Gerente de Segurança Alimentar para a América Latina da Syngenta
Op-CP-31
Com tantas análises de cenários, com a quantidade de informações disponíveis, com as inúmeras discussões sobre perspectivas e projeções, fica latente uma percepção: o futuro já chegou, mas, de fato, não está na devida escala. Hoje, quase 1 bilhão de pessoas está em estado de desnutrição e dorme todos os dias com fome, enquanto praticamente 1 bilhão de pessoas está acima do peso.
As mudanças no modelo de consumo tem exigido maior variedade, qualidade e quantidade de alimentos. Em economias como a China, a dieta está mudando radicalmente, com um consumo muito maior de carnes. Os agricultores são hoje uma população em diminuição.
A atração da cidade continua a esgotar as populações rurais. Mais da metade da humanidade, hoje, vive em cidades, e a taxa de urbanização deve crescer na média de 2% ao ano entre 2010 e 2015.
Hoje, se observa que a falta de trabalhadores no campo já eleva custos de produção em muitos países. Eventos extremos fazem parte das notícias com muita frequência – secas, enchentes, furacões –; existe forte pressão sobre recursos hídricos, emissões de gases de efeito estufa (19 a 29% de GEE global é originário de sistemas alimentícios) e questionamento sobre uso do solo.
A cada segundo, perdemos o equivalente a um campo de futebol de solo para a agricultura. A erosão e a urbanização estão reduzindo áreas que poderiam ser utilizadas para produção agrícola.
Nessa mesma fração de tempo, nascem mais dois habitantes no planeta. Nos próximos 40 anos, precisaremos produzir mais alimentos do que nos últimos 10 mil anos. Uma pessoa consome cerca de 200 a 400 litros de água por dia (dependendo da região que habita).
A agricultura utiliza cerca de 70% da água doce do mundo e acumula desperdícios na ordem de 40%. Ainda vale ter em conta que, atualmente, a produção de alimentos para uma pessoa utiliza 2 mil litros de água por dia.
Fundamentalmente, são necessárias soluções diferenciadas adaptadas a regiões geográficas, a climas e a culturas, onde as diversas abordagens devem convergir para modelos integrados, com equilíbrio e eficiência entre produção de alimentos, fibras, combustíveis e recursos naturais.
É fazer mais com menos. Esse mantra, que se ouve intensamente, leva-nos à questão de como articular transformações com as devidas rupturas de modelos e decisões de tantos setores envolvidos. É esse sentido de urgência que tem movido o agronegócio.
Dados recentes indicam possibilidades impressionantes, como a produtividade alcançada em 20 anos (1988-2008) em culturas relevantes, como milho (44%), soja (41%), trigo (34%), arroz (29%) e cana-de-açúcar (18%).
A indústria de proteção de cultivos e sementes investe cerca de US$ 5 bi/ano em pesquisa e desenvolvimento para aumentar a produtividade no campo. Quando se observa o gasto por setores em P&D (% de vendas), o primeiro é o farmacêutico, com 15,6%; agroquímicos e biotecnologia despontam em segundo lugar, com 8,2%, ficando à frente de setores como informática, aeroespacial e automotivo.
Novas tecnologias, soluções integradas e modelos de produção diferenciados sinalizam boas perspectivas. A integração Lavoura-Pecuária-Floresta apresenta exemplos concretos de recuperação de solos, incremento na produção de alimentos e equilíbrio ambiental.
Essa é a essência da Segurança Alimentar, novos modelos para produzir de forma sustentável, integrando a cadeia de produção, gerando produtividade, serviços ambientais e conhecimento que pode ganhar escala.
TFD-4Fs: Em novembro de 2012, aconteceu, pela primeira vez no Brasil, o encontro do “The Forests Dialogue´s – TFD e os 4Fs (Food, Fuel, Fibre, Forests)”, composto por diversos setores da cadeia, ONGs (como WBCSD, Conservação Internacional e Ethos), governos, institutos de pesquisa e empresas.
Fundada em 2000 por ONGs e líderes empresariais, tem como propósito reduzir conflitos entre stakeholders no setor florestal e se constitui, hoje, uma plataforma internacional para discutir manejo sustentável de florestas e questões conservacionistas.
Além disso, conecta o setor florestal e agrícola, tem foco na melhoria das decisões para uso e ocupação do solo, tendo presente os desafios para atender à população crescente.
Questões prioritárias desse diálogo dizem respeito a mudanças climáticas, conservação de florestas e biodiversidade, extração ilegal de madeira e governança, plantação de florestas geridas intensivamente, redução de pobreza e meios rurais, árvores geneticamente modificadas, florestas locais conservadas e certificações.
É dessa forma, com o debate, com a ciência e com sistemas reguladores como lastro para ações convergentes, que teremos fundamento para padrões de produção e consumo compatíveis com o desafio de alimentar 9 bilhões de pessoas em 2050, com os recursos finitos de um só planeta.