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Wagner Itria Junior

Membro do Comitê Executivo da Amata

Op-CP-42

Sustentabilidade do negócio florestal
O ano de 2015 ficou famoso por ser o “futuro” do filme De volta para o futuro 2, sucesso nos anos 1980. Do filme, algumas tecnologias futurísticas ainda não chegaram a ser colocadas em prática, como carros voadores, mas a grande maioria é usada por todos nós, como TVs de tela plana, videoconferências, monitoramento por câmeras, biometria, tablets e internet – tecnologias que conectam.
 
Antes de viajarmos para o futuro da floresta plantada, vamos fazer uma conexão com o passado, elencando algumas mudanças que ocorreram nos últimos 20 anos no nosso segmento: o cultivo mínimo foi adotado pela grande maioria das empresas, abolindo o uso do fogo na limpeza de área pré-plantio; a abertura do mercado permitiu a importação de maquinário especializado para a colheita florestal; passamos a dominar as técnicas de produção de mudas clonais e micropropagadas; surgiram os adubos de liberação programada; as moléculas de químicos passaram a ser menos agressivas para o meio ambiente; os sistemas de trabalho foram adequados, visando à segurança e à ergonomia no trabalho; surgiram as certificações florestais; o uso de drones e outras tecnologias no campo são realidade; cresceram vertiginosamente as opções de cursos de graduação e pós-graduação, formando profissionais mais bem qualificados, etc. 
 
Quando conectamos tecnologia com as condições climáticas do Brasil a todas essas inovações, fica fácil entender o destaque que a floresta plantada tem no cenário mundial, especialmente devido à produtividade florestal. E o futuro? O setor de florestas plantadas, há muito tempo, pratica o planejamento de longo prazo, olhando para a frente 20 anos ou mais. Isso é fundamental para garantir o abastecimento das indústrias de base florestal, bem como refletir sobre a necessidade de compra de terras, ampliação de fábricas, investimentos e contratação de pessoal, entre outros.

O foco principal costuma ser a produção e as finanças, mas também é preciso planos para conectar a causa da empresa – a razão de sua existência, o seu why? –, com todos os envolvidos: clientes, acionistas, trabalhadores, fornecedores e moradores das comunidades do entorno das áreas de manejo. Essa conexão da causa, gerando e compartilhando valor, é que tornará o negócio sustentável. Sobre criar valor para os clientes, é preciso identificar qual é a “dor” do cliente.

Dor é algo maior do que necessidade. Não basta ter produtos com design inovador, tecnologias modernas e canais de atendimento – esses são itens que resolvem problemas internos. Temos que entender os problemas pelos quais o cliente passava antes de ter o nosso produto. Para isso, é necessário ter aproximação, saber ouvir, analisar e ter persistência para buscar a solução para a dor que o cliente sente, conectando-a com a causa da empresa. Às vezes, a causa é tão forte e evidente, que, ao olharmos para uma marca, enxergamos a causa da empresa.

 
Com relação aos acionistas, além da organização, garantir o atingimento das metas financeiras; torna-se cada vez mais importante um bom planejamento e um corpo de executivos bem alinhado ao Conselho de Administração, implementando e realizando as práticas da empresa, bem como trazendo transparência na divulgação dos resultados. Alinhamento das expectativas em busca da mesma causa é fundamental para atrair e manter investidores e investimentos no negócio florestal. Isso traz valor para o acionista, principalmente para aqueles que procuram investimentos de longo prazo, como são as florestas.
 
No aspecto das relações de trabalho, sejam colaboradores próprios ou terceirizados, o principal desafio do nosso setor é buscar uma solução que equilibre os avanços na qualificação do pessoal e as oportunidades internas de crescimento. O trabalhador típico do campo está envelhecendo. As novas gerações não são atraídas pelo trabalho básico, mais braçal. A primeira pergunta que um colaborador recém-chegado à empresa faz é “qual a senha do wi-fi?”.

A busca pela mecanização e automação das atividades de campo não é novidade. Os programas de avaliação de desempenho, bonificação e retenção de talentos variam pouco entre as diferentes empresas. Mais uma vez, a chave para o sucesso e o engajamento das pessoas é a conexão dos trabalhadores com a causa da empresa. É preciso selecionar os fornecedores que estejam alinhados com a causa, pois, cada vez mais, o fornecedor passará a ser uma continuidade da empresa. A responsabilidade socioambiental está sendo, cada vez mais, irradiada para os fornecedores.

 
Os consumidores estão, cada vez mais, preocupados com a origem das matérias-primas e impactos ambientais que os insumos possam trazer. A escolha de fornecedores somente pelo critério de preço está com os dias contados. A conexão com os moradores das comunidades do entorno das áreas de manejo deve ser realizada da mesma forma da conexão com os clientes: entendendo a dor.
 
As organizações terão que buscar formas de traduzir a dor das comunidades em programas e projetos sociais. Uma vez que as comunidades estiverem conectadas com a causa das empresas, deve-se reduzir a quantidade de iniciativas assistencialistas, pois ficará claro para as comunidades quais as razões da organização existir e como os projetos sociais estão alinhados aos interesses e às necessidades das duas partes. Uma frase atribuída a Peter Drucker diz que a melhor maneira de prever o futuro é construí-lo. As empresas do setor de florestas plantadas deverão investir esforços na construção de uma marca que conecte a sua causa com as demandas e as necessidades de todos os envolvidos no negócio.