Professora de Geoprocessamento e Doutoranda em Planejamento e Uso dos Recursos Renováveis da UFSCar, respectivamente
Com a disponibilidade de informação e tecnologias, existem palavras-chave que passam a fazer parte do nosso dia a dia. No setor florestal, como em outras áreas do conhecimento, muitas dessas palavras estão relacionadas às geotecnologias, visto a necessidade de se obterem dados de qualidade, precisos e georreferenciados.
Costumamos dizer que o mundo atual é georreferenciado, sendo os objetos associados a um datum e a um sistema de coordenadas. Essa demanda de referenciamento é, por sua vez, uma prerrogativa de um planejamento otimizado, sendo o sucesso relacionado ao conhecimento e ao controle das variáveis que compõem o sistema.
No setor florestal, o sistema é composto por variáveis que comumente interagem entre si e com o ambiente onde estão inseridas. Nesse sentido, saber onde será implantada sua floresta, onde as já existentes estão e, ainda, sua composição, bem como do ambiente em que ela está, passa a ser essencial para a tomada de decisão. Nesse cenário, como as geotecnologias são inseridas? Em que etapas do processo de planejamento podem ser propriamente consideradas?
Responder a esses questionamentos, contextualizando, as geotecnologias não é uma missão fácil, em especial quando se trata do setor florestal, visto seu histórico de incorporação diária de tecnologias de última geração. Corremos o risco de, enquanto estamos redigindo este artigo, estar sendo implementada em larga escala, em empresa do setor, uma nova tecnologia para a coleta, processamento, ou ainda, de análise ou disponibilização de informações referenciadas espacialmente.
Esse processo se iniciou com a automatização da cartografia, a qual, por longos anos, foi a base para a tomada de decisão. Os mapas analógicos foram sendo convertidos para o digital e disponibilizados para diferentes setores da empresa, subsidiando o planejamento que se iniciava com a implantação dos maciços florestais, considerando áreas importantes da fazenda que iam desde sua estrutura de funcionamento até a localização das reservas legais e áreas de preservação permanente. Passou, em seguida, pela questão da presença de estradas florestais, da otimização dos recursos, como solo e água, chegando ao planejamento para o corte final.
A base cartográfica continua sendo atualizada e subsidiada por diferentes tecnologias. Associada a ela, se tem, por exemplo, recursos como de Sensoriamento Remoto – SR, os quais, primeiramente, se resumiam a imagens com resolução espacial entre 20 e 30 metros, sendo utilizadas para mapeamento das fazendas florestais, dando suporte ao planejamento de implantação e manejo de florestas, tanto das suas áreas de floresta plantada como de florestas nativas. Planejamento baseado, portanto, no mapeamento do uso e cobertura do solo.
Com o incremento da resolução espacial dos sensores, as aplicações se ampliaram, em especial com o uso de sensores aéreos, como veículos aéreos não tripulados (VANTs) e os drones, que hoje são a novidade do setor. Um drone é capaz de coletar imagens de alta resolução em tempo real, com a resolução temporal definida pelo usuário.
Com a análise dessas imagens, é possível acompanhar as operações florestais de forma estratégica, identificando as necessidades de adequações no processo. Permite, ainda, o monitoramento de doenças, de falhas nos plantios, de áreas atacadas por pragas, deficiência hídrica do plantio, a presença de plantas daninhas, entre outros, o que auxilia na descrição da variabilidade da floresta e na melhora do seu manejo.
Seu uso no monitoramento das florestas está cada vez mais comum nas empresas do setor, e os resultados, além de maior eficiência, incluem a redução de custos e de trabalho de campo, utilizando outros equipamentos e métodos. Relacionado ao SR, não se pode deixar de mencionar o LiDAR (Light Detection and Ranging), o qual utiliza pulsos a laser para localizar objetos, diferente do sistema RADAR, que faz uso de ondas de rádio.
Em um primeiro momento, suas imagens eram utilizadas na elaboração de Modelo Digital de Elevação. Hoje em dia, podem ser utilizadas na mensuração e na determinação do volume individual das árvores. É um método estimativo, entretanto sua utilização não elimina as atividades de campo, visto a premissa de ajuste de modelos volumétricos.
A atualização da tradicional base cartográfica ganha, ainda, com o uso dos Sistemas de Posicionamento por Satélites (GNSS), dentre os quais o mais utilizado é o sistema GPS. As atividades passam a ser planejadas considerando a capacidade de coleta referenciada, através de equipamentos com precisão submétrica, que suportam diferentes etapas do processo produtivo no setor florestal, as quais foram sendo aprimoradas a partir daquela tradicional e, inicialmente exclusiva, que era a utilização de piloto automático em maquinário.
A agricultura de precisão aplicada à silvicultura, tendo receptores GPS de alta precisão associados ao maquinário florestal, vem sendo incorporada, cada vez mais, ao dia a dia do setor, dando suporte a um planejamento de etapas do processo produtivo. Na área de silvicultura, por exemplo, com sua capacidade de otimização de aplicação de insumos, a qual tende a ser de aplicação de insumo em taxa variável. Na colheita, tem-se o corte mecanizado, o qual suporta/suportará o mapeamento da produtividade de colheita, que, por sua vez, influenciará na otimização da etapa de baldeio.
A associação entre processo produtivo e dados georreferenciados tende a ser generalizada nas diferenças áreas de conhecimento, suportando a intervenção com base em informação obtida momentaneamente. Para isso, necessita-se de um robusto sistema de gerenciamento de dados referenciados, ou seja, de um Sistema de Informação Geográficas (SIG), os quais já estão presentes cotidianamente no setor florestal.
O SIG veio em substituição aos tradicionais sistemas cartográficos automatizados, sendo responsável por suportar diferentes bases de dados, as quais são diariamente atualizadas por meio das tecnologias mencionadas. Ainda, tendo a capacidade de agregar dados espaciais, de diferentes fontes e formatos, os quais podem ser espacializados e/ou modelados para subsidiar a tomada de decisão.
Seus produtos são a base para o planejamento de diferentes atividades e em distintos níveis, como na colheita florestal, o tático e o operacional. Nessa área de colheita, existe a questão do planejamento de estradas florestais, que, quando não são bem estruturadas e locadas, tornam-se fontes potenciais de impactos ambientais, principalmente os relacionados à dinâmica de água e de produção de sedimentos.
No ambiente SIG, se tem a possibilidade de definição de áreas críticas à sua locação, por meio de procedimentos que combinam e transformam dados espaciais e não espaciais (dados de entrada) em uma decisão (resultados). Em nossas atuais pesquisas (financiadas pela Fapesp), consideramos aspectos do relevo, da hidrografia e dos solos, os quais são integrados, formando um modelo de suporte à decisão.
Nesse modelo, mais importante do que saber onde estão as atuais estradas, é identificar aquelas que necessitam de manutenção e/ou serem inutilizadas. Isso, além dos locais que requerem a locação de um acesso. Lembrando que as estradas, além do escoamento do produto florestal, fornecem acesso a diferentes partes de uma floresta, integrando atividades, como proteção contra incêndio e pragas, plantio, além das operações de exploração madeireira. Assim, o reconhecimento da qualidade da rede viária integra o planejamento florestal.
Pode-se assim dizer que, com o uso das geotecnologias, há um incremento de qualidade do planejamento. Isso como consequência do melhor diagnóstico das áreas florestais que estarão sob diferentes atividades florestais, bem como do conhecimento previamente modelado de sua capacidade produtiva. Alia-se, ainda, à capacidade que se passa a ter dia após dia de tomar decisões com taxas variáveis para uma mesma área, o que contribui para melhorar ainda mais os resultados, otimizando os custos.