Não existe um binômio tão indissolúvel como silvicultura e carbono. Neste momento em que claramente notamos que há uma emergência climática em curso e que precisa de ações concretas, entendemos que temos uma silvicultura capaz representada pelo sistema solo-plantações como uma alternativa real de redução e estocagem imediata de carbono como uma das respostas imediatas que precisamos usar como uma das formas de mitigação do problema.
Comprovada por estudos recentes essa emergência climática, caracterizada principalmente pelo aumento da concentração de CO2 na atmosfera e, em especial, no Brasil, afetando nossas plantações devido à redução da precipitação e ao aumento da temperatura, a Embrapa publicou um trabalho recente onde se verificou o comportamento climatológico na região Sul do Brasil e a capacidade de emissão/remoção de carbono em solos cultivados com eucalipto. O resultado da modelagem mostrou que as perdas acumuladas em termos absolutos são significativas e podem chegar à região de estudo a mais de oito milhões de toneladas de carbono em 2035, representando perda de 2,5% do carbono armazenado nas florestas, nas áreas do estudo.
A silvicultura se apresenta como fundamental no cenário socioambiental, pois uma das fontes de grande reserva de carbono é o solo, por isso estudos intensos vêm sendo conduzidos visando quantificar a sua contribuição, o desenvolvimento e a busca de tecnologias que permitam recuperar e/ou aumentar os estoques de carbono.
Um desses estudos foi conduzido pela pesquisadora Devin McMahon, do Departamento de Ciência do Sistema da Terra, da Universidade de Stanford, EUA; visando avaliar o efeito do manejo no solo, foram comparados solos sob eucalipto com solos sem manejo silvicultural.
Foram analisados dez talhões de eucalipto e seis talhões de outros tipos de vegetação — quatro reservas de vegetação nativa e dois de pastagens—, que foram previamente amostrados em 2004, em estudo realizado pela equipe da Universidade Federal de Viçosa. O estudo realizado em 2016 avaliou seis plantações de cinco empresas florestais e abrangeu um gradiente do Cerrado até a Mata Atlântica costeira. Foram coletadas amostras de solo até a profundidade de 100 cm, sendo quatro amostras compostas por talhão, em cinco profundidades (0-10, 10-20, 20-40, 40-60 e 60-100 cm).
Cada amostra composta, por sua vez, foi formada por quatro amostras simples. Ao todo, foram coletadas 16 amostras simples por talhão para avaliar estoques totais de carbono. A conclusão do estudo mostrou que os estoques de carbono nos talhões de eucalipto de até 20 cm de solo mineral aumentaram, de um valor médio de 46,0 Mg/ha (erro-padrão 2,8 Mg/ha) em 2004 para 50,1 (3,1) Mg/ha em 2016.
O fator edafoclimático é o principal condicionador do teor de matéria orgânica no solo; em condições tropicais e subtropicais, onde há prevalência de elevadas temperaturas e precipitação, as boas práticas de manejo são fundamentais para aumentar o aporte de resíduos orgânicos ao solo, ou que, por outro lado, retardem a decomposição da matéria orgânica, o que potencializará a fixação de carbono por esse compartimento.
A capacidade da nossa silvicultura pode ser comprovada não só pela quantidade de áreas aptas para a sua implantação, mas principalmente pelas boas práticas de manejo do solo no setor florestal, que tem relação intrínseca com a manutenção do carbono no solo e seu balanço.
Quanto ao melhoramento genético, as empresas florestais, principalmente, que se dedicam à produção de carvão vegetal vêm produzindo espécies de maior densidade. Mais massa, mais carbono, mais retenção.
O mapeamento de solos vai determinar o maquinário de preparo condizente com as características físicas do solo, evitando consumo desnecessário de combustível e químicas, determinando a nutrição adequada de fertilizantes nitrogenados, evitando que ela contribua com as emissões. Inclusive, em um trabalho recente de monitoramento nutricional realizado por uma empresa florestal, foi analisada a série histórica de recomendações, baseada na adequação da nutrição originalmente recomendada, e foi observada uma redução de 0,035t de CO2e/ha.
O cultivo mínimo visa à manutenção da produtividade e à consequente sustentabilidade das plantações de curta rotação; ele se baseia em um conjunto de práticas silviculturais de baixo impacto ambiental empregado desde o plantio até a colheita, com preparo do solo restrito às linhas de plantio com revolvimento reduzido, manutenção e manejo de resíduos da colheita da madeira.
O incremento nos teores de carbono no solo melhora suas propriedades e, na maioria das vezes, o torna mais produtivo. Essas melhorias nas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo pelo aumento nos teores de carbono criam um ambiente mais propício ao desenvolvimento das plantas, pois, sob o ponto de vista físico, isso melhora a estruturação do solo e, consequentemente, a infiltração e o armazenamento de água pelo solo, favorecendo o desenvolvimento radicular e da parte aérea da planta.
Da mesma forma, a silvicultura contribui de forma muito rápida para estocar carbono, logicamente através das árvores. Aproximadamente, 40% de uma árvore são carbono. Um dos estudos mais completos sobre a relação plantação e carbono feita no Brasil foi o EucFlux, o qual analisou o comportamento das plantas com relação à absorção de carbono. Não só por suas contribuições ao ambiente no que tange à emergência climática, mas também rastreando todo o processo positivo da silvicultura gerando diversas matérias-primas, chegamos, por exemplo, ao gusa produzido com carvão vegetal. Na Gerdau, o aço produzido emite 930 kg de CO2 por tonelada produzida, enquanto a média mundial, segundo o World Steel Association, é de 1.890 kg de CO2.
Dois eventos recentes devem contribuir para fortalecer e incentivar ainda mais, reforçando o setor florestal e, consequentemente, a silvicultura como promotora da sustentabilidade e mitigadora do carbono e componente da bioeconomia: a primeira foi a aprovação, pelos senadores, da exclusão da silvicultura da lista de práticas poluidoras e prejudiciais ao meio ambiente (PLS 214/2015). O projeto segue para votação na Câmara dos Deputados, agora identificado como PL1366/2022, com uma chance enorme de aprovação pela casa.
E a segunda foi a recente publicação do Decreto nº 11.075, que estabelece os procedimentos para a elaboração dos Planos Setoriais de Mitigação das Mudanças Climáticas e institui o Sistema Nacional de Redução de Emissões de Gases de Efeito Estufa. A medida cria o mercado regulado de carbono, com foco em exportação de créditos, especialmente para países e empresas que precisam compensar emissões para cumprir com seus compromissos de neutralidade de carbono.
Mas, na silvicultura do carbono, nem tudo são flores. Apesar da fotossíntese ser um processo cientificamente comprovado há séculos e que transcende fronteiras, até hoje, algumas nações não reconhecem a importância de as espécies “exóticas” capturarem e armazenarem carbono durante seu processo de crescimento; logicamente, outras questões estão envolvidas nessa celeuma.
Ainda há necessidade de aprofundamento em questões científicas, políticas e comerciais para justamente fortalecer a importância e a aceitação das boas práticas da silvicultura no contexto da retenção do carbono, não só no Brasil, mas também no contexto internacional.
As boas práticas de silvicultura vêm desempenhando um papel significativo no aumento dos estoques de carbono no solo, significando a garantia do bem-estar e segurança para as futuras gerações. Esse aumento nos teores de carbono no solo associado à redução dos seus teores na atmosfera podem contribuir para minimizar os impactos deste sobre os fatores do clima que afetam o homem, bem como o potencial produtivo das plantações florestais.