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Douglas Seibert Lazaretti

Gerente Florestal da Gerdau em Minas Gerais

Op-CP-35

A eficiente logística na cadeia do gusa a biorredutor

O desenvolvimento de um país esteve sempre relacionado ao seu nível de industrialização, tendo a indústria do aço como uma importante contribuinte para a economia, por ser o alicerce de diversas cadeias produtivas, como a construção civil, a indústria automotiva e a agroindústria. O aço é um produto essencial para o progresso da sociedade e carrega consigo diversas oportunidades de geração de um desenvolvimento sustentável, desde a reciclagem da sucata-ferrosa até o uso de matérias-primas renováveis.

Uma dessas oportunidades é o uso do biorredutor na redução do minério de ferro para produção do ferro-gusa, principal matéria-prima do aço. A produção de gusa utilizando biorredutor é uma peculiaridade da siderurgia brasileira, apresentando diferencial de custo e sustentabilidade. Por ser de origem vegetal, ou seja, sua matéria-prima é a madeira de florestas plantadas, o biorredutor é caracterizado como uma fonte renovável e de grande interessante para a indústria.

O processo produtivo do biorredutor, que antigamente era relacionado a carvoarias artesanais com condições de trabalho desfavoráveis, tem mudado de patamar, passando para a indústria de produção do biorredutor. As grandes transformações nesse processo se devem à evolução dos processos industriais dessa cadeia, principalmente no que se refere à eficiência logística. 

A logística trata do processo de planejar, implementar e controlar, de forma eficiente e eficaz,  a gestão do fluxo de informações e o fluxo de custo, para que os materiais necessários a um processo sejam disponibilizados e transportados, desde o ponto de origem até o ponto de consumo.

Os custos logísticos no Brasil ainda têm participação bastante significativa na composição dos custos dos produtos. Isso demonstra uma necessidade de mudanças estruturais na logística brasileira, com um potencial de captura de ganhos. Modificar o modelo de distribuição logística exige grandes investimentos de longo prazo, principalmente em estrutura. Entretanto, através da busca incessante pela eficiência (produzir e entregar mais com menos recursos), é possível tornar os custos logísticos mais atraentes e competitivos.

O primeiro passo para o alcance do diferencial de custo logístico está relacionado à eficiência dos processos de transporte, distribuição e estocagem. A eficiência logística envolve três itens principais:
1. Evolução tecnológica: migração de processos artesanais para processos industriais;
2. Aumentos de produtividade: substituição de processos manuais por processos mecanizados; e,
3. Evolução na gestão do processo: uso de tecnologia de gestão no planejamento e no controle logístico.

O setor de produção de biorredutor para siderurgia tem apresentado evoluções significativas em eficiência, tanto na logística inbound (entrada de matéria-prima) quanto na logística outbound (saída de produto acabado). A logística da madeira (inbound) passou por inúmeros avanços em tecnologia e ganhos expressivos de produtividade com a implantação da mecanização da colheita e do transporte.

O modelo de colheita florestal, outrora feito com motosserra e baldeio manual da madeira, foi substituído por máquinas com a mais alta tecnologia em colheita florestal. O transporte feito em tratores ou caminhões de pequeno porte passa a ser realizado em caminhões próprios para transporte de madeira.

Por fim, a descarga da madeira e enchimento de fornos, que eram manuais, são substituídos por gruas mecanizadas de alta produtividade. Em relação à logística outbound, que envolve os processos de expedição, transporte e entrega do biorredutor às unidades industriais, também houve avanços significativos em tecnologia e produtividade.

A descarga dos fornos, que era realizada manualmente, com garfos e “carrinhos rede”, foi substituída pela descarga mecanizada com pás carregadeiras. A expedição, que era realizada manualmente por “chapas” carregando sacaria, passa a ser realizada por máquinas pá-carregadeira. O transporte, que era realizado em caminhões com sacaria, passa a ser realizado por veículos com gaiola para biorredutor e, recentemente, por veículos de piso-móvel (descarga automática).

A evolução tecnológica de máquinas e equipamentos bem como a busca por aumento de produtividade certamente tornaram a logística florestal mais eficiente. Os resultados alçados vão muito além de vantagem competitiva em custo, mas também resultam em segurança, entrega, qualidade e moral.

Os resultados de segurança alcançados são impressionantes, pois diversos riscos do trabalho manual são minimizados ou, muitas vezes, eliminados com mecanização e tecnologia. Quanto à entrega, é indiscutível que a produtividade logística resulta em volumes disponibilizados no tempo e na quantidade correta.

Em relação à qualidade, os processos podem ser menos dependentes do conhecimento tácito, pois podem ser padronizados. E, por fim, os resultados de moral são diferenciados, pois colocam o negócio em um novo patamar sob o ponto de vista da sustentabilidade social e ambiental.

O setor de florestas plantadas se destaca por exemplos concretos de responsabilidade social empresarial e programas autênticos de criação de valor compartilhado na cadeia produtiva, como os programas de fomento florestal. Essas evoluções representam o respeito ao ser humano e a busca legítima pelo desenvolvimento sustentável.

Os avanços são expressivos, entretanto ainda há muitas oportunidades de inovação tecnológica a serem exploradas. No âmbito da siderurgia mundial, há um crescente investimento direcionado à evolução da produção de aço via redução direta (DRI - Direct Reduced Iron), principalmente nos processos com uso de gases ricos em hidrogênio, como o gás de xisto, concorrendo diretamente com a produção de aço via gusa.

Esse cenário coloca um novo desafio de busca por competitividade e sustentabilidade na produção de aço a partir do gusa. Para isso, o setor demanda a retomada de investimentos em silvicultura, de forma a garantir o abastecimento de madeira, e a busca de um novo salto tecnológico, que sucederá na mesma proporção o que foi a mecanização na última década.

Essa nova onda passa por uma gestão com visão industrial do processo, focada na eficiência energética, objetivando ganhos através do uso da energia térmica para secagem da madeira, na cogeração de energia e no aumento do rendimento gravimétrico. Este último, com os avanços em termografia e automação, que resultarão também em novos e expressivos ganhos para o meio ambiente e para a sociedade.