No meio do século passado, aconteceu uma profunda mudança no padrão de cenário do meio florestal brasileiro. Naturalmente, havia a necessidade de que novas áreas fossem abertas para a expansão da exploração humana. Naquele momento, a área de cobertura florestal fornecia madeira para tal desenvolvimento e abria novas fronteiras agrícolas, e também vislumbrava-se a necessidade e operacionalidade de implantação de florestas conduzidas e exploradas dentro de critérios econômicos e sociais mais adequados.
Percebe-se que, para a condução de tal processo, fazia-se necessário o aumento do ganho em escala. Fato que, com a utilização exclusiva de força humana, consorciada com o uso de animais na atividade, restringia tal ganho e dificultava o desenvolvimento tecnológico exploratório.
Em meados da década de 1970, as empresas de papel e celulose iniciavam a inserção de motosserras na atividade. Tal situação determinava salto significativo para o aumento da produtividade. Concomitante a isso, algumas empresas de produção de equipamentos agrícolas perceberam a possibilidade de fornecer equipamentos agrícolas, adaptados à realidade florestal.
Passados mais alguns anos, inseriram-se mais efetivamente os equipamentos de exploração florestal, embora de forma básica, mas com resultados ainda mais satisfatórios em termos de produtividade e com algum ganho de ergonomia. Passou-se por importação de equipamentos mais produtivos e eficientes, valorizando mais as condições do operador e, por conseguinte, os resultados alcançados.
Na última década do século anterior, com o advento das importações de equipamentos florestais de alta performance de países escandinavos e norte-americanos, ocorreu uma significativa mudança de paradigma no meio. A anterior utilização de equipamentos de baixo aparato tecnológico, consorciado a ainda presente baixa de qualificação e, em alguns casos, baixo potencial a ser desenvolvido por parte dos operadores, gerou uma transformação ainda maior no setor, pois a dificuldade das empresas de identificar potenciais operadores ficava evidente.
Ou seja, importaram-se equipamentos de exploração florestal de alta performance e encontrou-se uma população trabalhadora do meio florestal ou sem condições gerais de utilização do potencial dos equipamentos, ou mesmo oriunda do meio florestal, que necessitava de adequação de perfis e de desenvolvimento técnico para a utilização de tais potenciais.
Sendo assim, além de desenvolvimento de técnicas de processo e suporte, houve a necessidade do desenvolvimento de mão de obra especializada, a partir de treinamentos específicos, considerando que muitos operadores de equipamentos básicos, quando guindados a operação de novos equipamentos, mais complexos, mais ergonômicos, não deram a resposta esperada em termos de produtividade, qualidade e segurança (muito por deficiência ou, em alguns casos, ausência de perfil profissional específico).
Com todo esse processo de desenvolvimento tecnológico relacionado à exploração florestal, percebe-se que o perfil de mão de obra mudou significativamente, determinando, dessa forma, a necessidade de canalização específica de pessoas que possuíssem elementos específicos, a fim de que fossem treinadas e desenvolvidas para o atendimento das necessidades dos novos equipamentos inseridos.
Perfil da atividade de Operador: Sabe-se, de longa data, que não pode desenvolver-se aquilo que não se tenha, mesmo que latente. Sendo dessa forma, precisou-se estudar quais as habilidades necessárias para que a atividade fosse executada de forma eficiente e segura para o operador, para os outros atores desse cenário de colheita florestal, do equipamento e do meio ambiente.
Surge aí a compreensão de que as necessidades da atividade precisavam ser supridas pelo operador do equipamento, que, muitas vezes, não havia tido nenhum contato efetivo com o equipamento. Então, passou-se a estudar a fim de conhecer quais habilidades seriam necessárias buscar entre os candidatos à operação. Pode-se dizer que, naquele momento, parte do entendimento sobre as características humanas da operação estava encaminhada.
O passo seguinte era encontrar potenciais operadores de equipamento de colheita florestal de alta performance. Então, sabendo-se das habilidades necessárias, passa-se a buscar os perfis ideais de operadores. Verificou-se, no decorrer do processo de avaliações, que muitos potenciais operadores não eram oriundos do meio florestal. Tal fator determinou mais um elemento no rol das habilidades a serem desenvolvidas, que era a capacidade de adaptação ao meio florestal.
Passa-se, então, a buscar efetivamente as habilidades, ou também chamados RPE – Requisitos Pessoais Especiais, visando suprir eficientemente a lacuna existente entre um equipamento eficiente e uma operação no mesmo padrão.
Atualmente: Sabe-se que, entre a gama de processos florestais, abrangendo a preparação de terreno, os processos silviculturais de colheita, baldeio, transporte, suporte (implantação e conservação de estradas, abastecimento e lubrificação, supervisão), temos, em cada equipamento e processo, um perfil especifico de RPE, pois, a cada atividade, exigem-se características específicas.
Cada equipamento pede um perfil adequado de operação, um determinado nível de resultado em cada RPE. Então, faz-se necessário entendermos e avaliarmos especificamente tais necessidades.
Essa avaliação promove o preenchimento da função, de forma eficiente, para o contratante, o processo, os resultados e também para o contratado, pois pode realizar uma atividade de forma eficiente, motivada e com mitigação de riscos de acidentes e absentismo por fatores psicológicos.
Outro elemento importante de resultado de um processo seletivo eficiente é a significativa melhora de resultados obtidos a partir de processo de treinamento. Afinal, como dito anteriormente, não se desenvolve aquilo que não se tem. Nesse momento, as habilidades encontradas nos candidatos podem ser efetivamente transformadas em competência e, assim, os resultados esperados (ganho produtivo, mitigação de perdas e ineficiência mecânica, redução de gastos com combustível, mitigação de riscos de acidentes ambientais e de trabalho). Cabe ressaltar a evolução significativa estabelecida por instituições voltadas ao treinamento e ao desenvolvimento de capital humano no meio florestal.
Outro elemento francamente transformado no meio florestal foi a infraestrutura de suporte ao operador, com vista a evoluções em transporte, alimentação, vivência coletiva. Observou-se que, com a melhoria de condições para o trabalho, este aconteceria de forma muito mais eficiente e produtiva.
Perspectivas futuras: Observou-se que o meio florestal brasileiro respondeu, de forma exemplar, ao gap tecnológico advindo da inserção de equipamentos de alta performance. Tal situação trouxe, às claras, a capacidade do meio florestal em adaptar-se e assumir novos desafios e propostas.
Dessa forma, projeta-se, com tal capacidade de transformação, um futuro ainda mais produtivo, seguro e eficiente para o setor (esquecendo-se de dificuldades impostas de forma negativa por leis e códigos produzidos por gestores públicos, pouco afetos à realidade florestal).
Podemos imaginar que, cada dia mais, os setores de apoio ao suprimento de mão de obra desenvolverão estudos específicos para ajudar o processo produtivo a utilizar a máxima capacidade produtiva, atentando fundamentalmente à segurança dos atores florestais, do meio ambiente e, a partir daí, da saúde do capital envolvido em todo o processo.