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Ernesto Norio Takahashi

Diretor da Consultoria Takahashi

OP-CP-34

Produtividade e qualidade florestal

Certo dia, em uma visita a um plantio de eucalipto na região de Ribeirão Preto, estávamos acompanhados por um coordenador de silvicultura. Na ocasião, presenciamos o diálogo desse coordenador com um simples trabalhador rural. Após os cumprimentos tradicionais, o coordenador perguntou ao trabalhador rural:

– O que o senhor está fazendo? – o trabalhador rural respondeu.
– Estou adubando, senhor.  
– Qual adubo?
– 18:00:18, senhor.
– Qual a dose?
– 250 gramas por planta, senhor.

Resultado: a produtividade florestal obtida nos projetos de eucalipto desse coordenador eram sempre motivos de orgulho. Ele afirmava que todos os trabalhadores rurais sob sua gestão eram incentivados a conhecer a atividade em execução, a sua importância e que o trabalhador rural com conhecimento era mais motivado e a qualidade de seu serviço era superior.

O fato de iniciar este artigo com essa curta história é para demonstrar que, além da gestão técnico-financeira da silvicultura, é essencial que a equipe de campo, sejam supervisores, encarregados, líderes ou trabalhadores de campo, saiba o básico, “o quê” e  “o por que” estão realizando determinada atividade, para contribuir para o objetivo de uma floresta de alta produtividade.

Essas pessoas devem entender o quão importante é a adubação para o crescimento da planta, o quanto uma aplicação mal-sucedida de herbicida pode ser prejudicial no desenvolvimento das plantas, o quão importante é seguir a recomendação técnica de material genético, entre outros.

Muitas empresas têm adotado novas técnicas de adubação, monitoramento nutricional, adubos de liberação controlada, estratégia de espaçamento, material genético específico, tecnologia dos organismos geneticamente modificados, preparo de solo com GPS, defensivos químicos de alta tecnologia, sem dúvida primordiais para atingir altas produtividades. Entretanto têm deixado de investir em treinamento e em formação técnica de seus funcionários, sejam trabalhadores rurais ou operadores de maquinários.

O conhecimento básico de silvicultura deveria ser levado também aos operadores de máquinas de colheita, uma vez que, no sistema de rebrota, o “plantio” será o resultado da colheita realizada, mantendo a sanidade da cepa. Sem esse conhecimento, o operador não terá o cuidado necessário para a condução de rebrota, sistema que reduz drasticamente o custo de reforma de um plantio.

A condução de brotação realizada com capricho pode resultar em produtividade superior ao plantio, contrariando totalmente o conhecimento popular. O conhecimento reduz erros operacionais de campo. Somente esse fato pode contribuir com 10 a 20% no aumento da produtividade florestal.

Ao longo dos treze anos dedicados à pesquisa silvicultural, observamos que muitos não sabem diferenciar herbicida pré-emergente de pós-emergente, denominando esses produtos simplesmente de “veneno para matar o mato”. Existem também aqueles que não sabem o que é o NPK, não sabem identificar o grânulo vermelho, branco e cinza de um adubo formulado.

Houve uma ocasião em que fomos convocados para observar uma carga de adubo no campo. O encarregado afirmara que havia chegado uma carga de 06:30:06 (produto tradicional), baseado na nota fiscal e na etiqueta do saco. Ao abrir o saco, afirmamos que não era o produto descrito na etiqueta, já que havia apenas grânulos cinza.  Essas pessoas não estão preparadas para receber um adubo no campo. Culpa deles?

Nem sempre. Pode ter sido a deficiência nos seus estudos, ou mesmo a falta de interesse do estudante. Independente disso, o empregador deveria oferecer a oportunidade de aprendizado ao funcionário. O aprendizado pode ser realizado dentro da sua área de trabalho, sem necessidade de um curso intensivo na universidade, mas sim através de informações fornecidas gradualmente no campo, seja pelos seus supervisores/líderes, seja pelas empresas contratadas.

No entanto, muitas vezes, devido à necessidade de cumprir metas de plantio, essas pessoas são impedidas de terem acesso ao conhecimento, isto é, muitos desses trabalhadores executam suas atividades no “automático”. A deficiência no controle de qualidade das atividades silviculturais ou a falta de investimento nela têm sido observadas ao longo dos anos também e implicam a oportunidade de ganhos em produtividade.

Máquinas não reguladas corretamente, falta de verificação da adubação, falhas de plantio, erros nos espaçamentos têm sido fatores que pesam significativamente no ganho final do empresário. Houve uma ocasião em que determinada empresa estava insatisfeita com a qualidade da adubação de base; assim, comparou o custo de colocar uma equipe monitorando essa atividade linha a linha com o sistema de tecnologia (GPS e sensores).

Decidiu optar por pessoas, pois o custo da tecnologia era cerca de 100 vezes superior. Esse fato demonstra a necessidade de se reverem os preços praticados, isto é, devem-se desenvolver novas metodologias e buscar formas de incentivar cada vez mais o uso da tecnologia, com pessoas mais qualificadas, e, com isso, reduzir custos operacionais.

Outro ponto é a questão de metas estabelecidas, que poderiam ser aperfeiçoadas. A gestão de custo e de área plantada é, de fato, essencial para a sustentabilidade da empresa, a qual é gerenciada, anualmente, com base em metas. No entanto, além disso, deveria existir uma meta de produtividade florestal.

Não é uma questão simples de ser adicionado ao portfólio de metas dos gestores, pois a produtividade é dependente de vários fatores inerentes à operação técnica do dia a dia. O clima, muita chuva, muita seca, muito calor, muito frio influenciam fortemente na produtividade florestal, bem como fatores da economia globalizada.

E, diferente de muitas culturas agrícolas, o resultado de produtividade florestal mais concreto somente é possível de ser determinado a partir do quarto a quinto ano.

Com o extenso banco de dados de produtividade florestal, correlacionados ao conhecimento edáfico e histórico climático da região e conhecimento profundo na tecnologia estatística, seria possível estabelecer pesos para cada fator e, assim, propor metas de produtividade florestal e também formas coerentes de contabilizar o ganho. Apesar dos ganhos expressivos em produtividade florestal do eucalipto no Brasil, nos últimos trinta anos, que passaram de 15 para 40 m3/ha/ano, ainda há espaço para mais ganhos através das novas tecnologias e também do comprometimento de toda a cadeia de pessoas envolvidas no processo de produção florestal.