Oficial Florestal Principal da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação
Op-CP-08
Muito se tem falado, nos últimos anos, sobre as vantagens competitivas e comparativas do setor florestal da América do Sul, em especial do Brasil e do Chile. Na realidade, isso se materializou com a consolidação de pólos de desenvolvimento florestal nesses países, o que aumentou a competitividade do setor florestal.
Mas, recentemente, observamos um crescimento exponencial do setor florestal de países outrora “observadores”, como o Uruguai, que de 30 mil hectares de plantações florestais, há cerca de 15 anos, hoje possui 800 mil hectares. Isso sem falar na Argentina, com mais de 1 milhão de hectares de plantações florestais, ou mesmo o Chile com seus 2,6 milhões de hectares.
Observamos que o crescimento desses pólos não foi acompanhado, em alguns países, por um crescimento proporcional da infra-estrutura necessária, como portos para escoamento da produção, estradas e facilidades de energia elétrica, porém esse é um assunto que não vamos abordar nesse espaço que dispomos.
Por outro lado, as mudanças tecnológicas e os meios de comunicação e cibernética, assim como uma maior consciência ambiental, foram forças impulsoras, que se desenvolveram de forma significativa em nossa região e possibilitam, atualmente, como nos países do hemisfério norte, maior interatividade entre os diferentes atores do setor.
Igualmente, não vamos voltar a descrever as nossas vantagens comparativas em clima, solos e tecnologia, já que essa é uma realidade que todos conhecemos e que tem sido discutida à exaustão pelos nossos expertos florestais. E não é por acaso que tantas companhias florestais têm deslocado os seus eixos de produção do hemisfério norte para o hemisfério sul.
Vejam, por exemplo, o mesmo caso Uruguaio que mencionei anterior-mente, que está implantando fábricas de papel e celulose, oriundas da Espanha, Finlândia, Suécia, e existe interesse de outros países, como a Itália ou mesmo os Estados Unidos. O eixo de produção e exportação do Uruguai está desviando-se, dramaticamente, da agricultura e pecuária, para o setor florestal.
Também não é por acaso que as exportações de produtos florestais de países como o Brasil e o Chile quase que duplicaram nos últimos anos. Esses países desenvolveram a capacidade de produzir produtos florestais com alto valor agregado, como papel, celulose e seus derivados, móveis, etc., a preços internacionalmente muito competitivos. E essa tendência continuará nos próximos anos. Inclusive, com a diversificação da matriz energética de países como Brasil e as inversões em outras fontes de energia, a competitividade do setor tenderá a crescer de forma exponencial.
Analisando-se as tendências e perspectivas do setor florestal da América Latina e Caribe e suas principais forças impulsoras, verifica-se, claramente, que os próximos anos serão de crescimento da produção, consumo e exportação para a maioria dos produtos florestais, embora isto não se processe de forma uniforme em todos os países.
Este fato fica claro quando analisamos as cifras da inversão estrangeira em nossa região, que passou dos 6,5 bilhões de dólares em 1994, para mais de 100 bilhões de dólares em 2006. Os benefícios comerciais derivados das vantagens comparativas (mais consumo, a menor preço) em geral, os acordos comerciais bilaterais e multilaterais, reforçam a credibilidade dos inversores nas reformas econômicas e o compromisso dos países, a favor do livre comércio.
Reverter agora essas reformas seria muito “perigoso” para os países, já que poderiam vir represálias comerciais, com perda das preferências adquiridas. Por tudo isso, é seguro que os países façam todos os esforços, no sentido de incrementar e manter o livre comércio regional e internacional, o que, por outro lado, aumentará o fluxo de inversões nacionais e estrangeiras, destinadas a comprar florestas nativas para produção e proteção sustentável e implantar novas plantações florestais para fins industriais, em especial papel e celulose.
Sobre este último ponto, prevê-se, até o ano 2020, que a área atual de plantações, em torno aos 12 milhões de hectares, poderia chegar aos 20 milhões, se o Brasil seguir com o seu ritmo atual de plantações, o que representará um crescimento superior aos 42%, concentrados especialmente nos países do cone sul, aumentando a produção, dos 303 milhões de metros cúbicos em 2003, para mais de 500 milhões de metros cúbicos em 2020, ou seja, um crescimento de mais de 75% no período.
E essas áreas de plantações atenderão, basicamente, às necessidades de ampliações e novos projetos industriais de grandes empresas de papel e celulose, e de outros produtos à base de madeira. Na realidade, o potencial biofísico para plantações florestais na região situa-se em torno aos 70 milhões de hectares.
As atuais políticas macroeconômicas favorecem o estabelecimento de plantações para produção, porém, será necessário que se examine bem a possibilidade de fomento cada vez maior da participação de grupos economicamente menos favorecidos, assim como novos esquemas de privatização. Por tudo isso, e com o aumento da demanda mundial por produtos florestais, verifica-se uma contínua necessidade do incremento do nível de produção, devido, não só ao crescimento econômico, como demográfico de muitos países.
O crescimento de algumas grandes economias, como a China e a Índia, terá um efeito importante na demanda mundial. Isso sem considerar que o mesmo Brasil é o quinto país mais populoso do planeta e o terceiro entre as economias emergentes, com um grande e potencial mercado doméstico. Se considerarmos os fatores internos importantes, que são as vantagens comparativas e competitivas do Brasil, observamos a razão do deslocamento do eixo de produção do hemisfério norte para o nosso.
E no caso do Brasil, esperam-se inversões superiores aos 15 bilhões de dólares, nos próximos 7 a 10 anos, só no setor de papel e celulose. Nesse caso, será de se esperar operações de fusões e aquisições, assim como a entrada de novos operadores externos no mercado regional. Estas ações deverão consolidar ainda mais a posição dos produtores, aumentando suas cotas de mercado e suas economias de escala.
As razões mencionadas explicam a razão dos interesses das indústrias de papel e celulose de emigrarem do hemisfério norte, para o hemisfério sul (especialmente América Latina e Ásia) e, sinteticamente, podem ser resumidas nos seguintes fatores:
a. disponibilidade de terras, a relativo baixo custo;
b. estabilidade econômica e política dos países;
c. políticas governamentais de incentivos à instalação de indústrias estrangeiras;
d. disponibilidade de mão-de-obra qualificada e de baixo custo comparativo;
e. clima e solos de boa qualidade, com incremento médio anual muito alto;
f. disponibilidade de tecnologia de ponta e excelentes profissionais;
g. Energia e custos de transportes, comparativamente mais baratos.
Contudo, muitos fatores devem ser analisados e nesses se encontram os ambientais. Sabemos que com as pressões ambientais, que existem especialmente nos países “desenvolvidos”, está cada vez mais caro a implantação e manutenção de grandes complexos industriais de papel e celulose.
Aliado ao custo da terra, custo de transporte e mão-de-obra, custo ambiental, e baixo incremento médio anual das plantações florestais, será cada vez mais difícil competir em um mercado em expansão e, portanto, será de se esperar que o “êxodo” aumente. Claro que toca aos países do hemisfério sul analisar criteriosamente até que ponto técnica-política-social e ambientalmente será, determinado investimento, comparativamente interessante para o país. Como sabemos, nem tudo o que reluz é ouro, e as coisas não ocorrem por acaso.