Diretor de Desenvolvimento da STCP
Op-CP-15
A crise financeira, que se originou nos Estados Unidos, está reduzindo a demanda e os preços de bens e serviços, e gerando desemprego em praticamente todos os países. Um ano após o seu início, não existe um consenso sobre suas implicações e impactos, e de quando a recuperação iniciar-se-á. O impacto da crise sobre os países depende de uma série de fatores.
A expectativa é de que com a redução do comércio internacional, serão afetados, principalmente, os países onde a exportação tem uma grande contribuição para o PIB. Este é o caso dos países asiáticos, como Cingapura, que em 2008 exportou US$ 350 bilhões (66% do PIB), Malásia (US$ 196 bilhões - 49% do PIB), Taiwan (US$ 273 bilhões - 36% do PIB) e Coréia do Sul (US$ 458 bilhões - 35% do PIB).
Considerando esta premissa, o Brasil seria menos afetado pela crise, pois a participação das exportações no PIB é menor. No entanto, o país é um grande exportador de commodities, cujos preços são, geralmente, mais afetados em períodos de crise, que os manufaturados e serviços.
A redução do comércio internacional, resultante da menor atividade econômica em países importadores, é um dos fatores que limitará o crescimento dos emergentes. A maioria dos emergentes estão sendo afetados por mudanças globais no fluxo de capitais, resultantes da redução dos investimentos estrangeiros diretos, da repatriação de capitais e aumentos na remessa de dividendos de empresas transnacionais.
Além disto, para alguns países, a redução de remessas de trabalhadores migrantes tem sido impactante, como é o caso do México, que recebia anualmente cerca de US$ 24 bilhões de mexicanos que trabalhavam no exterior. O principal problema resultante da redução das atividades econômicas é o impacto social. A Organização Internacional do Trabalho estima que, no mundo, cerca de 50 milhões de pessoas perderão o emprego em 2009.
O impacto social deverá ter várias implicações, podendo, inclusive, afetar a estabilidade política de alguns países. Todos os setores da economia estão sendo afetados pela crise, inclusive o setor florestal. Os efeitos sobre este setor serão mais sentidos em países onde a atividade tem uma maior contribuição para o PIB e para as exportações. Na América Latina, este seria o caso do Chile e do Brasil.
A crise levou à desvalorização do Real, o que ajudou a tornar os produtos florestais brasileiros mais competitivos no mercado internacional. No entanto, a queda na demanda e nos preços foram superiores, e muitas empresas acabaram registrando prejuízos e suas dívidas aumentaram. O processo de ajuste adotado pelas empresas incluiu a reestruturação de dívidas, a redução de investimentos e de custos, o que tem como efeito final um menor nível de emprego (impacto social).
Para o caso do Brasil, segundo a Abraf, projeta-se uma redução de 6% no nível do emprego direto no setor florestal, no entanto existem regiões onde o impacto é maior. Este é o caso do Paraná, onde o número de empregos diretos na indústria florestal em 2008 teve uma queda de 21%, segundo o IBGE. Esta queda está aparentemente associada à redução da atividade da indústria de serrados, painéis, móveis e outros produtos de maior valor agregado, segmentos que foram muito afetados pela crise.
A redução do nível de emprego direto na indústria de papel e celulose é esperada. No entanto, é neste segmento que os investimentos deverão ser mais afetados. Estimativas feitas pela Abraf indicam que em 2008 os investimentos no setor florestal foram menores em 26%, quando comparados com 2007. As projeções de investimentos para os próximos 5 anos indicam uma queda maior (36%), o que reduzirá as expectativas de criação de empregos diretos e indiretos para os próximos anos.
Uma das alternativas que vem sendo discutida para mitigar os impactos sociais da crise é a criação de empregos através de plantações florestais. Simulações apresentadas durante a reunião do Committee on Forestry - COFO (realizada na FAO, em Roma, entre 20 e 24 de março de 2009) indicam que investir em um programa florestal teria um custo por emprego gerado equivalente ao do seguro desemprego (entre US$ 4 e 5 mil/ano).
A diferença é que, ao se investir em um programa florestal, estar-se-ia criando ativos que irão beneficiar gerações futuras. Esta é uma das opções estratégicas que a indústria florestal brasileira poderia levar à consideração do governo, como alternativa para mitigar o impacto social da crise. Ainda que os impactos da crise sejam grandes, e ainda não totalmente internalizados, é importante lembrar que as crises são cíclicas e que a atividade de base florestal é uma atividade de longo prazo.