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Germano Aguiar Vieira

Diretor Florestal da Masisa

Op-CP-04

Fomento florestal: cultive esta idéia

A evolução do consumo de produtos de base florestal evidencia a eminente exaustão das atuais reservas e, conseqüentemente, a possibilidade de desequilíbrio entre oferta e demanda de madeira. Pois bem, sabemos que esse desequilíbrio fatalmente nos levará a ações não desejáveis, quais sejam paralisação de indústrias ou adiamento de suas ampliações por falta de matéria-prima, aumento excessivo do preço da madeira e, até mesmo, desmatamentos de florestas naturais, de alto valor para biodiversidade.

E qualquer solução que se desenhe para suprir essa demanda não seria viável ou sensata, sem a inclusão do pequeno e médio produtor rural neste modelo de desenvolvimento sustentável. Uma alternativa de suprimento de madeira, através de um programa de fomento de floresta, traz benefícios e vantagens para todos.

Para as empresas:

 

  • Integração das comunidades ao seu processo de produção de florestas;
  • Disseminação da cultura de árvores, base do seu negócio, e
  • Alternativa de suprimento, sem a necessidade de aquisição de terras.

Para o Parceiro florestal:
 

  • Mais uma alternativa de renda, trabalho e melhoria da qualidade de vida;
  • Recebimento de mudas de qualidade, insumos e recursos financeiros;
  • Mercado garantido para a colheita a preços competitivos;
  • Liquidez financeira;
  • Utilização das melhores práticas silviculturais, e
  • Uso de áreas ociosas e conseqüente agregação de valor à sua propriedade.

Para a sociedade:
 

  • Desenvolvimento econômico e social;
  • Geração de empregos e riqueza no meio rural;
  • Fixação do homem no campo;
  • Nova alternativa de agronegócio.

Para o Meio ambiente:
 

  • Aumento da consciência ambiental;
  • Redução da pressão sobre as florestas nativas, por meio do estímulo à silvicultura responsável e auto-sustentável;
  • Adequação ambiental e fiscal dos pequenos produtores rurais, e
  • Recomposição da mata ciliar.

Além das vantagens já citadas do programa, enfatizamos a existência de grande quantidade de áreas mal aproveitadas nas propriedades rurais, onde um zoneamento racional de uso da terra poderá gerar um retorno financeiro mais rentável para o produtor. Além disso, podemos citar que a silvicultura provê um emprego fixo a cada 12 hectares cultivados, enquanto a pecuária de corte necessita de 100 hectares.

Cientes que existem milhões de hectares já desmatados e improdutivos, podemos afirmar que a forma de uso da terra, voltada para a vocação de cada ambiente, nos levará a um desenvolvimento sustentável, baseado na silvicultura e aproveitamento de produtos madeireiros. No entanto, para que esse modelo se viabilize, torna-se imprescindível um ajuste da política governamental.

A primeira providência consiste em encontrarmos uma maneira de desburocratizar o setor e livrar o pequeno produtor de processos exaustivos de licenciamentos para plantar e colher árvores. Devemos também aumentar e simplificar as formas de financiamento florestal, seja ele vindo do Pronaf, Propflora ou outra modalidade adequada à cultura de longa duração, estabelecer políticas para desonerar o setor de taxas diferentes das outras culturas tradicionais, inserir o programa florestal brasileiro como alternativa de seqüestro de CO2 (protocolo de Kyoto), abrindo possibilidade de recursos para formação de florestas, que substituirão a utilização de florestais naturais.

E, por fim, criar e manter uma infra-estrutura para o escoamento da madeira das pequenas propriedades, até as indústrias consumidoras. O Brasil possui muitas vantagens comparativas e competitivas para produzir florestas, em relação a outros países, e isso fica claro quando comparamos o tempo de 28 anos necessários para se produzirem 1.000 m³ em um hectare, contra 70 anos de Portugal e 200 anos do Canadá.

Ora, isso incomoda muita gente lá fora e assim vai continuar, porque empregos são gerados aqui e perdidos nas indústrias de outros países menos competitivos. Constatamos, infelizmente, que também aqui no Brasil muita gente ainda não percebeu o valor dessa vocação florestal que possuímos e, sem nenhuma base científica ou outra lógica de raciocínio, realizam manifestações contra a cultura do eucalipto.

Mas, esta situação tende a se modificar com uma maior participação do pequeno e médio produtor em programas de produção de madeira e com apoio das instituições de pesquisas idôneas. Assim, estes mitos irão se desfazer. O setor florestal consolidou-se no Brasil a partir da metade da década de 60 e de lá para cá passou por diversas fases, que podemos definir como: a floresta do incentivo fiscal, a floresta integrada, a floresta de alta produtividade e agora se consolida como um modelo da floresta sustentável, onde vários fatores são relevantes, como o econômico, o biológico, o ambiental e o social.

É nesse contexto que se fortalece a parceria com os pequenos proprietários rurais, onde, em 2005, cerca de 130 mil hectares de florestas foram cultivadas por meio de programas de fomento, beneficiando 10 mil produtores, em 800 municípios. Diante das questões apresentadas, faz-se necessário o apoio explícito dos governos federal e estadual, reformulando a legislação ambiental, tornando-a mais incentivadora e menos restritiva à produção, focada no controle da proteção aos remanescentes florestais nativos, mas liberando as plantações de árvores, como ocorre com outros produtos da agricultura. Dessa forma, teremos como resultado a geração de muito mais empregos, além dos 4,1 milhões gerados em 2005, muito mais tributos, fora os R$ 9,2 bilhões recolhidos e, certamente, muito mais divisas, além dos US$ 7,4 bilhões, com as exportações do ano passado. O Brasil merece essa oportunidade.