Professor de Pós-Graduação em Engenharia Florestal da UFPR e Presidente da Sociedade Brasileira de Sistemas Agroflorestais
Op-CP-23
Plantar árvores e, por extensão, florestas, seja em pequena ou grande escala, é considerado, atualmente, uma necessidade para grande parte da sociedade organizada. Governantes, empresários, acadêmicos e membros de organizações não governamentais convergem nesse propósito que, embora polarizado frequentemente por interesses distintos, é capaz de satisfazer demandas sociais, econômicas e ambientais, isoladamente ou em conjunto.
Nesse contexto, que aponta para o crescimento da base florestal plantada, a agrossilvicultura, mais conhecida pela expressão correspondente de Sistema Agroflorestal (SAF), e a política de fomento para produtores rurais pequenos e médios, no se que refere ao estímulo para o plantio de árvores em suas propriedades, estão naturalmente conectadas por um interesse comum: o componente arbóreo como base do processo produtivo.
Nos sistemas agroflorestais (SAFs), a árvore tem uma representatividade especial. É o componente que determina a estrutura, a efetividade e, na maioria das vezes, a duração da atividade. É, portanto, nessa concepção, o elemento norteador das diversas modalidades conhecidas de SAFs, tanto no seu planejamento, quanto no estabelecimento em condições de campo.
Em termos conceituais, SAF é a técnica ou prática de combinar deliberadamente, em sequência ou simultaneamente, espécies lenhosas perenes (árvores, palmeiras, bambuzeiros) e cultivos agrícolas, com ou sem a presença de animais, em uma mesma unidade de área, para produzir bens e serviços em bases sustentáveis.
Por suas características biodiversas, os sistemas agroflorestais, muitas vezes referenciados de maneira reducionista, enfocando-se apenas o seu valor ecológico, representam, por princípio, tecnologias produtivas de amplas possibilidades socioeconômicas e ambientais, capazes de atender a diversas expectativas daí decorrentes por parte do produtor rural e de sua família.
A atividade agroflorestal, além de possibilitar o atendimento de várias necessidades humanas no meio rural, como a obtenção de alimento, extração de madeira, fibras, óleos e produtos medicinais, pode proporcionar estabilidade e continuidade na oferta dos produtos ao longo do tempo.
O reconhecimento das possibilidades utilitárias dos SAFs, nos últimos anos, fez com que o seu uso fosse discutido como alternativa estratégica para diversas situações e condições, inclusive, para recuperação de áreas degradadas e diminuição do desmatamento no Brasil, foco este que tem sido priorizado nas políticas públicas direcionadas ao fomento florestal.
De fato, os sistemas agroflorestais podem efetivamente cumprir esse papel, desde que sejam amparados por financiamentos adequadamente oportunizados e orientação técnica apropriada. A oferta de multiprodutos escalonada no tempo, a perspectiva de garantia de segurança alimentar e o potencial para atender a mercados diferenciados fazem com que essa tecnologia de produção possa ser atrativa o suficiente para aglutinar pequenos e médios produtores em torno dessa importante tarefa nacional.
Por outro lado, considerando-se o caráter multidisciplinar dos SAFs, que agrega especificidades agronômicas e florestais, é necessário considerar a importância de um adequado planejamento participativo, com envolvimento de fomentadores e fomentados, forjado em sólidas bases técnicas e culturais, para minimizar os riscos e fortalecer as vantagens e benefícios da integração entre árvores, culturas agrícolas e/ou animais. Ressalto que apenas o potencial da tecnologia agroflorestal, por si só, não é suficiente para garantir o sucesso da atividade.
A viabilidade dos SAFs em relação ao desenvolvimento da base florestal plantada no Brasil, em particular com ênfase no pequeno produtor rural, depende da integração e equilíbrio das variáveis de natureza social, silvicultural, agronômica, econômica e ecológica.
Essa perspectiva, que visa compatibilizar o desenvolvimento econômico continuado do produtor rural, tendo como base a integração da cultura florestal e agrícola com a conservação ambiental, requer que a atividade permaneça estável, fornecendo os produtos e serviços desejados, para uso próprio e/ou venda, e, quando for o caso, lucrativa ao longo do tempo. O nexo que pode assegurar a manutenção desse processo está assentado tanto na oferta diversificada de produtos que o sistema potencializa, quanto na expectativa econômica daí resultante. Garantir essa possibilidade é a chave do sucesso.