Presidente da John Deere Brasil e da Rede de Fomento iLPF
Op-CP-31
O crescimento do agronegócio brasileiro, nos últimos anos, é um dos pilares do bom momento econômico vivido pelo País neste século. Para se ter uma ideia, desde 2000, a balança comercial do setor registrou superávit de US$ 481 bilhões. E esse cenário pode ser ainda melhor. Pesquisas apontam que o crescimento populacional deve aumentar a demanda por alimentos em mais de 70% até 2050.
Muito se fala da responsabilidade do Brasil nesse contexto, o que nos deixa diante de uma grande oportunidade e de um desafio ainda maior: produzir mais sem aumentar a área de cultivo. É aí que entra a terceira grande revolução da agricultura, a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF).
A primeira onda aconteceu quando o País aprendeu a dominar a agricultura nos trópicos e tornou o cerrado produtivo. Nesse momento, o Brasil passou a ganhar relevância mundial. A segunda começou quase inocentemente com a safrinha, quando a técnica de manejo conhecida como plantio direto começou a ganhar cada vez mais força.
O agricultor percebeu que, com um processo adequado, poderia transformar a entressafra em um período produtivo, em alguns casos, até mais produtivo que a própria safra. Isso nos coloca à frente no mundo do agronegócio, já que, nos Estados Unidos, nosso maior concorrente em produção, a safrinha não existe. Segundo dados da Conab, impulsionada pelo milho segunda safra, a produção nacional de grãos na Safra 2011/12 chegou a 185 milhões de toneladas e foi 11,3% maior que a safra anterior.
Agora chegamos à era da iLPF, que veio para quebrar paradigmas, trazendo à mesa interesses comuns de agricultores e pecuaristas. Busca-se diminuir distâncias entre as práticas e as diferentes necessidades de negócios da lavoura, da pecuária e da floresta.
É possível unir diferentes culturas, e o Brasil, mais uma vez, é pioneiro nessa tecnologia. Em uma mesma área e com o mesmo ativo de máquinas e pessoas, o campo brasileiro demonstra que pode produzir ainda mais.
A integração é tão profunda, que mexe com todo o sistema, permitindo a produção constante, de maneira ecológica e sustentável. Durante os seis anos de crescimento de uma floresta de eucalipto, por exemplo, podem ser criadas pastagens entre as linhas, onde os animais estarão confortáveis termicamente, enquanto todo o metano que se desprende das fezes dos animais é absorvido pela floresta.
As lavouras também se beneficiam dessa integração, uma vez que o eucalipto capta a água das chuvas e traz ao solo. Implementado, o iLPF rapidamente garante benefícios ao produtor, seja na redução do custo de produção por arroba de boi, no aumento da produção de leite, na melhora da matéria orgânica no solo ou na geração de empregos.
Quem pratica iLPF encontra uma excelente diversificação dos negócios do campo, conquistando lucratividade e excelentes margens de segurança em um setor normalmente sujeito a riscos e sazonalidades. É o caso da Fazenda Santa Brígida, em Goiás, que se tornou referência nacional no assunto.
Hoje, essa prática é recomendada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que criou uma linha de crédito para a agricultura de baixa emissão de carbono, e o compromisso do Brasil é ter 4 milhões de hectares de iLPF até 2020. Nosso dever é acelerar a transferência dessa tecnologia, levando conhecimento ao campo para que o agricultor produza mais, preservando o meio ambiente.
Para facilitar essa difusão, foi criada, inclusive, a Rede de Fomento em iLPF, uma parceria público-privada formada pela John Deere, Cocamar, Syngenta e Embrapa. Qualquer empresa que assuma o compromisso por, pelo menos, cinco anos pode participar, assinando um acordo de cooperação técnica com a Embrapa e trabalhando em conjunto à rede para o desenvolvimento desse conceito.
A John Deere investirá R$ 2,5 milhões no projeto nos próximos cinco anos, apoiando a rede em projetos e atividades que serão financiadas com esses recursos. A indústria do agronegócio precisa agregar valor às commodities brasileiras.
Produzir por meio do sistema de iLPF, além de geração de grãos e carne sem impactar negativamente na natureza, é pura sustentabilidade. Trazer conforto animal, aproximar a produção agrícola de meios sustentáveis ao utilizar o sistema iLPF, por exemplo, é agregar valor à nossa produção.
Essa é a verdadeira revolução que a agricultura brasileira precisa levar ao mundo. Não podemos tirar do Brasil essa oportunidade. Temos todas as condições naturais e tecnológicas para vencer o desafio de ajudar a alimentar o mundo.