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Sharlles Christian Moreira Dias e João Flávio da Silva

Coordenadores de Nutrição, Manejo e Proteção Florestal, e de Melhoramento Genético e Biotecnologia da Eldorado, respectivamente

Op-CP-57

Danos por ventos: como mitigá-los?
Em sua definição mais simples, os ventos são originados pelos deslocamentos horizontais e verticais do ar, provocados por diferenças  de gradientes de pressão na atmosfera. A variação do balanço de energia é responsável pela intensidade e direção dos ventos, e isso ocorre porque o sol não aquece a atmosfera de forma homogênea, causando variações no campo de pressão atmosférica.

Nesse contexto, a região tropical tem excesso de energia, ao passo que as regiões polares têm déficit de energia. Dessa forma, os ventos, assim como as correntes marítimas, buscam o equilíbrio térmico, nunca atingido, mas promovem a redução das diferenças de temperatura entre o equador e os polos.
 
Os ventos que causam danos às plantações brasileiras geralmente estão associados a fortes tempestades que ocorrem em períodos de transição da época seca para a chuvosa ou durante a época chuvosa. Na literatura, existem relativamente poucos trabalhos e estudos relacionados ao tema, porém ocorrências significativas já foram registradas no oeste e no norte de Minas Gerais, sul da Bahia, Espírito Santo, vale do Paranaíba e oeste de São Paulo. Porém ainda não foram publicados trabalhos ou relatos para a região do Mato Grosso do Sul.
 
De 2014 a 2019, a Eldorado Brasil – região de Três Lagoas-MS – registrou ocorrências de danos ocasionados por ventos em aproximadamente 8% da sua base florestal. Desse total, 60% correspondem a danos de severidade baixa ou muito baixa (ligeiramente inclinadas ou curvadas); 19% correspondem a árvores tombadas (sem quebra) e 21% correspondem a árvores efetivamente quebradas.

Para se ter uma dimensão da gravidade do problema, no mesmo período, a área afetada por incêndios florestais foi cerca de 14 vezes menor. Além dos prejuízos econômicos, como redução de produtividade e/ou área plantada, mesmo em florestas menos afetadas, temos prejuízos de ordens operacionais, dificultando a realização de atividades de silvicultura (manuais ou mecanizadas), além de aumentar o risco de ocorrências de acidentes e aumento de custo da colheita florestal.
 
Em termos médios, as velocidades dos ventos na região são baixas, ao longo de todo o ano, os quais são classificados como calmaria ou sopros (< 4,0 km/h), porém os danos estão associados a eventos de tempestades fortes. Devido à sua localização geográfica, o Mato Grosso do Sul (destaque para a costa leste) está sujeito à passagem de vários sistemas atmosféricos de origem tropical e extratropical, sendo que vários deles possuem configurações que favorecem a ocorrência de tempestades locais.

Vindos do Norte, temos os sistemas que atuam na região amazônica, enquanto, da região Sul, originam-se os sistemas frontais. Os principais fenômenos de ventos observados em tempestades na região são: Microburts (ventos de até 270 km/h, duração de até 15min, 1 km de range de atuação); Macroburts (ventos de até 215 km/h, duração de até 30min, range de atuação maior que 4 km) e tornados. Temos ainda ocorrências de tempestades unicelulares e supercelulares, sistemas convectivos de mesoescala e complexos convectivos de mesoescala, que variam em escala de tempo e área.
 
Considerada uma das regiões com elevado potencial produtivo e, atualmente, o estado com a segunda maior área de eucalipto plantado do Brasil, superando 1,1 milhão de hectares, torna-se necessária a adoção de práticas de manejo e pesquisas capazes de mitigar os riscos associados a essas perdas.
 
O primeiro passo é o monitoramento contínuo das florestas, de forma a identificar as áreas com ocorrências dos danos. Nos últimos anos, tecnologias de sensoriamento remoto, como nanossatélites ou sobrevoos com drones/VANTs, estão sendo utilizadas com maior precisão e rapidez para quantificação das áreas e classificação da severidade.

Essas informações permitem a realização de análises que buscam correlacionar os danos com regiões específicas ou materiais genéticos plantados. De maneira geral, as áreas mais impactadas sempre estão relacionadas com ocorrências de fortes tempestades, e, dessa forma, informações meteorológicas são adicionadas às análises para validação dessa hipótese.
 
Com relação às informações de danos ocasionados aos diferentes materiais genéticos, a empresa utiliza duas principais estratégias para tentativa de avaliação de susceptibilidade: a) Percentual de Quebra Relativa e b) Tracionamento de Clones – determinação da força necessária para quebra de árvores.
 
A avaliação do percentual de quebra relativa (%QR) é obtida através da razão entre a área afetada em determinado clone e a área total plantada desse mesmo material genético (%QR = Área clone afetada / Área Total clone Plantada x 100). Esse índice permite a comparação dos diferentes clones, independente da área plantada de cada um, reduzindo possíveis equívocos de interpretações, caso apenas a área absoluta afetada fosse comparada.

Resultados da empresa mostram que esse índice atualmente varia de 0% a 26%. Nesse caso, os clones com maiores valores são retirados do programa de plantio anual, sendo considerados mais susceptíveis. Já a avaliação de Tracionamento de Clones se baseia na utilização de uma metodologia que avalia a força necessária para provocar a quebra da árvore – kgf/m e/ou o Momento de Ruptura – kgf/cm².
 
Nessa metodologia, clones de interesse são submetidos às forças de tração na região média da copa, na tentativa de simular a atuação do vento. São avaliadas as trações em que a árvore se quebra, ou sua copa toca ao solo. Na figura em destaque, podem-se verificar os valores críticos de tração necessários para o colapso de 11 clones avaliados em plantios comerciais no Mato Grosso do Sul. Observa-se que existe uma variabilidade muito grande entre os clones quanto a suas resistências aos danos causados pelos ventos e tempestades.
 
 Os valores Torque crítico (kgf/m) necessário para ruptura das árvores servem para se fazer um screening de uma grande quantidade de materiais genéticos nos Testes Clonais, selecionando aqueles que apresentarem maior resistência à quebra – maior força para ruptura, antes de serem implantados em Testes Clonais Ampliados, de uma forma simples e a custo baixo. Esses valores também podem ser utilizados para um zoneamento de plantios comerciais, ou seja, mapear as áreas de maior ocorrência de ventos e realizar o plantio de clones comerciais que apresentem maiores forças de ruptura.
 
Outros critérios têm sido avaliados, porém ainda sem resultados práticos efetivos, como características de copa e índice de área foliar, características de sistema radicular e arquitetura das árvores. Também estamos avaliando ocorrências de correlações entre espaçamentos/densidades de plantios e possíveis efeitos sobre a rugosidade aerodinâmica da superfície.
 
Dada a relevância do assunto, são necessários maiores esforços por parte das empresas e instituições de pesquisas para o desenvolvimento de trabalhos nessa área, principalmente buscando um zoneamento eólico capaz de identificar as regiões de maiores riscos, permitindo plantios de materiais tolerantes e minimizando os impactos sobre os povoamentos florestais.