O setor florestal brasileiro se tornou referência mundial tanto em produtividade florestal quanto em custos de produção de madeira. Essa posição de destaque é devido, em grande parte, ao desenvolvimento e à incorporação de tecnologias em seus processos. Evoluímos muito no grau de melhoramento dos materiais genéticos utilizados nos plantios comerciais, na clonagem dos materiais genéticos superiores via miniestaquia, nos tratos silviculturais, desde o preparo do solo, adubação de base e complementares, controle de mato e formiga, sistemas de plantio e irrigação, até a determinação do melhor espaçamento para cada condição edafoclimática.
Também evoluímos muito, e talvez de forma mais intensiva, nos sistemas de colheita florestal. Em poucas décadas, abandonamos o machado, que permitia a colheita e o processamento de poucos m³ de madeira por homem por dia, para trabalharmos com equipamentos com capacidade superior a 120 m³ por hora, sem mencionar todos os ganhos em segurança e ergonomia. Entretanto, a pergunta aqui é: o que vem pela frente?
Apesar da grande evolução do setor florestal nas últimas quatro ou cinco décadas, ainda há muito espaço para avançar com as novas tecnologias que estão por vir. No campo da biotecnologia, ainda nem começamos a usufruir dos materiais geneticamente transformados, que podem conferir maior produtividade florestal, melhor qualidade da madeira, tolerância a estresses hídricos e térmicos, entre outras características. Similarmente a outras culturas, como a soja, o milho e o algodão, a tendência é que, no meio florestal, esse tipo de material se torne predominante no médio e no longo prazo.
No campo do melhoramento genético clássico, novas espécies e gêneros florestais com maior tolerância a estresses hídricos e térmicos devem ganhar espaço nos plantios comerciais para produção de celulose, carvão ou painéis, principalmente nas novas fronteiras florestais, como Maranhão, Piauí e Tocantins. No tocante à biomassa para geração de energia, podemos ir além das novas espécies e gêneros florestais.
Existem vários estudos avançados no desenvolvimento da cana energia, que tem potencial de produzir mais do que o dobro de matéria seca por hectare do que um plantio tradicional de Eucalyptus dedicado para geração de energia. Indo mais além, já é possível pensar em utilizar biomassa proveniente do cultivo de algas para a geração de energia, com poder calorífico muito superior à madeira de Eucalyptus. Na silvicultura, o processo de automação e de mecanização das operações avança a passos largos.
Já existem tecnologias disponíveis para a automação quase completa da produção de mudas. A tendência é que os jardins clonais sejam substituídos por produção de explantes em sistemas de biorreatores; o plantio de estacas manual, substituído por braços mecânicos; a movimentação, a alternagem, a classificação e a expedição manual das mudas, substituídas por sistemas de movimentação automatizados. Tudo isso já é realidade, podemos visitar viveiros de mudas clonais de flores na Holanda, com capacidade de 36 milhões de mudas, operando com apenas 21 funcionários.
Nas operações de implantação, reforma e manutenção de florestas, já existem vários projetos em estágios avançados, com protótipos em fase de testes no campo. Em poucos anos, é esperado que as operações de preparo de solo, plantio, irrigação, fertilização, controle de mato e controle de formiga estejam sendo realizadas de forma mecanizada, com equipamentos projetados especificamente para esse tipo de atividade, e não com equipamentos agrícolas adaptados para as condições florestais. Todo esse movimento visa compensar a escalada de custos de mão de obra, combustíveis, impostos, inflação, entre outros.
Além dos ganhos de segurança, ergonomia, redução de custos e menor dependência de mão de obra, outro grande ponto positivo que a mecanização traz é a possibilidade de embarcar nessas máquinas computadores de bordo, sensores e GPS, que permitem o monitoramento, em tempo real, de todas as atividades realizadas, o que implicará ganhos significativos de eficiência e qualidade das operações. Falhas de equipamentos e erros humanos, nas mais diversas atividades relacionadas à silvicultura, poderão ser facilmente identificados e corrigidos e, em alguns casos, em tempo real.
Outra ferramenta importante é o sensoriamento remoto por meio de imagens aéreas via vants (veículos aéreos não tripulados), imagens de satélite ou imagens mais sofisticadas obtidas por meio de equipamentos como o Lidar. Tais tecnologias estão cada vez mais acessíveis e permitirão o monitoramento da produtividade florestal, da quantificação de danos causados por pragas, doenças, incêndios, vento ou qualquer outra anomalia causada por fatores bióticos ou abióticos, permitindo a otimização da produtividade das florestas.
Tais tecnologias também estão sendo utilizadas do ponto de vista da preservação ambiental, por meio do monitoramento de florestas nativas, permitindo o seu acompanhamento e a sua proteção. Na operação de colheita florestal, não se visualizam grandes mudanças no curto e no médio prazo, por se tratar de uma atividade praticamente 100% mecanizada e que já teve uma grande evolução nos últimos anos.
Entretanto avanços incrementais estão sendo agregados a essa operação constantemente, como o uso de cabos que permitem a colheita em áreas acidentadas e o desgalhamento mecanizado por meio de sistema de discos acoplados a tratores ou skidders. No tocante ao transporte de madeira, o grande investimento que está sendo feito é no desenvolvimento de composições mais leves e resistentes, por meio da aplicação de ligas metálicas diferenciadas, visando ao aumento da capacidade de transporte.
Outro grande investimento nessa área é no controle da operação logística, permitindo o rastreamento, em tempo real, dos caminhões e a otimização do tempo de deslocamento, carregamento e descarregamento, bem como do tempo de fila externo e interno nas fábricas, visando reduzir o custo do frete, que, na maioria das vezes, é o maior custo da madeira entregue na fábrica.
No geral, nos próximos dez ou quinze anos, devemos passar por um processo intenso de automação e de mecanização das atividades de silvicultura, início dos plantios comerciais com materiais geneticamente transformados, introdução de novas espécies/gêneros nos plantios comerciais, exploração de fontes alternativas de biomassa para produção de energia, monitoramento remoto das atividades de toda a cadeia florestal, desde o viveiro de mudas até o transporte e o processamento da madeira.
A silvicultura de precisão será uma realidade. O uso de vants e de imagens de satélite será intensificado e melhorado, passando a ser uma ferramenta comum de monitoramento das florestas. Enfim, ainda há muitas inovações ou avanços tecnológicos por vir, levando as operações florestais a um novo patamar de produtividade, eficiência, custos, segurança e sustentabilidade. O quão rápido isso irá acontecer é difícil determinar, entretanto a incorporação da evolução tecnológica é um caminho sem volta.