Coautor: Luciano Simão, editor da Revista B.Forest
Quando analisamos o futuro da colheita de madeira, não há mais necessidade de se discutir, como ainda ocorre na silvicultura, a mecanização dessas operações. Na colheita, graças aos grandes avanços nas últimas décadas, tanto em máquinas adaptadas para operação florestal quanto em equipamentos florestais purpose-built, a mecanização da colheita já é uma realidade em todo o mercado florestal avançado, como é o caso do setor brasileiro de florestas plantadas.
O que hoje se visualiza para o futuro da colheita são os passos seguintes à mecanização já alcançada. Em curto prazo, o uso de inteligência artificial, algoritmos de machine learning, ferramentas de georreferenciamento, tecnologias embarcadas e Big Data para o estabelecimento de uma operação integrada, inteligente e conectada em nuvem às centrais de dados.
Em longo prazo, graças aos avanços na própria mecanização da silvicultura, um planejamento florestal tão integrado a essas tecnologias que permitiria a automação das operações de colheita de madeira, ou seja, sem operadores humanos nas máquinas – tema que já vem sendo pesquisado nas principais instituições de pesquisa, fabricantes de máquinas e equipamentos e empresas de base florestal.
Embora possa parecer distante a ideia de uma colheita completamente automatizada, com máquinas e equipamentos inteligentes seguindo linhas de plantio com árvores georreferenciadas individualmente, os primeiros passos já estão sendo dados em termos das inovações que as grandes fabricantes do segmento estão trazendo às suas novas soluções e que vêm divulgando nos maiores eventos do setor.
Essas inovações dizem respeito não somente às tecnologias embarcadas, mas em melhorias técnicas em geral, visando, principalmente, ao aumento da produtividade e à redução de custos operacionais e de manutenção. Máquinas cada vez mais produtivas, seguras, econômicas, estáveis, conectadas e inteligentes, além de novos simuladores para treinamento de operadores com tecnologias de realidade virtual, parecem ser a tendência para o futuro dos grandes players do mercado.
A John Deere, por exemplo, anunciou, recentemente, o lançamento de um novo sistema integrado de planejamento e de produção da família TimberMatic de softwares, que fornece ao operador uma ampla gama de informações em tempo real sobre o talhão em que está operando, marcando individualmente os dados de cada árvore colhida, opção que virá de fábrica nos harvesters e forwarders série G no exterior. Já no Brasil, a empresa apresentou, na Expoforest 2018, a máquina florestal 2144G, primeira fabricada no Brasil, pensada e projetada para atuar como carregador, processador ou garra traçadora, com grande versatilidade para lidar com diversas realidades da colheita florestal.
A finlandesa Ponsse, por sua vez, tem buscado a filosofia Boost/Save (impulsionar/economizar) em seus produtos, sempre com o objetivo de fornecer uma colheita florestal mais rentável, produtiva e segura. Dentre as soluções apresentadas recentemente pela companhia, vale destacar os lançamentos divulgados na feira FinnMETKO: o Forwarder Bison, com capacidade para 16 ton e transmissão CVT, e do versátil Harvester Cobra, que opera com apenas uma bomba hidráulica de 210 cm3.
Melhorias estruturais nas máquinas para maior eficiência e redução de custos não são as únicas que as fabricantes têm buscado. Soluções para maior segurança e produtividade também vêm sendo desenvolvidas para permitir operações rentáveis em condições adversas, de terrenos acidentados a áreas acentuadamente declivosas.
A Komatsu Forest, com soluções como o harvester de oito rodas 913XC, visa fornecer estabilidade para operações em áreas declivosas graças a uma melhor manobrabilidade e estabilidade das máquinas, assim como baixa compactação de solo, aliando sua aplicação também ao uso de guinchos florestais operados remotamente, que fornecem o ponto de ancoragem para operação em áreas com declives desafiadores à produtividade e à segurança do operador.
Em termos de colheita em áreas declivosas, o pesquisador John Garland destacou, no 18º Seminário de Colheita e Transporte de Madeira, realizado em abril deste ano no Brasil, que ainda é necessário demonstrar novos sistemas mecanizados de colheita com a colaboração da indústria; analisar as respostas práticas e fisiológicas dos operadores durante a operação; desenvolver orientações e critérios para o design de novos sistemas de colheita e educar os profissionais envolvidos no segmento.
Aprimoramento dos sistemas de monitoramento online, otimização e planejamento na logística de abastecimento florestal, otimização de estradas florestais para sistemas de colheita, avanços na mecanização da silvicultura para sua integração com os processos de colheita: todos esses desafios estão sendo abordados e enfrentados com grande inovação pelo setor mundial das florestas plantadas.
Em suma, podemos dizer que a colheita do futuro será mais sustentável, tanto ambiental quanto economicamente; será mais rentável, tanto por aumento de produtividade quanto por economia de combustível e outros custos; e será, enfim, muito mais inteligente, versátil e segura.