O sucesso e a competitividade do setor florestal brasileiro decorrem da ação combinada de vários segmentos e áreas de conhecimento nas últimas cinco décadas. O marco inicial foi a instituição do programa de incentivos fiscais ao reflorestamento nos meados da década de 1960, que permitiu o estabelecimento de uma base florestal, estimulou a capacitação de recursos humanos e o estabelecimento de indústrias que têm a madeira como matéria-prima e de outras de suprimentos de insumos e maquinaria para o setor. O principal pilar dessa cadeia é, sem dúvida, a competência desenvolvida no cultivo de florestas de elevada produtividade.
A produtividade florestal brasileira é consequência do emprego do conhecimento adquirido em várias áreas e disciplinas, o que têm permitido desenhar técnicas de manejo, que, utilizadas de forma judiciosa e racional, contribuem para a elevação da produtividade dos plantios da maioria das essências florestais cultivadas, em especial a do eucalipto.
A geração desse conhecimento tem se intensificado com o tempo pelo uso de estratégias diversas, mas sempre baseadas na integração de esforços por parte das empresas florestais, das instituições de ensino superior, órgãos governamentais e empresas fornecedoras de insumos e equipamentos. Iniciativas como a criação de elos entre empresas e universidades, por meio de institutos como IPEF-ESALQ e SIF-UFV, por exemplo, vêm de longo tempo, contribuindo para ganhos de produtividade e racionalização de uso de recursos.
Vários programas temáticos têm permitido avanços importantes na solução de problemas e geração de tecnologias que redundam em ganhos para o setor florestal e para o País. Essa estratégia associativa permite que rapidamente as técnicas geradas sejam difundidas e utilizadas pelo setor, e é um diferencial entre o setor florestal brasileiro, em particular na produção da matéria-prima, e o de outros países, onde o compartilhamento de conhecimentos não se dá na mesma velocidade.
O crescimento das árvores é resultante da ação e da interação de fatores climáticos, edáficos e bióticos. O emprego adequado de técnicas de manejo permite, teoricamente, a obtenção do potencial máximo de produtividade de determinado sítio, por meio da maior disponibilização dos recursos de crescimento e da mitigação dos efeitos de agentes redutores desse crescimento. O conhecimento das características relacionadas àqueles fatores é essencial para que se aproxime ao máximo desse potencial. Posto isso, vou me permitir ressaltar alguns fatos que considero terem contribuído para chegarmos ao ponto em que nos encontramos.
Primeiro, vale lembrar que, antes dos incentivos fiscais ao reflorestamento, alguma experiência local ou regional já havia sido acumulada no cultivo do eucalipto no Brasil, como na Cia Paulista de Estrada de Ferro, em São Paulo, e na Cia Belgo-Mineira, em Minas Gerais. Mas, com os incentivos fiscais, os projetos de reflorestamento se espalharam por várias regiões brasileiras sem que fossem disponíveis informações sobre as espécies mais aptas para cada região e técnicas silviculturais a serem adotadas. Por isso exemplos de sucesso e insucesso foram vários.
A primeira iniciativa de trazer alguma luz a essa questão foi levada adiante pelo Prodepef (Programa de Desenvolvimento de Pesquisa Florestal), patrocinado pelo IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal) e em cooperação com empresas e instituições de pesquisa, ao desenvolver o Zoneamento Edafoclimático para pínus e eucalipto, sob a orientação do Dr. Lamberto Golfari. Esse foi um bom exemplo de como a interação clima-solo-melhoramento florestal poderia contribuir para ganhos de produtividade. A partir daí, foi iniciado um grande programa de importação de sementes de eucalipto da Austrália e de pínus das regiões tropicais e subtropicais do hemisfério Norte e instalada no Brasil uma rede experimental localizada de acordo com o zoneamento realizado.
Outro fato marcante na eucaliptocultura no Brasil foi o aparecimento de doenças, em especial do cancro do eucalipto, que impulsionou a seleção de clones mais tolerantes à doença. O sucesso da reprodução vegetativa motivou a utilização da clonagem como ferramenta de seleção de materiais genéticos para vários objetivos, constituindo-se, hoje, numa técnica fundamental para a silvicultura.
A especificidade clonal quanto a várias características e atributos tem permitido utilizar estratégias das mais diversas para melhoria da qualidade da madeira, para aumentar a eficiência nutricional das árvores, para reduzir a ocorrência de doenças etc. A expansão dos plantios de eucalipto para várias regiões brasileiras, distintas em clima e solo, trouxe a necessidade de adoção de técnicas que visassem mitigar restrições naturais, tais como baixa fertilidade do solo, a ocorrência de períodos prolongados de seca, ocorrência de pragas e doenças etc.
Os ganhos obtidos pela aplicação isolada ou combinada de técnicas utilizadas na silvicultura foram mensurados por Du Toit et al. (2010) para as condições da África do Sul. Esse trabalho deixou clara a importância da identificação das restrições presentes em determinada região e a judiciosa seleção e aplicação de técnicas de manejo, o que permite ganhos mais do que aditivos.
No Brasil, a disponibilidade dos recursos água e nutrientes minerais determina a produção de madeira. A taxa de aumento da produção com o aumento da pluviosidade é praticamente linear até a precipitação média anual em torno de 1.500 mm, reduzindo daí para adiante. Para regiões com déficit hídrico mais ou menos acentuado, a escolha de materiais genéticos mais tolerantes à seca é prática comum. Um exemplo dentre outros relatados na literatura brasileira é o apresentado por Oliveira (2017), no qual a ordem de produção de biomassa variou com clone e região, indicando aptidão distinta de acordo com o sítio. A produção de todos os clones caiu com o aumento do déficit hídrico, mas a redução relativa variou de sítio para sítio, indicando a interação clone-sítio.
Estudos têm demonstrado, dentro de certos limites, o papel do potássio e do boro na mitigação do efeito da restrição hídrica em eucalipto, no primeiro caso, pelo melhor controle hídrico da planta, e, no segundo, pelo aumento da estabilidade da parede celular, reduzindo a seca dos ponteiros das árvores.
A adubação mineral é uma técnica indispensável no cultivo do eucalipto na maioria dos solos brasileiros, especialmente os do cerrado, que possuem baixa fertilidade natural. Os ganhos relativos de produção ultrapassam 100% pela adequada adubação fosfatada e potássica. A aplicação de outros nutrientes como nitrogênio, cálcio, magnésio, enxofre, boro etc, em geral, resulta em ganhos menores, mas ainda muito significativos, podendo chegar a 50%, dependendo das condições climáticas, textura e nível de fertilidade do solo.
A adequada nutrição do eucalipto pode reduzir a intensidade de ataque de algumas doenças, como a causada por Calonectria, para a qual a aplicação de nitrogênio, fósforo e, em particular, potássio reduziu a área foliar afetada e a queda de folhas. O sucesso do setor florestal brasileiro despertou, nos últimos anos, o interesse de investidores institucionais e impulsionou a constituição de fundos de investimentos florestais, por meio dos quais várias empresas têm satisfeito parte de sua demanda de madeira.
Ressalto, aqui, os investimentos de fundo de pensão brasileiros, cujos objetivos de retornos a médio e longo prazos são compatíveis com o ciclo do crescimento florestal. Em suma, todas essas combinações e interações, envolvendo profissionais, empresas de ramos diversos que se complementam, fatores de crescimento florestal etc., têm contribuído para escrever essa história de sucesso que é o setor florestal brasileiro.