Estamos prestes a encerrar mais um ano, com uma sensação de que os desafios foram bem maiores do que os habituais. Globalmente, um cenário geopolítico bastante agitado e, no caso brasileiro, além de questões políticas, indicativos de dificuldades de ordem econômica. No entanto, no meio dessa turbulência, existem bolhas de exceção, em que o otimismo se mostra presente, comprovado por fatos. No Brasil, o setor industrial de base florestal é um deles.
Hoje, a obtenção de matéria-prima para fins industriais se encontra totalmente consolidada em nosso país, num nível tecnológico de reconhecimento internacional. A atividade encontra-se em franca expansão, com expressivas contribuições de ordem econômica, ambiental e social. Tudo isso, no entanto, não tem sido obra do acaso.
Evidentemente, por trás de tudo, encontram-se as oportunidades de mercado, considerando os produtos que as indústrias estão gerando. Contudo, há outros fatores preponderantes, que estão permitindo que o setor atenda, com expressiva competência, às demandas que estão surgindo.
Há sempre a bem-conhecida e repetida afirmação de que o Brasil tem ótima disponibilidade de terras e clima favorável, e isso é um fato. Contudo, deve-se somar a isso alguns aspectos antropogênicos. Um deles é o somatório da determinação, crença e coragem de empresários em investirem na atividade, que tem como forte característica o longo prazo de maturação.
Isso é um desafio importante, sobretudo, nos tempos atuais de turbulência. Inegavelmente, um segundo importantíssimo aspecto é a capacidade tecnológica existente para o desenvolvimento da silvicultura, que é fruto da junção da competência e talento dos profissionais que atuam no setor e da existência de um bem estruturado parque de oferta de recursos operacionais, ligados a equipamentos e insumos para o estabelecimento das plantações florestais.
No entanto, há um componente fundamental, que não pode ser omitido, que é a base de informações tecnológicas, de altíssima qualidade, que tem suportado as demandas do setor para as respostas de como se produzir uma floresta, econômica, ambiental e socialmente sustentável. E essas respostas existem por conta do repertório acumulado de resultados de pesquisas, que têm sido desenvolvidas ao longo de mais de cinco décadas.
Nesse quesito, o setor é diferenciado, em relação aos outros setores da economia, graças a uma peculiaridade. Já no início da sua evolução, o setor foi introduzindo no modelo de pesquisa cooperativa, levando a uma forte sinergia entre as próprias empresas, mas, sobretudo, entre elas e as universidades. Isso se estabeleceu mediante a criação de instituições para atuarem como agentes de facilitação e gestão de recursos e a indução dos estudos, de modo a que os resultados atendessem, objetivamente, às demandas do setor.
Esse modelo foi altamente relevante para a rápida geração e difusão tecnológica. A sinergia entre técnicos das empresas e o quadro acadêmico teve um papel fundamental, conduzindo o setor de plantações florestais para um patamar de referência quanto à aplicação de boas práticas, no que, ainda hoje, ele é destaque no campo da produção agrícola. Se tudo isso é verdadeiro, não podemos negar que ainda nos deparamos com grandes e importantes desafios, para continuarmos numa marcha de constante evolução.
Há um certo consenso de que, atualmente, os novos ganhos estão a exigir esforços muito maiores do que no passado. O leque de variáveis e influências aumentaram muito, como também cresceram os níveis de especificidades e exigências para se manter a atividade florestal de forma econômica e socioambientalmente adequada. A visão geral do “basta plantar e colher” de longe ficou para trás, não sendo mais possível, sobretudo, imaginar colocar “tudo num mesmo balaio”.
Já virou bordão a afirmativa de que estamos tendo problemas com a produtividade florestal, que o clima está afetando, que as árvores estão secando, que as pragas estão soltas, que estamos afunilando demasiadamente os plantios em torno de poucos clones, que ainda existe um gap tecnológico nas práticas silviculturais.
Se isso é verdadeiro, na mesma proporção, há uma certa evidência de que as empresas estão dispostas a enfrentar os desafios com determinação, saindo de uma certa acomodação tecnológica silvicultural, que vinha sendo observada ao longo dos últimos 10-15 anos.
Mais recentemente, percebe-se um incremento na busca por novas informações, resultados e orientações, que possam corrigir ou reorientar alguns aspectos da forma de se plantar árvores para se obter matéria-prima. Com isso, aumentam as demandas do envolvimento de pesquisadores, os quais possam se dedicar ao tema.
Sem sombra de dúvidas, uma fonte importante de talentos que sempre esteve à disposição do setor de plantações florestais encontra-se nas universidades. Isso é sobretudo significativo, considerando seus programas de pós-graduação. No entanto, na prática, tem-se constatado que esse celeiro não tem sido devidamente resposto, havendo carência quantitativa e qualitativa em especialidades importantes da silvicultura para produção de matéria-prima.
E isso não está ocorrendo por falta de programas de pós-graduação na área florestal que, em nosso país, passam de dezenas. Pela minha experiência acadêmica, sei sim que, atualmente, há carência de candidatos aos cursos, que existem outras áreas da silvicultura não industrial, que também precisam ser atendidas, que há uma intensa cobrança para a geração de papers, o que, muitas vezes, induz a trabalhos de colheita mais rápida e facilitada possível de resultados, superando a definição de pesquisas mais conectadas com as reais demandas do setor.
Poderia avançar ainda mais nas justificativas, contudo, isso exigiria espaço para um outro artigo. Desse modo, deixo aqui apenas a mensagem para os atores acadêmicos, no sentido de uma reflexão e tratamento interno do tema.