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Bruno Pereira

Gerente de Experiência do Cliente da Remsoft para a América do Sul

OpCP79

O desafio da captação e retenção de talentos no setor
A pauta "a formação profissional versus a automação" me fez refletir por um bom tempo, isso por não concordar com essa aparente oposição. Afinal, não se trata de um embate, mas de um processo de transformação em que ambas as frentes caminham juntas. São dois desafios – e oportunidades – distintos, mas complementares. Isto é, um não anula o outro; pelo contrário, são interdependentes e se potencializam.
 
Inicialmente, é preciso entender o cenário: de um lado, um setor florestal pujante, em crescimento e com uma demanda intensa por mão de obra qualificada; do outro, uma força de trabalho frequentemente subempregada, mal remunerada e com qualificações que não atendem às necessidades do mercado. Ainda que haja capital financeiro disponível, a frustração é evidente, considerando que falta gente qualificada ou com a qualificação certa. 

Seja para operar máquinas, seja para tomar decisões estratégicas, o setor clama por mão de obra, mas a tarefa de encontrá-la e retê-la é árdua. Diante dessa dificuldade, a automação surge como uma solução óbvia e inevitável.

No entanto, automatizar processos não deve ser apenas uma resposta à escassez de mão de obra. A automação é, acima de tudo, uma estratégia de sobrevivência, tendo em vista que reduz custos, aumenta a competitividade, minimiza riscos e melhora a satisfação dos colaboradores. No limite do exagero, qualquer atividade passível de automação não deveria (ou ao menos não precisaria) ser executada por humanos. 

Um estudo da McKinsey aponta que, até 2030, 30% das horas trabalhadas nos EUA poderão ser automatizadas, uma tendência acelerada pela Inteligência Artificial. Em um cenário ideal, uma empresa altamente automatizada permitiria que seus colaboradores se concentrassem no que realmente exige criatividade, inteligência emocional e pensamento crítico. 

Máquinas, robôs e softwares devem ser encarados como aliados, não como substitutos. Sistemas e processos devem operar de forma autônoma sempre que possível, liberando as pessoas para agregar valor naquilo que realmente importam e fazem diferença. A automação bem implementada pressupõe que os talentos humanos são direcionados para seu maior potencial, enquanto as tarefas repetitivas são deixadas para as máquinas.

Contudo, o mundo ideal não é o mundo real. A automação não acontece sozinha, ela depende de pessoas. Pessoas essas constituídas por profissionais que projetam, operam e aprimoram esses sistemas e processos. A implementação de novas tecnologias exige conhecimento, adaptação e, acima de tudo, qualificação. 
 
Temos um paradoxo aí. Buscamos a automação para lidar com a escassez de talentos, todavia a automação só será bem-sucedida se houver talentos para concebê-la e operá-la. No contexto do software, a realidade não é diferente. Conectar sistemas, integrar bancos de dados, automatizar processos – tudo isso já é possível e amplamente aplicado. 

Entretanto, as decisões devem ser pautadas de modo a garantir que essas automações de fato agreguem valor e tragam ganhos reais, e isso só é possível através de pessoas qualificadas. O problema não é simplesmente a falta de qualificação profissional. É fácil encontrar pessoas com mestrado, doutorado e pós-doutorado, por exemplo. Nunca tivemos uma força de trabalho com um nível educacional tão alto. Podemos até falar sobre a qualidade do ensino, mas o índice de tempo médio de estudo da população vem aumentando.
 
O expressivo crescimento do setor florestal brasileiro foi impulsionado por muito trabalho, esforço e inteligência. No entanto, a média de qualificação profissional da população à época não era superior à de hoje. Décadas atrás, não se falava em engenheiros dirigindo táxis. Nos dias atuais, é comum encontrar os famosos engenheiros motoristas de aplicativos, um reflexo de um problema mais profundo: profissionais enfrentam dificuldades para se posicionar no mercado. 
 
O grande desafio não está apenas na qualificação, mas no desalinhamento entre as competências desenvolvidas e as reais necessidades do setor produtivo. Essa desconexão entre o mercado de trabalho e a oferta de profissionais é um problema estrutural. Vemos universitários, por exemplo, sendo formados para áreas com baixa demanda, enquanto setores estratégicos e em crescimento, como o florestal, enfrentam dificuldades para atrair e reter talentos. O primeiro desafio, portanto, é direcionar esses estudantes para as áreas onde realmente há demanda.
 
O setor florestal precisa reforçar sua atratividade. Muitas vezes, a percepção externa sobre o setor ainda está presa a paradigmas antigos, o que afasta potenciais talentos. 

É primordial que o setor se posicione como inovador, sustentável e com oportunidades para o crescimento profissional (“Sim, vai fazer tem pro seu bolso vir pra cá”). A comunicação eficiente sobre os diferenciais do segmento pode ser um fator crucial na captação de novos talentos.

Após a formação e absorção desses talentos, o obstáculo que surge é a retenção. As novas gerações, e aqui eu como millennial me incluo, cresceram em um ambiente hiperestimulado, bombardeados por informações e redes sociais, por isso tendem a ser imediatistas e pouco pacientes e buscar desafios constantes. Por outro lado, são nativos digitais e possuem um alto grau de familiaridade com a tecnologia, o que pode ser um grande diferencial na implementação de novas soluções. 

A adaptação à nova cultura de trabalho é fator fundamental para atrair e reter esse público. A digitalização, o trabalho remoto e modelos flexíveis são cada vez mais valorizados pelas novas gerações. Empresas que souberem equilibrar suas necessidades operacionais com essa nova dinâmica terão maior sucesso na retenção de profissionais qualificados.

As novas gerações já representam a maior parte da força de trabalho, e essa participação só tende a crescer nos próximos anos. Engajar esse público não é uma opção, mas uma necessidade estratégica.Diante desse cenário, o setor florestal precisa melhorar sua comunicação para atrair profissionais, bem como deve adaptar suas práticas para melhor integrar e reter essa nova geração de trabalhadores.
 
Empresas que conseguirem alinhar suas estratégias de automação com políticas eficazes de captação e retenção de talentos terão uma vantagem competitiva significativa. Afinal, não basta apenas investir em tecnologia; é preciso garantir que haja pessoas preparadas e motivadas para fazer essa transformação acontecer.