Na atual conjuntura, com a crescente demanda por produtos provenientes da agricultura e limitações para uso da terra em áreas com vegetação nativa, novas tecnologias são desenvolvidas para atender a essas necessidades. Nesse contexto, a iLPF emerge como importante estratégia para diversificação de empreendimentos agropecuários, por permitir maior eficiência de uso dos recursos disponíveis e maior flexibilidade frente a riscos mercadológicos e bioclimáticos, contribuindo para reduzir a degradação dos solos agricultáveis e o desmatamento.
Entretanto, a maior complexidade inerente à iLPF é uma condicionante que deve ser compreendida no momento da tomada de decisão. Por envolver três componentes (agrícola, pecuário e florestal), seja em consórcio, sucessão ou rotação, o planejamento e a gestão do sistema devem ser realizados de maneira mais cuidadosa do que em sistemas monoespecíficos ou tradicionais, exigindo um cabedal de informações técnicas e mercadológicas das cadeias envolvidas. A demanda por carne vermelha (bovina) deve aumentar em 40% até 2050, de acordo com padrões de 2005-2007, segundo a FAO, sendo que o Brasil apresenta condições favoráveis para ampliar sua produção e se firmar, definitivamente, como maior produtor mundial de carne bovina.
Porém, desde meados da década de 2000, o Brasil tem sofrido com barreiras não tarifárias impostas ao produto nacional, além das barreiras sanitárias em decorrência de focos de febre aftosa, bem como as relacionadas ao desmatamento associado à abertura de novas áreas para a pecuária e à degradação das pastagens, aumentando as exigências internacionais para produção de carne com melhor qualidade, gerando menor impacto ambiental durante seu processo produtivo, com destaque para a mitigação das emissões de gases de efeito estufa (GEE).
A partir de 2008 e, mais fortemente, de 2010, com o Plano ABC, o Governo Federal tem disponibilizado linhas de crédito voltadas especificamente para a iLPF, com o intuito de ampliar, em quatro milhões de hectares, até 2020, as áreas em uso com esse sistema e contribuir para a mitigação das emissões de GEE da agropecuária. Com esse incentivo, o nível de adoção da iLPF tem sido crescente nos últimos cinco anos. Alguns entraves, porém, que têm dificultado sua adoção, estão ligados ao desconhecimento de seus benefícios, das necessidades de recursos e de infraestrutura e, principalmente, da limitada capacidade de assistência técnica para o planejamento e a condução/gestão do sistema.
Do ponto de vista da diversificação de empreendimentos florestais, a iLPF contribui para ampliar as entradas de recursos financeiros a partir de produtos agrícolas e pecuários, mantendo um fluxo de caixa mais constante durante os diferentes ciclos produtivos. A introdução da lavoura, geralmente, ocorre em fases iniciais do sistema, enquanto o componente arbóreo não prejudica a produtividade das culturas com o sombreamento. A lavoura contribui para o adequado condicionamento do solo e, com a venda dos produtos agrícolas, permite amortização parcial ou total dos gastos com a implantação do sistema.
Após a fase agrícola, e quando as árvores atingem porte capaz de suportar animais em pastejo, a fase pecuária é introduzida, com uso de forrageiras tolerantes ao sombreamento. Para adequada condução desse sistema, o espaçamento entre fileiras ou renques de árvores deve ser função das dimensões do maquinário para semeadura e colheita da cultura agrícola. Já para a escolha do componente florestal, entretanto, deve-se dar preferência a espécies de rápido crescimento, com fuste retilíneo e estrutura de copa não muito densa e que produzam madeira para usos múltiplos.
Do ponto de vista da diversificação de empreendimentos pecuários, a introdução do componente florestal é uma importante estratégia para aumento da renda, decorrente da venda dos produtos florestais. Além disso, possibilita vários benefícios ambientais, dentre eles o sequestro de carbono, que permite a mitigação da emissão de metano pelo gado e que, indiretamente, tornam o produto de origem animal, no caso, a carne, mais atrativo para exportação.
Nesse contexto, a iLPF é utilizada, geralmente, para recuperação de pastagens degradadas, em locais onde as condições de clima e de solo são favoráveis. A produção animal pode ser mantida satisfatoriamente em sistemas de iLPF, desde que com uso de forrageiras tolerantes ao sombreamento, com o manejo adequado do pasto e com o planejamento de desramas e de desbastes das árvores para reduzir o sombreamento no sub-bosque.
Em locais com restrições para o cultivo de lavouras, entretanto, o sistema silvipastoril, que é uma modalidade de iLPF, de acordo com o marco referencial da Embrapa, pode ser uma opção viável e, nesse caso, com o uso de espécies arbóreas adaptadas a solos de menor fertilidade, como os eucaliptos. A produção por animal tende a ser maior em sistemas de iLPF, pelo melhor valor nutritivo da forrageira e pelo maior conforto térmico dos animais em pastejo proporcionados pelo sombreamento.
Com isso, espera-se melhor desempenho relativo com animais de maior exigência e produtividade, desde que atendidas as demandas por água e minerais, com adequado manejo sanitário e do pasto. Nesse sentido, o produtor pode contar com animais terminados em menor tempo e com melhor qualidade de carne. Entretanto, a produção por área pode ser diminuída em sistemas com maiores densidades de árvores, onde o sombreamento excessivo prejudica a produção do pasto e, consequentemente, a produção de carne.
Estudos desenvolvidos na Embrapa Gado de Corte indicam que, em sistemas de iLPF com 227 árvores de eucalipto por hectare, a produção de carne diminui, em termos relativos, de 100% para 85%, até o sexto ano após a implantação das árvores, em comparação a pastagens com apenas cinco árvores nativas por hectare e submetidas à mesma pressão de pastejo. Já em sistemas com densidades de 357 árvores de eucalipto por hectare, a produção de carne diminui de 85% para 62% em relação à mesma comparação anterior.
Apesar da diminuição da produção de carne por área, esses sistemas proporcionam produtos florestais para compor a renda da propriedade e, em médio prazo, apresentam melhores índices econômicos do que sistemas pecuários tradicionais. É importante considerar que sistemas de iLPF apresentam um nível de intensificação intermediário para produção de carne quando comparados a sistemas pecuários intensivos (sem árvores), com uso de irrigação e/ou submetidos a elevadas taxas de adubação anual.
Isso é decorrente da influência do componente florestal sobre o desenvolvimento da forrageira no sub-bosque. Assim, o manejo das forrageiras em iLPF deve ser mais criterioso, pois elas se encontram em grau de competição (com as árvores) mais elevado do que em monocultivo e em pleno sol, sendo que priorizam o crescimento da parte aérea em detrimento do sistema radicular e apresentam menor capacidade de rebrotação e resposta à adubação. Nesse sentido, deve-se procurar manter a altura de pastejo indicada para cada espécie/cultivar, para proporcionar maior acúmulo de reservas, favorecer a rebrotação e permitir uma produção de forragem satisfatória.
Nesses sistemas, dadas essas condições específicas, o manejo inadequado do pasto, como o superpastejo, tende a acarretar um processo de degradação mais acelerado. A iLPF, assim como todo sistema de consórcio que se baseia na sinergia entre seus componentes, deve ser entendida como uma estratégia para produção agropecuária com otimização de uso dos recursos, e não para maximizar a produção dos componentes envolvidos. Assim, pode ser utilizada em diferentes escalas no meio rural. Quanto à presençado componente florestal em sistemas pecuários, contribui para a melhoria do microclima do entorno e do conforto térmico dos animais em pastejo, para a conservação do solo e para a regularização do ciclo hidrológico, e o sequestro de carbono contribui para a mitigação das emissões de GEE.
Outro ponto relacionado ao componente florestal, ainda pouco explorado, é sua contribuição para a melhoria da beleza cênica da paisagem rural. Além disso, com a produção de madeira para o mercado ou para uso na propriedade, minimiza a pressão para uso de madeira nativa e contribui para diminuir o desmatamento. Esses serviços ambientais são considerados benefícios indiretos do sistema e ainda carecem de políticas públicas robustas de incentivo. Todavia, a crescente demanda por produtos agropecuários aliada à crescente conscientização ambiental, em escala global, tendem a projetar a iLPF a condições mais competitivas para o mercado global futuro, com reflexos positivos na conservação ambiental local.