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Admir Lopes Mora

Consultor do IPEF

Op-CP-24

Material genético: o início das dificuldades

Nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, são encontradas florestas plantadas de pinus e eucaliptos com altas produtividades. A tecnologia utilizada atualmente foi desenvolvida ao longo dos últimos 40 anos, graças ao suporte de inúmeras pesquisas nas áreas de melhoramento genético, silvicultura e manejo. Estas, por sua vez, foram desenvolvidas por várias empresas florestais, normalmente em conjunto com universidades, institutos e centros de pesquisas.

Agora, com a nova onda de crescimento do setor florestal, a alternativa tem sido plantar em novas áreas das regiões do Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Nessas regiões, é possível adquirir áreas extensas e bem localizadas, onde se podem plantar florestas obedecendo aos requisitos legais e com a possibilidade de obter produtividades que garantam a viabilidade econômica do empreendimento.

A importância desses dois cenários para as pesquisas nos próximos 10 anos é destacada no Plano Estratégico do Ipef-2020. Entretanto, diferentemente do que aconteceu nas regiões Sul e Sudeste, está ocorrendo uma mudança abrupta dos programas de plantios em escala comercial, porém sem toda a base de pesquisa necessária.

Graças aos trabalhos efetuados por algumas empresas florestais ou industriais, foi possível identificar o potencial florestal produtivo de algumas dessas novas regiões, especialmente quando se utilizam clones de eucaliptos hibridados naturalmente ou através de polinizações controladas.

A primeira dificuldade de plantio tem início com a pergunta: que materiais devem ser plantados para abastecer uma fábrica de celulose? Por trás dessa pergunta, subentende-se que o interessado deseja plantar clones que tenham alta produtividade, resistentes a déficit hídrico, a pragas e doenças e que tenham boa aceitação pelas indústrias. Certamente, se a intenção for a produção de carvão, a resposta será diferente.

Atualmente, pode-se dizer que a utilização de boas fontes de sementes melhoradas é quase ignorada, visto que a heterogeneidade fenotípica ainda existente não agrada. Então, a maior preferência é pela utilização de clones, em sua maioria, facilmente reconhecidos pelos seus códigos e números.

Existem vários clones disponíveis no mercado que foram selecionados para determinadas regiões e que, certamente, após 12 anos de testes de campo, foram aprovados e atendem à maioria dos itens selecionados (crescimento, qualidade da madeira, resistência a doenças, déficit hídrico, etc).

Entretanto, não há garantia de que essas mesmas respostas sejam dadas em qualquer local, pois a lei básica do melhoramento genético (fenótipo = genótipo + ambiente + interação g x a) é valida para qualquer lugar.  Daí a preocupação dos melhoristas em estudar a estabilidade e a adaptabilidade de um determinado material.

Hoje, graças às tentativas ao acaso, descobriu-se que 10 a 15 clones selecionados em São Paulo, Espírito Santo, Bahia e Minas Gerais crescem bem em inúmeros locais do Brasil. Entretanto, de muitos clones que cresceram menos que o esperado ou que apresentaram algum tipo de doença, pouca gente sabe.

Definidos os materiais que serão implantados, antes de ir à compra deles, é importante saber se eles estão registrados no RNC (Registro Nacional de Cultivares). Com o objetivo de aumentar a diversidade genética e diminuir o risco de pragas e doenças, o ideal seria saber se há algum grau de parentesco entre esses materiais. Com isso, poder-se-á plantar mais clones e, ao mesmo tempo, evitar o plantio de clones iguais ou aparentados.

O próximo passo é identificar um produtor de mudas que possa fornecer os materiais selecionados em quantidade (nessas regiões os plantios se concentram em poucos meses) e com a qualidade desejada. Em função da demanda, muitos novos viveiros foram instalados nessas regiões e, mesmo assim, em muitas situações, tem-se recorrido à busca de mudas em viveiros distantes a mais de 2.000 km.

Nessas situações, a total atenção deve ser dada para atender a todos os requisitos dos tratamentos fitossanitários, a fim de evitar qualquer transferência de patógenos para essas novas regiões. Para finalizar, é importante ressaltar que os plantios comerciais em andamento também servem como uma fonte inesgotável de informações e de tomada de decisão.

Porém as pesquisas simples (introdução de novos materiais, seleção nos locais, testes clonais, adubações, espaçamentos, etc) e as complexas (por exemplo, como a do TECHS - Tolerance of Eucalyptus Clones to Hydric and thermal Stress) ainda precisam ser efetuadas ordenadamente nessas regiões. Daí, com certeza, a hegemonia do setor florestal brasileiro no segmento das florestas plantadas estará garantida.