Consultor Florestal
Op-CP-05
Falar de florestas plantadas no Brasil é, reconhecidamente. um prazer e deleite, para quem vivenciou os grandes movimentos ocorridos nas quatro ultimas décadas. Partimos, nos idos da década sessenta, do extrativismo de matas nativas, para o empreendimento florestal organizado e destinado a atender às demandas das gerações futuras.
Com os incentivos fiscais ao setor de florestas plantadas, nos derradeiros anos da década de 60, propôs-se desenvolver uma base florestal para suportar os avanços do desenvolvimento da economia nacional. Este incentivo visava a substituição do extrativismo, as importações de produtos florestais e, de forma paralela, a exploração do potencial da exportação de produtos manufaturados de origem florestal.
A característica pioneira das florestas plantadas é a aplicabilidade dos modelos de desenvolvimento em regiões menos favorecidas, em termos de oportunidades, infra-estrutura e industrialização. O resgate das regiões sul de São Paulo e nordeste do Paraná é exemplo clássico: no antigo “ramal da fome”, hoje existem inúmeras plantas industriais ligadas à conversão de madeira plantada em produtos de consumo.
Sem demérito aos inúmeros empreendedores do negócio florestal brasileiro, cabe ressaltar que algumas pessoas visionárias, de forma admirável, contribuíram para a consolidação desta oportunidade: Armando Navarro de Andrade, com a introdução, em escala, do eucalipto; professor Helládio do Amaral de Mello da Esalq-Usp, com a contribuição à silvicultura intensiva de florestas plantadas; professor Heinrich Moosmayer da Escola Nacional de Florestas da UFPR–FAO, com estabelecimento das bases dos conceitos de economia florestal aplicada; e o engenheiro florestal Horst Schukar, com a introdução intensiva de inúmeras espécies de pinus tropicais.
De forma complementar, o governo brasileiro, dando sustentação a este plano estratégico, o BNDES e o Banco Mundial, apoiando o ciclo seguinte ao da formação da base florestal, no seu processo de industrialização. Como conseqüência desta nova demanda, exigiu-se a contraparte tecnológica. A criação da Escola Nacional de Florestas foi a resposta à necessidade de profissionais capacitados.
Esta, por sua vez, foi embrionária para uma sucessão de cursos abrangendo, desde a formação de técnicos profissionalizantes, até profissionais de alto nível, para atender à cadeia produtiva de florestas plantadas. Com a combinação de clima, solo e espécies adequadas, houve uma interação crescente de genótipo-ambiente, resultando em uma vantagem natural. Estes fatores somados redundaram na conquista da atual competitividade florestal brasileira, quase que imbatível, a nível mundial.
Na medida em que se desenvolvia o negócio florestal brasileiro, criou-se a percepção de que a atividade era amigável ao meio ambiente, uma vez que substituía o recurso natural existente e escasso, preservando e conservando ecossistemas e ampliando a inclusão social, através da cadeia produtiva que emprega, atualmente, mais de 2,5 milhões de pessoas.
Vivíamos neste ciclo, ainda, sem nos apercebermos do nascimento do desenvolvimento sustentável, oferecendo os primeiros parâmetros para aplicação do conceito ecoeficiência. A silvicultura avança com pinus e eucalipto. O primeiro vindo da América Central, México e Estados Unidos, o segundo vindo da longínqua Austrália e de alguns países vizinhos. A genética aplicada a ambos tem elevado a produtividade, chegando, algumas famílias de pinus a crescerem mais de 60 m3/ha/ano, e alguns híbridos de eucalipto, até 80 m3/ha/ano. Este aspecto diferencial tem conferido ao Brasil uma competitividade enorme.
Quando, por exemplo, analisamos o cash cost da indústria de celulose, ocupamos o segundo lugar no ranking mundial, com 200 dólares por tonelada FOB planta industrial (BHKP). A taxa interna de retorno de empreendimentos florestais pode alcançar dois dígitos (Nova Zelândia tem cerca de 6% ao ano) e assim, de forma acumulativa, vamos nos consolidando de maneira crescente, no cenário internacional.
No tópico socioambiental para florestas plantadas e sua industrialização, o setor, atendendo às demandas da sociedade na busca de sua legitimidade, voluntariamente tem submetido sua cadeia produtiva às certificações ISO & OSHAS, FSC e CERFLOR. A resultante é a aplicação da RSA (responsabilidade socioambiental) de maneira crescente, como ferramenta de gestão dos recursos naturais e humanos. Inúmeras empresas já aplicam, na análise de seus resultados, relatórios de sustentabilidade.
O setor detém inúmeras iniciativas com projetos ligados à sustentabilidade, através de fundações, parcerias com ONG’s e institutos dedicados à consolidação das melhores práticas socioambientais. De forma contributiva, vem construindo uma agenda com governo, nas suas diversas esferas, para transformar o Brasil em um dos maiores players mundiais na área de produtos florestais, oriundos de florestas plantadas.
O desafio seguinte é como realizar projetos voltados à Base da Pirâmide, que representa um mercado potencial de milhões de brasileiros. Podemos crescer muito, para atender às demandas existentes. Temos o exemplo da China, que detém 46 milhões de hectares de florestas plantadas. O crescimento orgânico do negócio florestal brasileiro ocorrerá sem a conversão de ecossistemas preservados ou conservados, considerando a existência de mais de 150 milhões de hectares de pastos em estado de degradação, clientes naturais para o cultivo de florestas plantadas.
Temos hoje um patrimônio crescente de quase seis milhões de hectares, domínio da genética tradicional, produtividade em alta, rendimentos industriais crescentes, manejo para produtos de alto valor agregado, marketing e logística, respaldado por um investimento multisetorial de mais de US$ 20 bilhões, a ocorrer até 2020.