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Manoel de Freitas

Consultor Especialista Florestal

Op-CP-24

Entendendo as novas fronteiras da floresta plantada

Comenta-se que somente compreendemos aquilo que entendemos, e, muito embora com jeito de filosofia acaciana, podemos aplicar essa afirmação para compreender as novas fronteiras das florestas plantadas no Brasil. Conforme Abraf 2011, havia no País, em 2010, uma área de 6.511.000 hectares com eucaliptos e pinus, além de 462.000 ha de outras espécies, perfazendo um total de quase 7 milhões de hectares.

Quando se consideram os projetos de expansão florestal dos vários segmentos industriais, provavelmente já contidos na recente meta do governo de dobrar a área plantada em uma década, pergunta-se: onde iremos plantar os outros 7 milhões de hectares? Novos 7 milhões de hectares de plantio necessitarão por volta de 14 milhões de hectares de área total, considerando Reserva Legal, APPs, estradas, áreas inaproveitáveis, restrições ambientais, etc.

Os preços e a disponibilidade de terras variam muito de região para região. Plantações florestais em áreas tradicionais se localizam nas regiões Sul, Sudeste e nos estados da BA e MS. Como novas fronteiras, se consideram o norte e leste de MG, sul do RS e principalmente, o que é hoje denominada de MAPITO – região composta por Maranhão, Piauí e Tocantins.

Estariam esses novos 14 milhões de hectares ainda no Sul, Sudeste, BA e MS, onde se concentram 91% dos atuais plantios? Certamente que uma pequena parte desse total, mais provavelmente no MS. Baixa disponibilidade de terras, altos preços das propriedades, algumas restrições de natureza social, nessas regiões, empurram a expansão para as novas áreas.

Uma boa maneira de entender, então, o cenário é examinar o ambiente de negócios nessas novas fronteiras, pelos seus pontos fracos, fortes, ameaças e oportunidades. Nessa abordagem, estaremos nos propondo examinar tão somente a região de MAPITO por ser aquela que desperta o maior interesse dos investidores atuais e que dispõe das maiores extensões de terras para reflorestamento.

Pontos Fracos: Há uma escassez de mão de obra qualificada nessas regiões. Possivelmente, terão de vir de outros centros do País.  Os custos de reflorestamentos serão mais elevados do que a média das regiões tradicionais, pelo menos no início das atividades, devido à curva de aprendizagem em uma nova região e pelo fato de que costumeiras práticas florestais e recomendações de adubação terão que passar por ajustes para darem os efeitos esperados.

A má distribuição de chuvas, longos períodos secos e o elevado déficit hídrico devem complicar o cumprimento dos grandes programas anuais de plantio. A ausência de uma boa infraestrutura, como estradas, sistema de educação e de saúde das comunidades, terá que ser equacionada.

Pontos Fortes: Em todas as situações observadas, se percebe uma alta receptividade dos governos locais, o que incluem, entre outros apoios, incentivos ou renúncias fiscais. A disponibilidade de terras a preços baixos, comparativamente às regiões tradicionais, é um enorme atrativo.

Oportunidades: O baixo preço das propriedades rurais deve viabilizar os retornos desejados pelos investidores. É esperada uma elevada apreciação das terras, que passarão por uma valorização real e que melhorará em muito a taxa interna de retorno dos projetos.

Ameaças: A supressão da vegetação nativa poderá gerar reações de grupos ambientais, item a ser considerado na avaliação do investimento.

A adaptabilidade do material genético será talvez o problema nº 1 a ser enfrentado, e, uma vez adaptada e equacionada, a produtividade esperada não será parecida com aquelas encontradas nas regiões tradicionais; com certeza, os programas implantados nas novas fronteiras derrubarão a média nacional para o eucalipto dos dias de hoje. Tanto o atual clima das áreas, como possíveis mudanças climáticas previstas ao longo do tempo, concorrerão para a ocorrência de novas pragas e doenças, e a escolha do material genético terá que considerar esse fator.

Nada mais estimulante para um profissional da área florestal do que plantios em novas fronteiras. São os desafios que fazem a ciência avançar. Com certeza, em poucos anos, haveremos de constatar que os pontos fracos e as ameaças foram todos superados. Tem sido o que tenho visto ao longo de 40 anos de trabalho na área florestal.