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Waldir Ferreira Quirino

Analista Ambiental do Serviço Florestal Brasileiro

Op-CP-12

Podemos exportar biomassa para uso energético?

Acredito que o Brasil tem uma grande oportunidade de produzir mais alguns combustíveis de interesse internacional, além do etanol e do biodiesel. Temos vários tipos de resíduos vegetais, além dos resíduos madeireiros e florestais. Toda cadeia agroindustrial é grande produtora de diversificados resíduos vegetais, tais como resíduos de colheita, resíduos do beneficiamento, cascas, palhas, caroços, etc.

Primeiro, falta-nos uma estatística sobre a disponibilidade dos resíduos, assim como sua distribuição geográfica e suas características físicas e químicas. Para estabelecermos políticas públicas e estratégias para seu aproveitamento, são necessários dados sobre os resíduos, atualizados de forma dinâmica e continuada. Que organismo nacional poderia se ocupar desse trabalho e centralizá-lo?

O importante é que tenhamos esses dados e possamos atacar um dos maiores problemas relativo à valorização dos resíduos, qual seja, sua logística de coleta, processamento e distribuição dos combustíveis, além de alguns desenvolvimentos tecnológicos e gargalos, para produção de energia em escala. Segunda consideração, os resíduos necessitam de tratamento, de forma a evoluírem para a categoria de “combustível limpo” de biomassa.

Uma característica marcante dos resíduos vegetais é sua heterogeneidade, umidade elevada, baixa densidade e dispersão geográfica. Todas essas características em conjunto exigem uma estratégia bem elaborada para viabilizar sua valorização energética. Além disso, alguns resíduos podem estar contaminados com produtos químicos, tais como resinas sintéticas, produtos preservativos, colas, produtos de acabamentos ou excesso de produtos inertes (cinzas).

Alguns processos podem promover um tratamento de homogeneização dos resíduos vegetais. Um processo mais simples de homogeneização é picar, peneirar e secar. Permite obter cavacos ou resíduo particulado, facilitando transporte, estocagem, movimentação e alimentação mecanizada de caldeiras industriais. Outro procedimento, que difundimos há vários anos é a compactação, seja na forma de peletes ou briquetes.

Esses processos de compactação proporcionam combustíveis com densidades energéticas importantes, se comparados com lenha, carvão vegetal ou mesmo cavacos de madeira. São secos e muito adensados. Aqui, vem uma terceira consideração. Como são inúmeras fontes de resíduos vegetais, em conseqüência, serão diferentes produtos compactados, com diferentes características.

Então, pensando em grandes mercados, precisamos estabelecer classes de qualidade para nossos briquetes e peletes, assim como podemos estabelecer classes de qualidade para resíduos particulados ou em forma de cavacos. Acredito que teremos possibilidade de atender diferentes exigências, para diferentes utilizações energéticas.

A quarta consideração é com referência aos mercados interno e externo, relativamente aos nossos resíduos vegetais compactados. Ainda temos um grande mercado interno não atendido. Existe uma lacuna imensa entre demanda de biomassa tratada e/ou compactada e ofertada no mercado nacional. Com a crescente fiscalização sobre o comércio de lenha, aumentam as possibilidades de sua substituição por briquetes, ou mesmo peletes em caldeiras industriais.

Muitas indústrias não substituem suas caldeiras a óleo por biomassa tratada, por falta de garantias de fornecimento desses combustíveis alternativos. O BTU gerado por biomassa tem preço inferior ao BTU gerado por combustível fóssil, além do impacto ambiental muito mais positivo e capitalizável com marketing verde. Mas, também, é inegável que existe um mercado internacional ávido por energia limpa.

Essa energia, sem sombra de dúvida, pode ser nossa biomassa tratada e compactada, na forma de briquetes, peletes, ou até cavacos. Hoje, temos experiência, por parte de algumas empresas brasileiras, com exportação de cavacos, de briquetes e, em breve, com exportação de peletes. Os especialistas europeus reconhecem que não possuem biomassa suficiente para atender às suas políticas de substituição, propostas pelo “livro branco” da Comunidade Européia.

Vejo, em um futuro próximo, empresas integradas, especializadas em ofertar combustíveis de biomassa, de diferentes tipos: lenha, resíduos particulados, em forma de cavacos, secos ou torrados, compactados na forma de briquetes ou peletes, com diferentes classes de qualidade e para diferentes tipos de utilização (queima direta, gaseificação, ou em co-combustão com outros tipos de combustíveis, geração de eletricidade, produção de vapor industrial e outros).

Esse tipo de empresa terá capacidade para atender aos mercados interno e externo, além de poder atender também ao consumo doméstico e comercial. Para isso, é importante a classificação desses produtos e a organização de seus produtores. É necessário estabelecer normas de qualidade para os combustíveis sólidos de biomassa, principalmente briquetes e peletes e também que os produtores organizem-se em uma associação, que se defenda da “contrapropaganda” de pessoas ou empresas oportunistas, incompetentes ou inescrupulosas.

Essa associação permitiria o atendimento a contratos de grandes volumes e por longos prazos, geralmente para abastecimento de termelétricas. Em contrapartida, defendo ações de estímulo e facilitação de empreendimentos, para valorização dos resíduos vegetais, e da biomassa em geral, para produção de energia limpa. Defendo também maior apoio aos centros de pesquisa e desenvolvimento, para estudos e difusão das tecnologias de conversão da biomassa em energia. Dessa maneira, podemos até não mudar o perfil de consumo energético mundial, mas, sem dúvida, contribuiremos enormemente para atenuar o nível de emissões poluentes no planeta.