Os sistemas silviculturais representam o processo de condução, colheita e regeneração das florestas, dentro dos quais se podem estabelecer diferentes regimes de manejo, de acordo com cada tipo de produto que se quer obter.
Definir o objetivo final da madeira é a premissa essencial para o manejo adequado das florestas plantadas: a escolha do local, da espécie, da densidade inicial de plantio, os cuidados pós-plantio e tratos silviculturais configuram um jogo dinâmico de variáveis dependentes. Qualquer erro pode levar à obtenção de madeira não adequada para o propósito ou produto final que será produzido.
Empresas que trabalham com multiprodutos florestais necessitam ter um conhecimento aprofundado do mercado e de suas tendências, para atender plenamente a seus clientes finais, com as características de qualidade que a madeira tem que ter. É inegável que a busca pelos produtos de maior valor agregado instigam os profissionais a aperfeiçoar e a desenvolver técnicas visando alcançar seus objetivos com menos tempo e com retorno mais rápido do capital investido.
Mas, para isso, o regime de manejo, baseado em sistemas silviculturais diversos, deve ser planejado e orientado para a obtenção dos produtos em quantidade e, principalmente, em qualidade. Não posso negar que sou entusiasta do regime de manejo de Eucalyptus para serraria, onde o desbaste e a desrama são fundamentais para uma madeira com dimensões adequadas para o desdobro e com a qualidade que chamamos clear, ou seja, isenta da presença de “nós”.
Uma das experiências interessantes que tive com diferentes regimes de manejo de forma simultânea foi quando produzimos madeira tratada, madeira serrada e madeira para energia. Nesse sentido, a diferenciação começava na espécie, no espaçamento e nos tratos culturais específicos.
Para madeira tratada, por exemplo, aplicávamos o regime de manejo conhecido como alto fuste, o qual priorizava a produção de madeira de menores diâmetros, com o objetivo de maximizar a produção por unidade de área, eram necessários tratos culturais à formação da floresta (preparo do solo, plantio, irrigação, adubação, combate a pragas e doenças e controle da matocompetição), sem intervenções de desbaste ou desrama na floresta até o corte final (corte raso).
A procura no mercado ditou o regime de manejo, pois as maiores demandas eram por peças de dimensões reduzidas, (diâmetros entre 7 a 10 cm e 2,20 m de comprimento); nesse sentido, para o atendimento a esse produtor, o espaçamento de 4,5 m² permitia a obtenção de peças adequadas em um tempo aproximado de colheita entre 4 e 5 anos.
A madeira tratada tinha suas particularidades específicas, começando pela espécie com foco na densidade; o E. cloeziana, que tinha densidades de até 600 kg/m³, proporcionava um consumo menor em até 20% de CCA (Arseniato de Cobre Cromatado) quando comparado com clones híbridos de E. urophylla, comumente plantados na época, nas diversas regiões do Brasil e erroneamente utilizados para esse fim.
Após o tratamento de vácuo-pressão, os poucos milímetros no qual o produto penetrava na madeira eram suficientes para se evitar o ataque de fungos, insetos e apodrecimento da madeira, sendo que a única premissa é a madeira ser beneficiada antes. A empresa dava garantia de 15 anos por peça tratada.
Com esse exemplo, o leitor pode imaginar a importância do conhecimento prévio das características da madeira, do uso adequado das técnicas que resultaram na redução do uso do produto, que era importado e que impactava fortemente no fluxo de caixa do negócio.
A madeira para serraria também tinha como drive a densidade, os clones selecionados tinham entre 450 kg/m³ e, no máximo, 500 kg/m³, principalmente para que não fossem produzidos móveis muito pesados. As características silviculturais importantes, como retidão e conicidade do fuste, boa desrama natural e ângulo de inserção de galhos no fuste, eram fundamentais para obtenção de madeira serrada de qualidade.
O espaçamento inicial desses plantios era de 9 m² por planta, com a realização de desbastes sistemáticos a seletivos que se iniciavam a partir de 7 anos de idade do plantio. O ciclo final se dava aos 14 anos, com uma população final de 350 árvores por hectare. Durante o período, controlavam-se as brotações de forma a se evitar a competição com as árvores remanescentes.
Foram realizados vários estudos com a Universidade Federal de Viçosa no que tange ao momento ideal para desrama; foi interessante perceber que cada clone apto para madeira serrada apresentava um momento especial para a execução da atividade, não existindo uma regra geral. Esse momento ideal se dava para alguns clones e de acordo com o seu crescimento, a partir de 12 meses e, no máximo, 18.
Essa idade de intervenção permitia que, ao final do ciclo aos 14 anos, o nódulo de inserção do galho estivesse completamente absorvido pela madeira, sem sinal de sua existência. Inicialmente, essa desrama se deu até 3 metros de altura, porém desenvolvemos uma metodologia na qual elevamos para 6 metros, visando à obtenção de duas toras sem nós, por árvore desramada.
Grandes desafios foram encontrados no desdobro da madeira, muitos clones que não foram escolhidos para a produção de madeira serrada tinham sua seleção já definida na hora do corte, muitos deles liberavam as tensões de crescimento na forma de extensas rachaduras, que inviabilizavam o uso da madeira. Como uma parte da madeira era utilizada em larga escala para a fabricação de estrutura interna de sofás para exportação e móveis, foi desenvolvido um secador de madeira adaptado da secagem de fumo, a qual reduzia a umidade da madeira em até 14%.
Finalmente, para o carvão vegetal, o regime de manejo foi o de talhadia, no qual conduzimos o crescimento dos brotos nas cepas da floresta colhida, dando-se início a uma nova rotação florestal; para esse intento, realizou-se o manejo da brotação visando à recuperação da densidade populacional original, com a realização da retirada dos brotos inferiores. Deixamos 1 ou 2 por cepa para compensar as falhas encontradas.
Nesse período, após vários testes, introduzimos a técnica de desbrota precoce, proporcionando ganhos em rendimento e qualidade da área manejada. O regime de manejo por talhadia encaixou-se perfeitamente à produção do carvão vegetal, pois proporcionou menores custos na produção madeireira, além da produção de madeira de dimensões adequadas para o processo de produção e eliminação da etapa de preparo de solo e aquisição de mudas.
A densidade da madeira a partir de 550 kg/m³ era classificatória; visto a necessidade da obtenção de um carvão vegetal com resistência mecânica suficiente para sustentar a carga no alto forno, o espaçamento era de 7,5m² por planta. A floresta era conduzida uma vez, e, após 1 ciclo de 14 anos com duas rotações de 7, a área era reformada, com a utilização de novos materiais genéticos e as melhorias no manejo florestal e nutricional.
De forma mais discursiva, pretendi compartilhar a experiência que tive na produção de vários produtos de uma unidade florestal, o que envolveu um detalhado conhecimento da floresta que proveu o suprimento de madeira para os fins necessários. A informação geral da característica da espécie/clone foi importante no planejamento da produção, porém informações mais específicas da floresta colhida foram também vitais.
Essas informações específicas incluíram o volume (m³) do projeto de suprimento de madeira por produto; o volume por unidade de área (m³/ha) por espécie em cada regime de manejo; as classes de distribuição diamétrica das árvores adultas, principalmente para madeira tratada e serrada; as classes de distribuição das idades das árvores na floresta; estimativas do volume disponível para cada produto relacionando-o às tendências de consumo do mercado.