Me chame no WhatsApp Agora!

Floriano Barbosa Isolan

Consultor Florestal

Op-CP-02

Rio Grande do Sul: novo site florestal mundial?

O mundo precisa matéria prima florestal: Há 4 anos, resolvi voltar a estudar o tema biomassa florestal, que havia deixado para trás nos anos 90, quando cumpria os últimos contratos de assessoria florestal, remanescente do apogeu dos incentivos fiscais para o Florestamento. Aquele foi um dos mais vitoriosos planos de desenvolvimento realizados pelo Governo Militar, pois com o plantio de mais de 3,5 milhões de hectares de florestas de rápido crescimento, diminuiu-se o ritmo do avanço sobre as matas nativas e criou-se uma forte base florestal, que deu suporte à indústria de celulose, papel e madeira do Brasil.

Acompanhando matérias sobre o cenário florestal, verifiquei que estávamos realmente entrando no anunciado apagão florestal mundial. Cada vez que a China aumenta 1 kg o consumo per capita, cria-se mercado para uma nova indústria de celulose, com a capacidade de produzir 1 milhão de toneladas/ano. O hemisfério Sul é a bola da vez.

A decisão tomada pelo governador Rigotto: No Brasil, onde se consome 300 milhões de metros cúbicos de madeira e a floresta plantada só fornece uma terça parte, a situação ficou crítica. Assim, no RS, o Governador Rigotto, em 2003, apoiando proposta das entidades da cadeia produtiva de base florestal, tomou três iniciativas, que deram o start a uma revolução no Estado: Primeiro, contratou com a Universidade Federal de Santa Maria, os estudos para a formatação de um Programa Florestal para o Estado - em fase de conclusão.

Segundo, no início de 2004, determinou à sua Agência de Fomento Estadual e a seu braço financeiro, a CaixaRS, o estabelecimento de um projeto operacional que, aproveitando os recursos do Propflora/Bndes, atraísse para o Estado, pequenos, médios e grandes investidores para a base florestal. E, por último, criou um Arranjo Produtivo de Base Florestal, que, sob a Coordenação da CaixaRS, pudesse agrupar os agentes públicos e privados, para identificar gargalos e suas soluções.

Tive o privilégio de ser convidado, em convênio Fiergs/CaixaRS, para elaborar e coordenar o Plano de Financiamento Florestal Gaúcho – Proflora/CaixaRS, lançado em abril de 2004, onde, lastreado nas relações profissionais com dezenas de engenheiros agrônomos e florestais e a equipe técnica de analistas de projetos da CaixaRS,   aplicou-se cerca de 40% dos recursos nacionais do Propflora/Bndes, no Rio Grande do Sul.

Em cerca de 20 meses de funcionamento, o Proflora treinou mais de 60 engenheiros, aprovou mais de 300 projetos, com o plantio de 20 mil hectares de florestas, financiando R$ 28 milhões. O zoneamento ambiental florestal integrado está sendo elaborado pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente e as empresas estão recebendo o licenciamento florestal.

A chegada das empresas: Além da indústria de móveis da serra Gaúcha, verdadeiro case mundial, já existiam no Estado uma boa expertise florestal nas indústrias de celulose (Klabin/Aracruz, Cambara, Fibraplac, Seta, Tanac, Satipel e outras). Assim, logo após a Aracruz anunciar a ampliação de sua fábrica em Guaíba, a Votorantin anunciou grandes plantios na Região Sul.

A Stora Enso, a maior empresa do mundo no setor, também anunciou investimentos na Fronteira-Oeste. Outras empresas nacionais e internacionais estão concluindo estudos com vistas a sua implantação no Estado, como o caso da Masisa. Com o objetivo de combater as desigualdades regionais, o governo estadual está orientando as empresas para investirem na Metade-Sul do Estado, por ser a região com grandes vazios econômicos, excelentes condições de clima e solo, boa oferta de terras a preços razoáveis e receptividade pela comunidade fronteiriça. Também o superporto de Rio Grande, malhas rodoviária, ferroviária e hidroviária foram determinantes.

Produção florestal e sustentabilidade: Para um total de 15 milhões de hectares disponíveis e uma existência de 360 mil hectares de florestas plantadas, pretende-se dobrar essa base florestal em 10 ou 15 anos, para se alcançar 700 ou 800 mil hectares de florestas plantadas, isto é, cerca 3 a 3,5% da superfície da Metade Sul.

Ora, qualquer país que possui base florestal, ocupa 20, 30 e até 60% de seu solo coberto de florestas plantadas. Para o licenciamento ambiental, são exigidas as regras legais, isto é, demarcação e manutenção das APP - áreas de preservação permanente, reserva legal, restauração de áreas degradadas, anotação de responsabilidade técnica junto ao CREA, mapeamento com recursos de GPS, etc.

Atualmente, no Estado, para cada 1 hectare de floresta plantada, cria-se 1 hectare entre APP e reserva legal. Também é exigida a manutenção dos corredores de biodiversidade, plantios em forma de mosaicos, proteção de fontes de água e locais de valor paisagístico, etc. O Rio Grande do Sul está fazendo a diferença, isto é, provando que pode se desenvolver com o mínimo de impacto ambiental.

Também no Programa Florestal é previsto o desenvolvimento social das regiões onde estão sendo implantados os projetos, com ações de desenvolvimento social, isto é, escolas, postos de saúde e policial, estradas, segurança, formação de mão-de-obra, água, energia e transportes populares. As questões ambientais são amplamente analisadas no GTT Ambiental do APB Florestal-RS.

Registra-se também que, apesar de todo o conhecimento existente e o esforço desprendido pelas empresas e o setor público, ainda surgem críticas. O Rio Grande do Sul tem uma excelente experiência na área ambiental e todos os cuidados estão sendo tomados para a preservação cultural, social e histórica do povo Gaúcho.

Silvicultura de alta tecnologia: Por último, procura-se desenvolver um plantio de qualidade, onde são utilizadas as melhores mudas, técnicas de plantios e manejo adequados. O domínio sobre a hibridação e clonagem ainda não chegou a todos, porém, em poucos anos, os plantios gaúchos terão a maior tecnologia, podendo dobrar seus rendimentos.

A propósito, a média, que era de 20 mst/ha/ano para Pinus e 25 mst/ha/ano para Eucalipto, passou para 35 e 40 mst/ha/ano, respectivamente. O Incremento médio anual no Rio Grande do Sul é 10 vezes superior aos países da Europa. A introdução do sistema agro-silvipastoril tem possibilitado a criação de animais de forma integrada com a floresta, mantendo e incentivando a atividade de pecuária.

Aliás, as áreas tradicionalmente cultivadas com arroz, soja, trigo e milho são mantidas. O florestamento é proposto como uma nova moeda para o agronegócio. Enormes áreas estão sendo recuperadas e transformadas em APP’s. O Rio Grande do Sul será um estado que apresentará uma qualidade de vida econômica, social e ambiental das melhores do mundo.