A inovação tem sido um motor essencial para a evolução do setor florestal em escala global. Com desafios crescentes relacionados à sustentabilidade, eficiência produtiva e digitalização, a adoção de novas abordagens tecnológicas e estratégicas se tornou uma necessidade para garantir competitividade e resiliência ao setor.
Um artigo recente na Revista Opiniões do ex-Ministro da Agricultura Roberto Rodrigues chamou minha atenção ao destacar quatro fatores estruturais e trágicos que ameaçam a paz global, afetando indiscriminadamente cidadãos e governos. Ele os denominou "Os Quatro Novos Cavaleiros do Apocalipse": segurança alimentar, segurança energética, mudanças climáticas e desigualdade social.
Essa visão sistêmica ressalta que a inovação, por si só, é insuficiente se não for aplicada para superar os desafios do futuro dos cultivos florestais e agrícolas, os quais também são a solução para estas quatro situações.
Inspirando-se em modelos de inovação amplamente testados em outras indústrias, a silvicultura está se transformando por meio da integração de dados, automação e soluções biotecnológicas avançadas. A figura 1, adaptada de Hacco et all, destaca o percentual de utilização e as potencialidades do que poderíamos chamar de tecnologias digitais revolucionárias, em que várias delas se adequam ao setor florestal.
POTENCIALIDADE DAS TECNOLOGIA DIGITAIS REVOLUCIONÁRIAS:
A digitalização da silvicultura envolve a aplicação de sensores, Inteligência Artificial (IA) e análise de dados em tempo real para otimizar o manejo das florestas.
Ferramentas como drones e imagens de satélite estão permitindo a detecção precoce de pragas e doenças, enquanto algoritmos preditivos ajudam a estimar a produtividade, definir estratégias de colheita com menor impacto ambiental e realizar alocação clonal. A Internet das Coisas (IoT) aplicada às operações florestais possibilita o monitoramento contínuo da umidade do solo, crescimento das árvores e condições microclimáticas, promovendo uma gestão mais precisa dos recursos hídricos, nutricionais e do estoque de carbono.
Além disso, a adoção de blockchain pode garantir rastreabilidade total da madeira desde o plantio até a comercialização, conferindo mais transparência à cadeia produtiva. Já existe um modelo flexível de macrodados integrado às novas tecnologias para elevar a eficiência e a produtividade do manejo florestal, conforme a figura 2 da página seguinte.
ESQUEMATIZAÇÃO DA ARQUITETURA E CARACTERÍSTICAS DE UM ECOSSISTEMA DE MACRODADOS ASSOCIADO AO SETOR FLORESTAL:

A resiliência das plantações às condições climáticas, que se refere à capacidade de resistir à seca, calor, inundações, pragas e doenças, mantendo a produtividade, se destaca como o grande desafio de longo prazo. A inovação terá um papel fundamental para a sustentabilidade do setor.
O melhoramento genético florestal será essencial para selecionar plantas mais resilientes à escassez hídrica. Simulações já têm sido utilizadas para otimizar a seleção de características quantitativas, acelerar ganhos genéticos e aprimorar o uso de recursos. Tecnologias como genômica avançada, seleção assistida por marcadores (MAS) e edição gênica via CRISPR estão sendo empregadas para acelerar a identificação e incorporação dessas características.
A fenotipagem de alta precisão e o uso de big data e Inteligência Artificial permitem o desenvolvimento de sistemas de alocação clonal por meio de análises detalhadas do desempenho das árvores em diferentes condições ambientais, combinando material genético, tipo de solo e risco de déficit hídrico. Essas inovações, aliadas à hibridação e clonagem de indivíduos superiores, possibilitarão o desenvolvimento de clones que não apenas sobreviverão melhor a períodos extensos de seca, mas também manterão taxas aceitáveis de crescimento e produtividade.
A inovação bem-sucedida não acontece de forma aleatória, mas sim como uma competência sistêmica estruturada. Inovadores bem-sucedidos conduzem a inovação em torno de quatro grandes pilares:
1. Estabelecimento de uma agenda que antecipa tendências e oportunidades;
2. Gerenciamento do portfólio de inovações;
3. Design e escalabilidade das inovações;
4. Fomento contínuo à inovação.
Inovar passa a não ser uma escolha, mas uma necessidade estratégica. Embora o processo de inovação apresente desafios inerentes e a resistência natural das pessoas possa dificultar a mudança, construir um sistema humano adequado é fundamental para acelerar essa transformação. Ao percorrer os caminhos corretos e substituir mitos por métodos comprovados, o processo se torna menos árduo e mais eficiente, transformando desafios em oportunidades.
A inovação no setor florestal requer investimentos estruturados e mecanismos financeiros adequados para viabilizar pesquisas e a adoção de novas tecnologias. Empresas que desejam inovar devem alocar recursos de forma estratégica. Estudos sobre o assunto apontam que o modelo mais adotado pelas empresas compreende a seguinte divisão de investimentos:
• 70% em inovações incrementais, otimizando processos e reduzindo custos operacionais;
• 20% em inovações adjacentes, expandindo para novas práticas e segmentos de mercado;
• 10% em inovações transformacionais, apostando em tecnologias emergentes e novos modelos de negócios.
Empresas que estruturam um ecossistema de inovação aberto e colaborativo terão vantagem competitiva, acelerando a transição para um manejo florestal mais eficiente, regenerativo e conectado às demandas do futuro. Sendo assim, a inovação no setor florestal não deve se limitar apenas à adoção de novas tecnologias, mas envolver uma transformação profunda na forma como o setor se organiza e opera.
A inovação pode e deve atender simultaneamente às dimensões econômica, social e ambiental, sendo amparada por políticas públicas sólidas que orientem seu uso no processo de melhoria da competitividade industrial, promovendo a inclusão social, o desenvolvimento sustentável e a preservação dos recursos naturais para as futuras gerações. Portanto, alinhar inovação, sustentabilidade e governança não é apenas uma escolha estratégica, mas uma necessidade imperativa para garantir um futuro florestal próspero e equilibrado. O momento de inovar é agora, e o setor florestal tem todas as condições para liderar essa nova era de transformação.