Nos últimos anos, vem ocorrendo uma escalada de custos de produção no Brasil. O problema é sentido especialmente no setor florestal, com o aumento dos custos de implantação, manutenção e colheita. A recente desvalorização do real fez com que muitos fertilizantes tivessem alta de preço em torno de 25%. Praticamente, toda empresa do setor está focada em controle de custos.
A despeito da alta produtividade das florestas no País, o aumento do índice inflacionário e, consequentemente, dos juros, vem prejudicar o resultado econômico dos empreendimentos, que têm longo prazo de retorno e são penalizados pelo custo de capital. Outro fator que nos últimos anos passou a assombrar muitos empresários é o déficit hídrico, a insegurança com o clima cada vez mais errático.
O déficit hídrico severo, quando não mata, debilita as plantas e as deixa mais suscetíveis ao ataque de pragas e doenças. Temos visto isso especialmente em Minas Gerais, que foi muito atacado pela seca histórica de 2014. Segurança no investimento, alta produtividade e controle de custos passam, invariavelmente, pela pesquisa científica. O que é consenso nas espécies florestais tradicionais como pinus e eucalipto não parece sensibilizar os investidores que apostam nas novas espécies, cujos investimentos em pesquisa são incipientes e inadequados para os montantes que vêm sendo investidos em plantios.
O case do eucalipto no Brasil é o melhor exemplo a ser seguido. Com pesquisa e melhoramento genético, ele alcançou alta produtividade, com espécies e cultivares adaptadas a diversos usos e regiões do País. Os empreendimentos que envolvem plantios de árvores com madeira de alto valor vão no sentido contrário? Não posso falar por todas as espécies de alto valor que vêm sendo propagandeadas como boa opção de investimento.
São muitas: cedro australiano, mogno africano (dentro desta, há quem goste do Khaya ivorensis e quem goste do Khaya senegalensis), paricá, acácia, guanandi, neem indiano, etc. O que é sabido é que poucas empresas que se dedicam a esse nicho investem adequadamente em pesquisa. O que gera um risco considerável, apesar do grande potencial de retorno econômico. Isso não ocorre por acaso. Pesquisas florestais normalmente são conduzidas pela academia e por grandes empresas.
São caras, longas e correm o risco de não dar em nada. As grandes empresas do setor florestal produzem papel e celulose, aço ou painéis. Utilizam como matéria-prima eucalipto ou pinus e, obviamente, direcionam seus investimentos para essas espécies. As universidades e órgãos de pesquisa têm um motivo para seguir a mesma linha: com mais de 7 milhões de hectares plantados, inúmeros produtores rurais, cadeias produtivas inteiras, municípios e regiões são impactados pelo pinus e pelo eucalipto.
Faz parte do papel da academia prover segurança e encontrar soluções para os agentes envolvidos e a sociedade como um todo. Uma vez que os grandes empreendimentos são baseados nas espécies tradicionais e que as pequenas e médias empresas se interessaram pelo nicho, como conciliar custos, disponibilidade de recursos financeiros e capital humano? É imprescindível o envolvimento de órgãos e entidades de pesquisa.
Pego, então, o exemplo do cedro australiano, com o qual estou um pouco mais familiarizado. Nos estudos com o cedro, ninguém está tentando reinventar nada. Apenas é seguido o caminho de sucesso trilhado pelo eucalipto. É importante frisar que os trabalhos são feitos dentro da realidade financeira das empresas que se dedicam a essa espécie. E, mesmo assim, os resultados têm sido espetaculares. Nesse processo, a participação da Universidade Federal de Lavras - UFLA, tem sido um grande diferencial.
Muitos acadêmicos dedicam parte de seu tempo a esses estudos há quase uma década, seguindo as mesmas linhas de pesquisa das espécies tradicionais, com o benefício de saber o que funcionou melhor e podendo pegar alguns atalhos. Os trabalhos renderam 3 teses de doutorado, 6 dissertações de mestrado e 15 trabalhos de conclusão de curso (TCCs). No momento, mais 7 linhas de estudo estão em andamento.
Visando ao controle de custos, a uma produtividade que justifique a escolha da nova espécie e à segurança nos investimentos, essas são as pesquisas que acontecem, desde 2006, com o cedro australiano em Minas Gerais:
1. Produção de plantas:
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Seleção dos materiais mais produtivos, sob o ponto de vista genético, para obter ganho máximo em produção de plantas, ou seja, maior número de estacas por matriz. Seleção de clones e famílias com aptidão familiar para brotar.
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Clonagem como forma de propagação (reprodução assexuada).
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Desenvolvimento de nutrição específica para viveiro.
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Estudos de fisiologia vegetal.
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Identificação de cruzamentos controlados para produção de sementes híbridas.
2. Melhoramento genético:
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Aumento (ganho) de produtividade.
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Identificação das melhores origens e famílias da espécie.
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Melhoramento clássico: cultivares obtidos por seleção massal de plantas em populações.
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Hibridação de plantas: cultivares obtidos por cruzamentos controlados de matrizes selecionadas.
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Vigor híbrido: indivíduos geneticamente muito diferentes em uma mesma espécie - quando cruzados, formam híbridos que apresentam maior vigor, devido à grande variabilidade genética. É o que se está buscando nessa etapa de melhoramento: híbridos com vigor, ou seja, indivíduos superiores, a partir de cruzamentos de pais de famílias e procedências distintas.
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Caracteres que dependem do genótipo: resistência a pragas e a doenças, incremento diamétrico; adaptabilidade em sítios diversos, etc. Tais caracteres dependem diretamente do genótipo da planta para se expressar. É uma estratégia de melhoramento trabalhá-los para obter ganhos dentro da cultura, pois todos eles são parâmetros diretos de produção e influenciam no manejo florestal.
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Uso de marcadores moleculares: identificação de genes e proteínas na otimização da seleção de novos cultivares.
3. Manejo florestal:
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Conhecer caracteres controlados geneticamente para a estratégia de melhoramento: forma do fuste para alto rendimento em serraria, conicidade, circularidade do tronco, excentricidade da medula, arquitetura dos galhos, uniformidade entre plantas.
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Características de produção controladas por variáveis ambientais: espaçamento, densidade de plantas por hectare, necessidade de desrama, desbastes, matocompetição.
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Podas: madeira livre de nós e potencial de crescimento das plantas (dilema da produtividade x qualidade da madeira no manejo).
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Desbastes: maximizar o incremento diamétrico mantendo receita intermediária no ciclo da floresta. • Controle de matocompetição com herbicidas para reduzir custos.
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Parâmetros para inventários florestais: fatores de fórmula e equações de volume e altura.
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Uso de modelagem matemática na determinação de volume e forma como estratégia de melhoramento genético.
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Estudo dos módulos de elasticidade, ruptura e forma das plantas como estratégia de seleção de clones menos suscetíveis a quebra por ventos fortes (efeito vela).
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MIP&D (Manejo Integrado de Pragas e Doenças): conhecimento da biologia das pragas e doenças, sua interação com os materiais genéticos, seu controle e dinâmica a serviço do melhoramento e dos produtores.
4. Nutrição:
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Relação custo-benefício não deixa de fazer sentido pelo alto valor da madeira.
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Determinação da saturação por bases e parâmetros de gessagem.
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Estudos de elementos ausentes em macro e micronutrientes.
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Determinação de doses de NPK.
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Cinética e absorção de nutrientes.
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Uso de micronutrientes no controle de doenças abióticas e pragas.
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Estudos com metais pesados.
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Hidroponia e soluções nutritivas.
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Nutrição em viveiro.
5. Tecnologia e qualidade da madeira:
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Estudos destrutivos e não destrutivos da densidade, defeitos, instabilidade dimensional e de forma.
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Determinação de parâmetros comerciais da madeira, como usinagem, trabalhabilidade, superfície, uso de colas, pregos, testes em fresas, produção de painéis diversos como necessidade de se agregar valor ao produto.
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Determinação de programas de secagem da madeira.
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Rendimento em serraria.
6. Registro e proteção dos cultivares:
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Descrição dos parâmetros morfológicos da espécie.
Por fim, faltava abrir mercado e validar a espécie economicamente. No caso específico do cedro, o interesse vem de indústrias que produzem portas e esquadrias, acabamentos em construção civil, laminados, compensados, moveleiras, indústria naval e outras. Comprovada a fase final do processo, o produtor tem a segurança de saber que consegue produzir a madeira e tem para quem vender.