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Reginaldo Gonçalves Mafia

Gerente de Pesquisa e Desenvolvimento em Manejo Florestal da Bracell-BA

OpCP82

Cenários futuros para a produtividade florestal
Ao avaliar possíveis cenários futuros de produtividade, didaticamente, o estabelecimento de um novo balanço precisa ser considerado. Existe a expectativa de aumento da produtividade em função do avanço tecnológico, dos conhecimentos e de melhoria da qualidade dos plantios; por outro lado, parte deste ganho deverá ser subtraído em decorrência das mudanças climáticas e de outros fatores relacionados. 
 
Dessa forma, é extremamente complexo determinar, com precisão, o resultado deste novo balanço, tornando-se mais seguro estudar cenários climáticos futuros, mas, ao mesmo tempo, adotar, de forma antecipada, ações técnicas e estratégicas. Estas ações podem ser direcionadas para o escape ou aumento da resiliência dos plantios.

Para facilitar o nosso entendimento, antes de iniciar qualquer discussão, torna-se necessário diferenciar o que são as variações periódicas do clima daquelas alterações no padrão climático, denominadas de mudanças climáticas globais. No primeiro caso, as variações observadas são decorrentes de ciclos naturais no sistema climático e que não são persistentes, com variações em curto espaço de tempo. 

Os melhores exemplos são os fenômenos El Niño e La Niña, que sabidamente apresentam impactos distintos a depender da região do Brasil. Enquanto El Niño causa, normalmente, aumento das temperaturas e secas nas regiões Norte e Nordeste, com intensificação das chuvas no Sul; o fenômeno La Niña causa chuvas intensas nas regiões Norte e Nordeste, ao mesmo tempo que períodos de seca na região Sul. 

As mudanças climáticas, por sua vez, são alterações causadas pela ação antrópica, de carácter persistente e de ocorrência em médio e longo prazos. Com o avanço das mudanças climáticas, tem-se observado maior frequência e intensidade das variações periódicas do clima, em uma relação de sinergia e com potencial de causar ainda mais problemas.

Estas duas fontes de variação do clima têm impactos sobre a produtividade florestal e, logicamente, precisam ser monitoradas. As variações periódicas do clima, incluindo previsão trimestral, podem ser obtidas na agência NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), enquanto o monitoramento dos cenários de mudanças climáticas no IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change). 
 
Para quantificar os efeitos destas duas fontes de variação do clima, pode-se adotar duas abordagens distintas. A partir da primeira, com base no histórico de produtividade e de condições de clima, pode-se determinar as probabilidades para ocorrência de diferentes intensidades de chuvas, por exemplo, e, consequentemente, de produtividade, com base em modelagem híbrida. 

No segundo caso, pode-se estimar as condições climáticas futuras e, também, a partir de modelos híbridos estimar o efeito sobre a produtividade florestal. Em ambos os casos, estas estimativas, sobretudo quando associadas com medidas de probabilidade de ocorrência, permitem adotar medidas mais assertivas.

Estudos recentes, realizados por diferentes especialistas, com uso de vários modelos e cenários futuros, apontam risco elevado para a produtividade florestal, especialmente para regiões mais ao norte e no sentido do interior do País. 

Ao passo que as regiões Centro-Sul e litorânea apresentam maior preservação das condições de clima. Para as regiões de maior risco espera-se aumento do déficit hídrico, seja por aumento da temperatura e/ou redução da intensidade de chuvas, além de eventos climáticos extremos, incluindo maior frequência de períodos de secas. 

Como sabemos, para a cultura do eucalipto, por exemplo, variações das condições de clima apresentam um desafio adicional para seleção e adaptação de material genético. 

Adicionalmente, condições mais críticas de seca e aumento da temperatura podem afetar a intensidade e distribuição de pragas e doenças. Para complementar esse quadro de análise de riscos, é importante considerar que a expansão da atividade de silvicultura está ocorrendo em áreas marginais para produtividade, sobretudo em menor altitude, em solos de textura mais arenosa e em regiões com chuvas mais sazonais, ou seja, de maior risco para a produção de madeira.

Por fim e de forma mais estruturante, é necessário estabelecer ações para enfrentar os desafios do clima futuro. Essas ações podem ser divididas em dois grupos, de escape ou de aumento da resiliência dos plantios. 

No primeiro caso, conhecendo os cenários futuros de clima, de forma regionalizada, torna-se mais fácil adotar medidas para reposicionamento da base florestal, dando preferência para regiões de menor risco, conhecendo as condições mínimas necessárias de clima para atingir uma adequada produtividade florestal. 

Logicamente, essa ação tem certas limitações, em função da disponibilidade e preço da terra, distância e custo logístico de abastecimento de madeira, entre outros fatores. 

Sendo assim, além do reposicionamento da base florestal, ações para melhoria logística e novos modelos de negócios podem ser estudados. Neste último caso, por exemplo, a venda de terras em regiões de maior risco para outras atividades, incluindo culturas de ciclo curto ou com tecnologia de irrigação, que sofrem menos efeito das mudanças climáticas, pode ser uma boa opção.

Além do reposicionamento da base florestal, ou seja, de buscar escape das condições mais adversas do clima, é necessário investir em tecnologias e conhecimentos para aumento da resiliência dos plantios florestais. 

De uma forma simples, podemos compreender a resiliência como sendo um atributo de um sistema produtivo, o qual após sofrer qualquer perturbação, neste caso imposta pelas novas condições de clima, retorna de forma mais rápida ao seu estado inicial, ou seja, de produtividade adequada. 

Existem várias linhas de pesquisa e tecnologia que podem ser adotadas para aumentar a resiliência florestal. Alguns exemplos incluem: 
1) aumento da base genética de melhoramento,
2) introdução e melhoramento de espécies de eucalipto resistentes à seca,
3) desenvolvimento de novos híbridos, além de E. grandis x E. urophylla,
4) priorização de clones com melhor arquitetura radicular,
5) maior segregação dos ambientes de produção e adoção de silvicultura com maior precisão, 
6) desenvolvimento de técnicas de manejo regenerativo e melhoria da qualidade do solo,  e 
7) ampliação da base genética para resistência a pragas e doenças; entre outras. 

Dessa forma podemos concluir que, diferentemente do que se pensava no passado, existem riscos importantes para o futuro em termos de garantir a produtividade florestal. 
 
Mas, ao mesmo tempo, temos ações imediatas e muito trabalho pela frente. Acredito que o investimento em ciência e tecnologia florestal, no modelo de parceria entre empresas e academia, considerando a alta qualidade dos nossos profissionais, será, mais uma vez, o diferencial para enfrentar e vencer mais este desafio do setor florestal brasileiro.