O manejo integrado de plantas daninhas é uma prática necessária para garantir a produtividade dos plantios florestais, uma vez que as perdas de produtividade causadas pelas plantas daninhas podem ser superiores a 50% do volume de madeira produzido por um plantio florestal sem a competição com estas plantas. Os métodos de controle químico e mecânico predominam atualmente nos plantios florestais.
Nos dois casos, a maior escala de uso é de operações mecanizadas, em função da praticidade, minimização de riscos, rendimento, escassez de mão de obra e dos custos operacionais. A associação dos dois métodos também é uma prática que tem avançado nos últimos anos, bem como a associação de herbicidas, buscando a sinergia ou os efeitos aditivos de dois produtos numa única operação.
Os métodos químicos são aplicados em larga escala, demandando e motivando a pesquisa e o registro de novas moléculas para uso em plantios florestais, bem como o avanço e o estímulo à adoção de novas tecnologias de pulverização por esse setor. Até pouco tempo, o manejo químico das plantas daninhas em plantios florestais estava restrito a poucas opções de ativos herbicidas para o controle das plantas daninhas em pré-emergência (oxyfluorfen, sulfentrazone, isoxaflutole e flumioxazina), ou em pós-emergência (glifosato, glufosinato de amônia, carfentrazone ethil e 2,4-D), sendo este último mais focado em outras áreas dos empreendimentos florestais, fora dos talhões de plantios.
Com o registro recente de novos ativos, principalmente para a cultura do eucalipto, o manejador florestal passou a ter mais opções de manejo nas duas fases das plantas infestantes, pré e pós-emergência.
Esse novo cenário de disponibilidade de ativos diferentes, junto com as novas “fronteiras florestais”, trouxeram novos e grandes desafios e oportunidades para o avanço do manejo de plantas daninhas nos plantios florestais, que, por sua vez, demandam conhecimentos técnicos específicos sobre o tema, muitas vezes, ainda pouco explorados por esse setor.
Os desafios dos diferentes cenários e situações de trabalho demandam, cada vez mais, equipamentos de pulverização desenvolvidos e fabricados para uso florestal e não mais adaptações de equipamentos desenvolvidos originalmente para outras áreas agrícolas.
Nesse novo cenário, a tendência de associação de operações mecanizadas também é marcante, seja com diferentes finalidades (preparo de solo/adubação/pulverização), ou seja, com a utilização de diferentes herbicidas na mesma aplicação, podendo ser associações entre pré-emergentes, entre pré e pós-emergente, ou entre pós-emergentes, sempre buscando otimizar o manejo em termos de espectro de ação, eficácia de controle ou efeito residual, ou ainda, uma conjugação entre esses objetivos visando obter o menor custo de controle do pacote de manejo, expresso em reais por dia limpo (R$/dia limpo), associado ao menor impacto ambiental e menores riscos para a saúde humana.
Associações entre formas mecânicas e químicas de controle também são relativamente comuns frente aos desafios do manejo.
Esses novos desafios e oportunidades precisam ser melhor estudados e explorados pelos manejadores.
A necessidade de aprofundamento nesse aprendizado é urgente, pois a tendência de realização de menos operações, porém com maior valor agregado, será cada vez maior. Nesse cenário, não há espaço para o modelo de tentativa versus erro, as recomendações de manejo devem ser bem embasadas, precisas em termos de momento e execução e assertivos quanto aos resultados esperados.
Para que esses objetivos sejam atingidos de forma consistente e sustentável, torna-se necessário um maior investimento não apenas em produtos e tecnologias de pulverização, mas também em pessoas, que precisam conhecer melhor a ecologia de comunidades de plantas daninhas, e o que é necessário para a realização de um bom manejo dessas invasoras.
Essa necessidade remete à formação dos técnicos da área, tanto em nível médio como no nível superior, bem como na necessidade de atualização das informações dos profissionais que estão no mercado, visando explorar todo o potencial das novas tecnologias.
Novas linhas de pesquisa devem ser estimuladas, como, por exemplo, o melhor conhecimento dos aspectos e dos riscos ambientais das tecnologias disponíveis ou das possibilidades de associações entre elas.
No longo prazo, conhecer e manejar os bancos de sementes das diferentes áreas manejadas, entender as tendências de sucessão ecológica em função das alternativas de manejo aplicadas, conhecer o potencial de infestação de cada local, explorar as oportunidades relativas ao uso da transgenia aplicada ao manejo, buscar uma maior diversificação das formas de controle de invasoras (métodos biológicos, físicos, outras possibilidades), ter sempre em mente a necessidade de conservação dos solos e da água, dentre outras oportunidades de desenvolvimento.
Para a melhor evolução do conhecimento e da agilidade de resultados, deve-se estimular a formação de grupos de pesquisa dedicados e do uso de associações e projetos cooperativos entre diferentes atores com os mesmos objetivos, o que pode ser organizado via associações representativas, como a Ibá – Indústria Brasileira de Árvores, ou pelas associações estaduais representativas do setor florestal e, principalmente, realizado por grupos estruturados para a pesquisa, como o Protef – Programa Temático de Proteção Florestal, ou PTSM – Programa Temático de Silvicultura e Manejo Florestal, ambos do IPEF – Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais, envolvendo as expertises científicas necessárias para a boa evolução dos temas abordados.
Atualmente, não há como se falar em plantios florestais sem associar às certificações do manejo e dos processos, que devem ter enfoque normativo, ambiental, social e econômico, ou seja, o manejo florestal e de plantios de árvores precisam ser ambientalmente corretos, socialmente justos e economicamente sustentáveis.
Dentre as certificações amplamente utilizadas em nível mundial e no Brasil, está o FSC (Conselho de Manejo Florestal), que, por meio de suas normas, princípios e critérios, é bastante restritivo em relação ao uso de químicos nas áreas certificadas, baseando-se, principalmente, na periculosidade dos produtos, relacionado à toxicologia, e não ao contexto em que os produtos são usados.
Essa maneira de interpretar o manejo torna-se restritiva para as principais formas de controle de plantas daninhas aplicadas atualmente. Entretanto as diretrizes desse sistema de certificação em relação ao uso de químicos estão em revisão, devendo tornar-se mais adequadas ao contexto de uso e necessidades locais, disponibilizando para os empreendimentos certificados uma forma de trabalho mais justa, com riscos conhecidos e minimizados, de forma a colaborar efetivamente para a evolução dos pilares ambiental, social e econômico.
Para dar sustentação a esse turbilhão de oportunidades de forma sustentável, os princípios da Avaliação de Risco Ambiental – ARA, estão sendo aprimorados, adequados para as condições tropicais (em alguns casos) e adotados, visando auxiliar na interpretação de diferenças entre opções de manejo, identificando os possíveis pontos de impacto na cadeia de operações de controle, de forma ainda mais assertiva, para que eles possam ser eliminados ou mitigados.
Em resumo, o cenário do manejo de plantas daninhas em áreas de plantios florestais no Brasil passa por um momento de grandes desafios e enormes oportunidades, sendo assim, é necessário investir no desenvolvimento de inovações nas diversas frentes de pesquisa citadas, incluindo a capacitação de pessoas, para que possamos desenvolver ferramentas adequadas para o manejo, e fazer uso delas da melhor maneira possível, mantendo sempre o equilíbrio entre os aspectos ambientais, sociais e econômicos, gerando produtos de qualidade e nas quantidades demandadas pela sociedade, sempre de forma sustentável no longo prazo.