Pesquisador da Embrapa Florestas e Consultor Extensionista de Tecnologia Florestal da Suzano, respectivamente
É notório que, em qualquer propriedade rural de uma empresa florestal, seja ela pequena ou grande, deva-se levar em consideração a variabilidade espacial e temporal existente quanto à produtividade. Porém quase sempre os objetivos principais estão centrados na busca da otimização dos recursos a serem aplicados e, consequentemente, na diminuição dos custos e dos impactos ambientais.
O conceito de produtividade florestal ou agrícola é muito amplo. Não é apenas o conceito da quantidade de um determinado produto produzido por unidade de tempo ou espaço físico (hectare, por exemplo). Conceitualmente, podemos adotar três definições: produtividade potencial, produtividade atingível e produtividade real.
Em cada uma dessas definições, existe um grupo de fatores que as sustentam: a produtividade potencial, que tem como influência a base genética (capacidade de adaptação ao ambiente) das plantas, bem como radiação solar, temperatura, CO2 e disponibilidade plena de água; a produtividade atingível, que é influenciada pelas características do sítio, como solo (disponibilidade de nutrientes, profundidade efetiva, classe textural etc.), regime hídrico (esse com grande variação temporal), relevo e altitude; e a produtividade real (medida pelo inventário florestal), que tem, como principais fatores redutores, a presença/convivência com plantas daninhas, as doenças e os ataques de pragas.
Somado a esses fatores, e não menos importante, tem-se o manejo silvicultural − esse com a devida qualidade dos tratos culturais, como peça fundamental para o sucesso de um programa de produção florestal. Tais definições e termos estão interligados e conectados como engrenagens de um motor, sendo que qualquer descompasso pode gerar “ruídos” no desempenho (desenvolvimento da floresta), ou seja, menor produtividade com maior custo por metro cúbico.
Também é importante aprofundar os conhecimentos das inter-relações entre clima, geologia, relevo, altitude e solo, trazendo informações relevantes para entender a funcionalidade de cada ambiente, com impactos significativos no tipo de manejo a ser adotado (exemplos: profundidade na subsolagem, tipos de espaçamentos e fertilizações etc.).
Enfatizando a caracterização do sítio, para a busca da maior produtividade florestal, é importante entender suas diferentes condições ambientais, visando agrupá-las, através de critérios de similaridade, e associar a elas o material genético com melhor aptidão local. Isso poderá minimizar os riscos e potencializar os ganhos quanto à variação espacial e temporal. Dentro dessa ênfase, quais seriam os passos para desdobrar a caracterização de um sítio, a fim de se obter a produtividade florestal atingível?
Com relação ao solo, é importante que as empresas florestais não foquem apenas no conhecimento da fertilidade ou da textura da camada superficial (quando muito até 40 cm de espessura). É preciso saber, de forma minuciosa, os atributos físico-hídricos, mineralógicos e morfológicos dos horizontes e/ou camadas superficiais e subsuperficiais, até pelo menos 100 cm de profundidade (quando o solo permitir – se ele não for raso ou pouco profundo), tais como: o tipo de argila (se é de alta ou baixa atividade); a cor – que traduz, de forma rápida, por exemplo, a situação de drenagem no perfil, se o solo tem potencial para maior ou menor adsorção e dessorção de fosfatos; se os horizontes têm pouca ou muita matéria orgânica; a espessura e o tipo de horizonte A; a profundidade efetiva; a consistência; a permeabilidade; a presença ou não de cascalhos (concreções); e as camadas compactadas e/ou adensadas. Todos esses atributos do solo contribuem para definir as zonas homogêneas numa propriedade florestal, ou seja, as produtividades dos sítios e suas diferenciações.
Verifica-se que as grandes e médias empresas florestais não têm medido esforços para elaborarem mapas pedológicos detalhados de suas propriedades rurais, a fim de se obter os principais fatores potenciais ou limitantes, os quais influenciem um determinado sítio a alcançar boas produtividades. No entanto, apesar desses estudos detalhados de solos de suas propriedades, muitas vezes elas optam por reagrupar algumas características específicas de solo e clima em poucas Unidades de Manejo Operacionais (UMOs). O resultado disso é que o mapeamento detalhado dos solos, cuja razão principal é caracterizar bem o sítio florestal, é distorcido, podendo afetar negativamente as potencialidades do referido ambiente num determinado momento.
Vale lembrar também que o verdadeiro uso das UMOs só ocorrem quando os silvicultores compreendem, de forma clara, seu uso, o que exige ações de extensão e educação de conceitos, prática adotada na Suzano desde 2016 e que tem revertido em excelentes aprimoramentos do manejo devido à visão crítica dos que estão na frente de plantio.
Assim, visando minimizar os erros nas junções das classes de solos em unidades de manejo, seria interessante promover a comparação de mapas da produtividade na colheita, em diferentes anos. Esse comparativo é importante no processo de identificação das UMOs, pois uma parte do agrupamento seria gerada pela variabilidade espacial, e a outra parte, pela variabilidade temporal.
De certa forma, a variabilidade espacial é atribuída a fatores que são constantes, enquanto a temporal, a fatores cíclicos. Como exemplo, podemos citar: uma área de baixada, num ano seco, pode ser o local com maior produtividade; em outro ano, mais chuvoso, essa mesma UMO de maior produtividade poderá ter uma queda acentuada, devido ao excesso de água para as plantas.
Portanto muitos fatores estão interligados para a definição dos diferentes sítios produtivos. Porém há grande probabilidade de que o conhecimento detalhado do meio físico auxiliará na compreensão das variabilidades espaço-temporais da produtividade florestal. Além disso, a incorporação de novas informações, ao longo do tempo, poderá mostrar que uma “simples” característica de solo poderá redefinir as UMOs de uma determinada propriedade rural.