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Alberto Mori

Presidente da ABTCP - Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel

Op-CP-08

O cenário da celulose não se aplica ao papel

Há tempos que especialistas em estudos sobre tendência de mercados – produtor e consumidor – vêm sinalizando certos movimentos de migração de centros industriais de commodities para determinados pólos do planeta. Nada mais coerente, quando se fala de negócios globais frente à antecipação do futuro das mudanças empresariais, rumo à consolidação de alguns blocos de negócios.

Esta movimentação, ainda sem muitas rotas completamente definidas na geografia do planeta, começa a indicar alguns endereços, onde deverão se instalar futuramente os chamados – fornecedores globais. No caso da produção mundial de celulose, tudo indica que realmente o hemisfério sul do planeta deverá ser o grande centro de produção da commodity.

Mas, o mesmo cenário não se aplica totalmente ao papel. Para analisar o destino futuro de cada produção, é preciso considerar como parâmetro, sob o ponto de vista da produção mundial da celulose, a questão do custo da madeira. Quanto ao papel, em seus diversos segmentos, outros aspectos são determinantes para viabilizar a decisão do investimento.

As mudanças de centros produtivos, pelo que se observa, ocorrem com base em certas vantagens comparativas, como a área disponível para plantio, recursos naturais, principalmente água e o clima de cada região – favorecendo ou dificultando o cultivo de florestas, como o eucalipto, para celulose de fibra curta, e o pinus, para celulose de fibra longa.

Considerando o hemisfério sul do planeta como ponto focal de produção mundial da celulose, os destaques na América do Sul ficam com o Brasil, Chile, Uruguai, enquanto na Ásia, a Indonésia está em evidência, entre outros. Nestes países, novos grandes players têm emergido no setor de celulose, assim como em outros segmentos de produtos de base florestal.

Os investimentos vêm sendo efetivados na compra de áreas, tanto para plantio de diferentes espécies, quanto para instalação de novas plantas industriais, modernização e ampliação de unidades preexistentes. Olhando para o Brasil, em especial, onde a ABTCP concentra, em maior intensidade, sua atuação setorial, voltada à formação profissional e à difusão do conhecimento tecnológico, as vantagens naturais são inquestionáveis para o cultivo, principalmente, do eucalipto e também do pinus.

Como conseqüência das pesquisas avançadas sobre Engenharia Genética, técnicas de plantio, desenvolvimento clonal e tecnológico, os ganhos vêm se mostrando muito significativos no país, em termos de produtividade da madeira. As inovações neste sentido, obtidas na última década, elevaram a produtividade da madeira ao dobro, indicando ainda que mais novidades serão conhecidas no futuro deste processo de desenvolvimento.

Haja vista as pesquisas apresentadas recentemente durante o 3º ICEP - 3º Colóquio Internacional sobre Celulose de Eucalipto - realizado de 4 a 7 de março de 2007, pela Universidade Federal de Viçosa, com apoio da ABTCP. O evento contou com a participação de cientistas do Brasil e estrangeiros, advindos de países, como Alemanha, Argentina, Áustria, Canadá, Chile, Estados Unidos, Finlândia, México, Portugal, Suécia e Uruguai.

Somado a essas conquistas tecnológicas, e a outros ganhos obtidos na cadeia de produção como um todo, o custo de produção da celulose no hemisfério sul tornou-se mais baixo do que a média mundial de preços, praticados no hemisfério norte. Contudo, quando entramos no âmbito de produção mundial de papel, deparamo-nos com a seguinte questão, atualmente em voga: será que a vantagem maior está em fabricar o produto próximo do centro de produção da matéria-prima ou será melhor instalar as plantas de papel próximas do mercado consumidor? Esta pergunta refere-se ao papel, em todos os seus segmentos.

No caso dos papéis tissue e embalagem, em que o índice de reciclagem atinge patamares superiores a 50%, a instalação de unidades industriais tem se confirmado na direção dos centros de consumo e distribuição dos produtos, bem como de coleta de aparas. No caso dos papéis especiais, cada caso é um caso a ser analisado. Porém, a competitividade neste segmento define-se por quem possui a melhor tecnologia, tamanho de mercado e escala de produção.

Já faz anos que o próprio BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – alertava para a perda de competitividade do Brasil no papel, devido à falta de grandes investimentos em novas máquinas. Este fato não influenciou o desenvolvimento da produção de celulose do país, em nível mundial, tanto que o Brasil é um dos principais players, tendo passado da 7ª, para a 6ª posição no ranking de produtores internacionais da commodity.

Em contrapartida, o cenário do papel no hemisfério norte, em especial, na China, tem se apresentado de forma bem mais positiva. Outro exemplo é a Escandinávia, onde novas máquinas de papel têm substituído equipamentos mais antigos, como forma de ganhar competitividade. Em outros países da Europa, a situação é semelhante, em termos de modernização de equipamentos, em substituição a máquinas mais antigas.

Muitas vezes são trocadas três máquinas de papel ultrapassadas tecnologicamente, por apenas uma máquina muito mais potente e tecnologicamente avançada. Neste cenário, um dos principais destaques do continente europeu é a Finlândia, que exporta 95% de toda sua produção de papel e opera com alta tecnologia de automação, em suas plantas industriais.

Como todas as oportunidades sempre nos trazem novos desafios, essa tendência de mudança da produção mundial de celulose e papel do hemisfério norte para o sul não foge à regra. Todas as vantagens favoráveis apontadas neste artigo começam a se deparar com alguns obstáculos, como a maior consciência ambiental da sociedade dos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, entre outras questões.

Contudo, a ABTCP tem direcionado seus esforços para a busca de soluções e antecipação de tendências de impactos do desenvolvimento, nos diversos segmentos de papel. O objetivo é oferecer suporte técnico ao setor, para superar os desafios futuros nas linhas de produção de celulose e papel, mantendo a competitividade.

Um dos principais estudos – ainda a ser lançado no setor de celulose e papel pela ABTCP – é a coletânea de publicações especializadas sobre tendências da evolução da produção do papel em todos os segmentos. Esta é uma das respostas positivas da entidade técnica, para contribuir proativamente com o desenvolvimento da nossa indústria, na conquista de seu melhor desempenho, nos próximos anos. Afinal, como dizem alguns sábios da gestão, a maior diferença entre o sucesso e o fracasso dos resultados não reside no que possa acontecer às empresas, mas em como os gestores lidam com cada obstáculo do caminho, em direção ao desempenho das organizações.