado.
Dificulta também sua implantação a grande diversidade de espécies existentes nos vários biomas brasileiros, das quais apenas uma pequena parcela apresenta uso comercial conhecido, até o momento. Apesar de o aproveitamento econômico de inúmeros produtos da floresta ser prática corrente há séculos no País, ainda existe muita dificuldade para assegurar a sua sustentabilidade.
A maior parte dos projetos de manejo florestal aprovados pelo Ibama visa somente à produção madeireira de forma sustentada, não contemplando ainda outros ativos das florestas, como a obtenção dos produtos não madeireiros em escala econômica, que pode trazer grandes benefícios sociais.
Considera-se que o chamado manejo florestal de impacto reduzido favoreça a qualidade dos serviços. Além de retirar uma menor quantidade de madeira da mata, a derrubada das árvores é orientada de forma a não prejudicar os espécimes vizinhos. As operações de transporte são consideradas menos impactantes, principalmente, quando se é feito também um trabalho de monitoramento após a colheita, visando à regeneração da vegetação da área objeto de extração.