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Benone Magalhães Braga e Caio Cesio Salgado

Gerente Executivo de P&D e Novos Negócios, e Especialista em Melhoramento Genético na Aperam BioEnergia, respectivamente

OpCP80

A genética florestal e o mercado de mudas
A silvicultura brasileira viveu uma revolução silenciosa nas últimas décadas. Saímos dos plantios seminais, com produtividade modesta e alta variabilidade, para o uso de clones altamente selecionados, melhorados geneticamente e adaptados a diferentes regiões do País. Isso permitiu ganhos impressionantes em volume, uniformidade e qualidade da madeira, transformando o Brasil em referência mundial em florestas plantadas e produtividade.
 
Essa transformação foi impulsionada por avanços expressivos na genética florestal, com programas de melhoramento genético convencional baseados em seleções fenotípicas cada vez mais robustas. Nas últimas décadas, esses programas incorporaram ferramentas sofisticadas, como o uso de marcadores moleculares, seleção genômica, biotecnologia e modelos estatísticos avançados. Como resultado, os materiais clonais hoje disponíveis estão mais bem adaptados a condições edafoclimáticas específicas, contribuindo para maior estabilidade produtiva e expansão do cultivo florestal para áreas antes consideradas marginais.
 
O mercado de mudas, por sua vez, tornou-se um elo estratégico nessa cadeia de inovação. A demanda crescente por materiais genéticos superiores estimulou a profissionalização dos viveiros, exigindo padrões mais elevados de qualidade, rastreabilidade e controle fitossanitário. No entanto, ainda há desafios relacionados à logística, escalabilidade e à adoção de tecnologias modernas por pequenos e médios produtores.
 
A integração entre pesquisa, produção de mudas e aplicação no campo é essencial para garantir que o potencial genético chegue plenamente ao talhão. Nesse cenário, empresas como a Aperam BioEnergia vêm se destacando por investir em programas próprios de melhoramento genético e produção de mudas clonais de alto desempenho, alinhadas às exigências do solo e clima do Vale do Jequitinhonha e outras regiões do Brasil.
 
Mais do que aplicar essa tecnologia em suas próprias operações, a Aperam disponibiliza ao mercado nacional mudas de alta qualidade, contribuindo ativamente para o fortalecimento do setor florestal e apoiando produtores e empresas em todo o País no enfrentamento dos desafios de produtividade e sustentabilidade.
 
Apesar dos avanços, um desafio persistente e imediato permanece: a produtividade real das florestas está aquém do seu potencial máximo. Há um descompasso preocupante entre o volume estimado em pé e o que, de fato, chega à indústria ou o que se esperava de produtividade em áreas plantadas — seja para celulose, serraria ou carbonização. 
 
Essa perda não se explica apenas por fatores genéticos ou climáticos, mas também por falhas operacionais no manejo, que vão desde o preparo de solo e o controle de pragas até práticas silviculturais inadequadas ou inconsistentes. Superar esse abismo entre potencial e resultado exige uma abordagem integrada, que combine genética de ponta, mudas de alta qualidade, manejo rigoroso e inovação contínua no campo.
 
A ponte entre genética e campo - o papel dos viveiros: Nesse cenário, o mercado de mudas assume papel estratégico ao ser o elo entre os avanços científicos e a realidade operacional no campo. Viveiros modernos deixaram de ser apenas estruturas produtivas para se tornarem centros de inovação e excelência técnica. Cabe a eles garantir que os materiais genéticos de alta performance cheguem ao campo com qualidade fisiológica, sanidade e rastreabilidade.
 
A produção de mudas clonais por miniestaquia, micropropagação ou sementes melhoradas exige infraestrutura tecnificada, controle de qualidade e capacitação constante. Falhas nesse processo geram mudas de baixa qualidade que afetam a sobrevivência e produtividade florestal, e mesmo o uso de clones fora da sua zona de adaptação gera prejuízos que se acumulam ao longo de todo o ciclo florestal. A multiplicação em larga escala de genótipos superiores também impõe desafios, já que nem todos os clones respondem bem aos métodos de propagação, e a estabilidade genética deve ser mantida rigorosamente.
 
Manejo: um gargalo produtivo: Mesmo o melhor material genético não expressa seu potencial se o manejo for falho. Plantios malconduzidos, falhas na correção de acidez do solo, adubação desbalanceada e controle ineficiente de pragas — especialmente a formiga cortadeira — são exemplos de fatores que reduzem a produtividade final. Estima-se que perdas de até 30% possam ocorrer somente por controle inadequado dessa praga.
 
Além disso, o adensamento dos plantios, muitas vezes adotado para aumentar a produtividade por hectare, exige cuidados técnicos adicionais. Em regiões com déficit hídrico, o espaçamento inadequado pode gerar competição excessiva por recursos, elevando o risco de mortalidade precoce, perda de uniformidade e produtividade.
 
Mudanças climáticas e o desafio da adaptação: As alterações no regime hídrico, temperaturas extremas e eventos climáticos imprevisíveis já impactam o crescimento das florestas plantadas. A seleção e o uso de clones adaptados tornam-se, assim, um dos principais focos dos programas de melhoramento. Em regiões como o Cerrado, com baixa precipitação e solos pobres, o ajuste genético e o manejo integrado são fundamentais para garantir produtividade sustentável.
 
Colheita e aproveitamento: a ponta do ciclo: Outro ponto crítico é a eficiência da colheita. Restos deixados em campo, como galhos e ponteiros, muitas vezes representam biomassa valiosa que poderia ser aproveitada para fins energéticos, produção de carvão vegetal ou compostagem. A economia circular no setor florestal ainda é subexplorada, apesar do potencial técnico e ambiental que representa.
Além disso, o transporte, o planejamento de corte e a qualidade das operações impactam diretamente o rendimento industrial. Perdas logísticas e operacionais, muitas vezes invisíveis aos olhos do planejamento central, também contribuem para o descompasso entre expectativa e realidade produtiva.
 
Produtividade como construção contínua: A genética florestal avança por trilhas antes inexploradas, com novas tecnologias como CRISPR e transgenia abrindo caminhos promissores. Essas ferramentas ampliam as possibilidades de ganhos rápidos e precisos em características estratégicas, como resistência a pragas, tolerância a estresses ambientais e maior eficiência no uso de recursos naturais. No entanto, o melhoramento genético convencional permanece como uma base sólida e insubstituível. Com décadas de validação em campo, ele segue sendo o motor confiável que sustenta a produtividade florestal no Brasil.
 
Se o melhoramento tradicional é como um motor de precisão desenvolvido ao longo do tempo, as novas biotecnologias são como turbinas acopladas — capazes de impulsionar ainda mais o desempenho, mas sempre dependentes da estrutura firme que as sustenta.  
 
O verdadeiro desafio está em integrar essas inovações de forma harmoniosa, mantendo a consistência técnica, respeitando os marcos regulatórios e assegurando a sustentabilidade de longo prazo. A missão é clara: produzir mais em menos espaço, conservar os recursos naturais e melhorar vidas por meio de uma silvicultura inteligente, inclusiva e regenerativa. 
O futuro da produtividade florestal dependerá, portanto, da nossa capacidade de combinar genética, ciência, estratégia, execução e responsabilidade socioambiental com equilíbrio e visão integrada.