O que esperar das máquinas florestais para o futuro, estando nós inseridos na era da tecnologia e informação? O futuro da mecanização não é uma realidade distante e imprevisível, mas, sim, um reflexo das decisões que tomamos hoje. Considerando os desdobramentos das questões ambientais nos últimos anos, podemos perceber que o lucro a qualquer custo não encontra mais respaldo nos padrões que a sociedade vem buscando, assim como o desperdício, seja ele de tempo, recurso ou capital.
Com base nessa visão futurista, não podemos esperar nada menos do que máquinas que atendam aos anseios do tripé da sustentabilidade, sendo ambientalmente correto, economicamente viável e socialmente justo. E, junto a isso, máquinas que satisfaçam aos objetivos do mercado, que busca, com a eliminação de desperdícios, fazer cada vez mais com menos.
Para o futuro, serão exigidas máquinas que garantam altos rendimentos, através do aumento da produtividade e da redução dos custos operacionais, e que façam isso de forma sustentável. É possível? A viabilidade pode estar justamente no uso da tecnologia e da informação na mecanização.
O início da mecanização do setor florestal no Brasil ocorreu por volta da década de 1970, primeiro através de tratores agrícolas adaptados com pinças e, mais tarde, por máquinas tipicamente florestais, como skidder e feller bunchers. No entanto a mecanização ainda era baixa e restrita às empresas de grande capital.
Já na década de 1990, com a abertura do mercado para as importações, o mercado presenciou um expressivo aumento na mecanização. Porém o foco principal era a produção, o lucro. Notadamente, o conceito de sustentabilidade não era difundido e cobrado como acontece hoje.
A mecanização não trouxe apenas impactos positivos, junto dela vieram impactos negativos também. Como exemplo, cito a emissão de gases poluentes oriundos da queima de combustíveis fósseis, a poluição do solo e da água pelo derramamento de graxas e óleos, ruído, compactação, erosão, dentre outros.
Com base nisso, é fundamental que as máquinas projetadas para o futuro possuam, como pilar de seu desenvolvimento, formas de mitigar ou eliminar os impactos negativos causados pela mecanização.
Uma grande aliada das tecnologias que buscam a sustentabilidade é a competitividade entre as fabricantes de máquinas florestais, que garantem uma corrida positiva na busca de inovação e otimização dos processos, ofertando ao mercado maquinários cada vez mais eficientes, além de levar a mecanização aonde antes, devido a condições de terreno ou de capital financeiro, não era possível.
Sendo assim, podemos esperar um aumento, cada vez maior, no desenvolvimento de máquinas híbridas, uso de biocombustíveis, painéis solares, recirculação de gases do escape, utilização do Arla, redução de peso dos maquinários, melhor distribuição do peso nos rodados, aproveitamento de energia gerada nas operações (vibrações, peso, movimento mecânico), dentre outros.
Com tanta informação disponível, a comunicação precisará ser mais rápida e eficaz, diminuindo as fronteiras entre máquinas, campo, escritório e clientes. Quem sabe os frutos da floresta 4.0 proporcionem equipamentos cada vez mais conectados à rede e utilizando inteligência artificial.
Tudo isso para oferecer ao mercado a eliminação e redução das falhas e interrupções nos processos, bem como melhorar o aproveitamento da matéria-prima, seja pelo treinamento dos operadores em simuladores, seja por melhorias na detecção de peças com necessidade de trocar ou reparos.
Dessa forma, podemos até ousar imaginar o uso de aplicativos para compra de produtos florestais, como a madeira de reflorestamento. Permitindo, assim, que os clientes possam acompanhar, em tempo real, a quantidade de madeira disponível para carregar de cada sortimento nas empresas, programando, assim, suas cotas e tomando decisões de logística, tudo com apenas um clique.
Com os operadores cada vez mais protegidos em cabines, teremos uma redução, cada vez maior, no número de acidentes de trabalho e exposição a agentes nocivos, além da melhora na ergonomia durante a operação, o que incentiva a mão de obra no setor, que hoje enfrenta uma grande escassez.
Razoável concluir que um operador satisfeito tende a trabalhar de forma mais satisfatória e acaba por proporcionar maiores lucros para sua empresa. Outra possibilidade de inovação são as operações a distância, através de controles instalados nos escritórios, que permitam ao operador trabalhar a uma distância considerável da máquina e, ainda assim, perceber o terreno de forma muito real, com a indicação de áreas alagadas, presença elevada de pedras e/ou declividade, para auxiliar na tomada de decisão durante a operação.
Outro ganho interessante pode vir através de sistemas de detecção do humor do operador, avaliando sua feição e comportamento, e, com isso a própria máquina regula a temperatura da cabine, luminosidade e repertório musical, visando melhorar o humor dele, garantindo, assim, uma operação mais segura e eficiente.
Podemos avançar também na detecção de áreas atacadas por pragas, através de scanners em máquinas de corte, que permitam identificar árvores parasitadas e compartilhem a localização desses focos com o escritório. Mas, para isso, é primordial que haja políticas públicas específicas voltadas para o setor florestal, fomentando o desenvolvimento de pesquisas nas universidades e incentivando a parceria entre essas instituições e as empresas do setor.
Outro desafio é levar sinal de internet até os pontos mais remotos das florestas, para que ocorra o fluxo de informação entre máquinas, escritório e clientes. Diante de todo o exposto, é imprescindível que as máquinas pensadas para o futuro cumpram o papel de otimizar os processos, eliminando desperdícios e contribuindo para o fortalecimento dos pilares da sustentabilidade. Assim, é preciso concluir que a sustentabilidade é como uma estrada aberta em meio à floresta, ela não é o único caminho para garantir a produção, mas, sem dúvida, é o de maior ganho para todos.