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Erich Schaitza

Chefe-geral da Embrapa Floresta

OpCP73

Se organizar para gerar conhecimento e inovações
A mesa redonda sobre o status atual e perspectivas para o segmento florestal brasileiro foi composta por representantes de produtores rurais, das indústrias de madeira processada mecanicamente, das indústrias de celulose, por produtores de carvão vegetal e pelo responsável por políticas públicas relacionadas a florestas plantadas do Ministério da Agricultura, e dos assuntos debatidos destaco:

1. Florestas plantadas e nativas são importantes para todos, tanto para a provisão de serviços como geração de emprego e renda. Temos desafios diferentes nas florestas plantadas e nas nativas, mas é importante que ambas gerem serviços e renda.

2. Todas as propriedades rurais têm ou deveriam possuir florestas.

3. Economicamente, a floresta não compete com agricultura, mas a complementa. É uma alternativa a mais para produtores rurais e uma atividade que melhora a sustentabilidade de propriedades rurais.

4. Vivemos em tempos de mudanças climáticas e de compromissos para a descarbonização da economia. Também vivemos em tempos de bioeconomia, de economia verde e economia circular. Florestas têm um papel primordial nesse sentido.

a. Manutenção de florestas naturais pelo manejo florestal sustentável evita desmatamento e emissões associadas, seja por empresas florestais, comunidades ou concessões de florestas públicas. Floresta gerando renda tem mais chances de não queimar e de não ser substituída por outras atividades.

b. A mudança do uso da terra de áreas degradadas, agricultura e pecuária em plantios florestais gera ganhos significativos na captura de carbono. E o setor florestal tem um compromisso sério em não desmatar para reflorestar. Um exemplo claro desta ação é a conversão de quase 2 milhões de hectares de pastagens degradadas em florestas plantadas no Mato Grosso do Sul. Temos uma base de indústrias sólidas e das quais derivarão uma série de novas indústrias de produtos verdes. Segundo a Ibá, existem aproximadamente 5 mil produtos oriundos da cadeia de florestas plantadas. 

c. Nossas florestas plantadas, quando bem manejadas, estão inseridas na paisagem de forma sustentável, de modo que cumprem papel importante na conservação da biodiversidade, solos e água. Esse potencial é potencializado pela iniciativa da indústria de formar mosaicos de plantios e florestas naturais.

5. Do ponto de vista de produtos florestais, são quatro grandes tendências para o futuro:

a. Novos produtos de madeira, substituindo plásticos e outros produtos derivados de petróleo. Ouviremos muito sobre nanocelulose, nanolignina e outros derivados de madeira.

b. Madeira e derivados (como o carvão e pellets) são cada vez mais importantes em nossa matriz energética. Além disso, há potencial de desenvolvimento de gases, hidrogênio e de combustíveis líquidos a partir da madeira. Novamente, madeira como alternativa ao petróleo.

c. Casas, prédios e construções rurais têm crescido em importância por todo o mundo e não será no Brasil que isso não vai acontecer. A madeira engenheirada, um nome genérico para descrever peças coladas dos mais diversos elementos de madeira, produzida pela indústria com projetos e qualidade superiores para construção, representa vantagens ambientais grandes, quando comparada ao cimento, tijolos e metais, pois possui estruturas leves, limpas e com sistemas de produção de baixo carbono. Ainda há barreiras de custo, mas mais do que isso, barreiras regulatórias.

d. Crescimento continuado do setor de celulose com investimentos programados de aproximadamente 30 bilhões de reais até 2030.

6. Um novo movimento de plantios florestais com nativas, a restauração produtiva de florestas, está surgindo em função de passivos ambientais e do compromisso nacional de plantarmos 12 milhões de hectares de florestas. A princípio, não são plantios de uma espécie só, mas consórcios de espécies plantadas para a obtenção de florestas semelhantes às florestas naturais. Por isso, surgem duas grandes oportunidades:

a. Integrar a produção florestal dessas novas florestas a nossas indústrias;

b. Integrar plantios com exóticas como facilitadoras de regeneração e crescimento de plantios de restauração. Temos uma ampla base técnica que mostra ser possível, por exemplo, usar o eucalipto como tutor de várias espécies, diminuindo os custos de plantio e trazendo uma perspectiva de renda para produtores.

7.  Sistemas integrados de agricultura, pecuária e florestas, conhecidos como iLPF, são uma solução interessante para produtores e empresas florestais. Novamente, são sistemas com balanço de carbono positivo ou neutro, nos quais o crescimento de árvores compensa emissões da pecuária e agricultura. Também são sistemas nos quais as árvores oferecem vantagens ambientais e serviços para a pecuária, agricultura e para a conservação de solos, água e biodiversidade. Para a indústria florestal, esses sistemas podem ser um ótimo fator para convencer a entrada de agricultores e, especialmente, pecuaristas na produção florestal. Com a vantagem de ser um sistema em que a dependência econômica de produtores é menor do que no caso do plantio florestal.

8. O governo tem um papel fundamental de indução para o plantio florestal e para o fortalecimento de indústrias emergentes:

a. No caso da silvicultura de espécies já tradicionais, como o pinus e o eucalipto, talvez fosse necessário simplificar a parte fiscal e todo o arcabouço de licenciamento de empreendimentos maiores;

b. No caso da nova silvicultura, criar incentivos para aumento de escala da atividade e fortalecimento de toda cadeia produtiva e de serviços;

c. Com as novas indústrias, usar estratégias como o uso do poder de compra para alavancar geração de energia com biomassa, construção de casas, escolas e prédios públicos de madeira.

d. Em todas as áreas, trabalhar para educar e capacitar atores da cadeia de produção. Não dá para termos operadores de máquinas, viveiristas, plantadores, manejadores e todos os outros atores da cadeia sem uma boa qualificação profissional.

9. Temos uma necessidade enorme de programas de qualificação de mão de obra, especialmente ao nível técnico. Isso vale para todos os elos das cadeias produtivas florestais. Está havendo uma grande modernização na área florestal e uma das barreiras competitivas que temos é a qualificação de mão de obra, seja para operações de campo ou da indústria.

Finalmente, advogando em causa própria, o setor florestal tem que se organizar para a geração de conhecimento e inovações que nos mantenham no “primeiro mundo” da silvicultura.