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Antonio Rubens Camilotti

Presidente da Abimci

Op-CP-17

Da grande depressão ao fortalecimento da indústria

O setor madeireiro, como todos os setores da economia brasileira, já passou por diversas crises nas últimas décadas, mas nenhuma foi tão dura e longa como esta. Uma conjugação de fatores provocou uma redução gigantesca da base produtiva em volumes produzidos, demissões em massa e fechamento de empresas. Por ser um setor concentrado nas exportações, está pagando um preço muito alto pelas incongruências do modelo econômico brasileiro.

Mas quais são essas causas? A excessiva carga de impostos agregada a cada fase do processo produtivo é uma delas. Mesmo que existam mecanismos de desonerar esses impostos e taxas, eles dependem de devoluções por parte dos governos federal ou estadual, o que, muitas vezes, é um processo lento ou não é finalizado. Assim, o setor possui um dos maiores créditos a receber do governo.

Outro fator que prejudica a competitividade do segmento é a altíssima carga de tributos trabalhistas em um setor que concentra muita mão de obra e disputa mercado com produtores de países com cargas de impostos muito menores e com infraestrutura de exportação muito melhor da que o governo brasileiro disponibiliza.

Boa parte dessas deficiências era anulada pela eficiência produtiva das nossas indústrias, pelo excelente desempenho dos nossos reflorestamentos e por taxas cambiais mais favoráveis que compensavam parte do ônus público. Porém, com a valorização irreal da nossa moeda e o mercado externo em crise, que reduziu drasticamente a demanda e focou suas compras nos preços, a consequência é a forte perda de mercado, com queda de 51% das exportações em 2009.

Para reverter essa situação, não podemos esperar a recuperação dos mercados externos ou um novo boom do setor construtivo de países como Estados Unidos, Reino Unido, Espanha e Austrália. Todos esses mercados sofreram uma desaceleração muito forte e possuem um estoque de residências novas. Mesmo com o crescimento de suas economias, a demanda por novas construções demoraria um bom período de tempo.

Dessa forma, precisamos de soluções mais rápidas. Uma delas é que o governo federal permita às empresas o uso de seus créditos de impostos federais para pagarem os encargos trabalhistas. Não se trata de desoneração, mas de normatizar as regras da Super-Receita, que já realiza a cobrança dos impostos e encargos unificados, só não permite a unificação das compensações.

Outra solução é a criação de mercado interno, diminuindo a dependência das exportações. Para tanto, o governo federal deve mudar a política do Sistema Nacional de Habitação, voltando a permitir financiamento de casas de madeira. Com isso, rapidamente, será criado um novo mercado. As restrições a esse financiamento têm pouca fundamentação técnica e muito lobby de outros setores.

Para se ter uma ideia de como a madeira é amplamente usada na construção de imóveis em diferentes partes do mundo, nos Estados Unidos, 70% das casas construídas são de madeira e em um percentual cada vez maior no Reino Unido, na Alemanha, no Japão e na Austrália. Nessas localidades, são erguidos até mesmo prédios de três andares e mansões de milhares de dólares, boa parte construída com produtos do setor madeireiro do Brasil, já que somos um dos grandes exportadores mundiais.

Isso mostra que não há problemas técnicos para a liberação de construções em madeira também no Brasil, o que, inclusive, agilizará muito as metas do governo federal em reduzir o gigantesco déficit habitacional brasileiro, pois as casas de madeira podem ser construídas em menos tempo e com um menor custo. Com o uso intensivo de produtos de madeira nas novas casas, aproveitaríamos a capacidade ociosa do setor, voltando a gerar milhares de empregos.

E, em tempos de preocupação com o aquecimento global, fica o alerta: dos materiais usados na construção civil, a madeira é de uso infinito, ao contrário de produtos como ferro, cimento, plástico e areia, todos eles extraídos de fontes não renováveis. Além de poder ser plantada, a madeira é um grande gerador de créditos de carbono.