Quando se pensa em desenvolver qualquer atividade florestal que envolva grandes áreas produtivas, é imprescindível realizar o planejamento das estradas. Afinal, elas serão o elo entre a florestal e os centros de distribuição/transformação. As estradas estão intimamente ligadas às atividades desde seu início até a entrega do produto final, sem contar que, normalmente, são mantidas por várias rotações ou ciclos de corte.
Desde o início dos plantios florestais no Brasil, nos idos da década de 1960, a discussão sobre a rede viária sempre foi um ponto relevante, se mantém até hoje e, provavelmente, continuará sendo no futuro, pois, normalmente, ela deve fazer parte de um centro de custo, e pode ser visualizada de diversas maneiras. Por exemplo, as estradas devem ser vistas como um custo ou um investimento?
Outro ponto importante é que uma estrada rural em uma propriedade florestal não deve ser chamada de “estrada florestal”, mas sim de “estrada de uso florestal”, pois a carga transportada será a madeira, mas as composições que lá trafegarão serão regidas pelas mesmas leis de trânsito (lei da balança, etc.). Assim, os parâmetros construtivos, que devem ser levados em consideração, são os mesmos para qualquer composição veicular, a não ser que as mesmas não venham a trafegar em vias públicas, pois, normalmente, usam estradas de ligação entre a floresta e o pátio das empresas transformadoras.
Para muitas empresas e proprietários de florestas plantadas, as estradas são consideradas o “patinho feio”, pois podem ser vistas como o segmento que gera despesa e passivos ambientais. Aí vem a pergunta: “por quê”? A resposta é simplesmente porque, muitas vezes, elas não são visualizadas como “relevantes” para a produção florestal, porém, sem elas, não se pode garantir todo o processo produtivo da madeira.
A rede viária é importante desde o início das atividades, pois, sem elas, não se planta, não se faz a manutenção adequada, não se guarda a propriedade, não se controlam/combatem incêndios e nem se tem garantia de transporte da madeira para as indústrias, ou seja, o abastecimento fabril. É comum se perder qualidade de produto e, consequentemente, valor de produto por não se ter estradas com condições adequadas para o tráfego em épocas de chuva, quando o produto é destinado para serraria ou laminação.
O Brasil é reconhecido por ter excelentes florestas plantadas de eucalipto, cujo melhoramento genético é um dos pilares, assim como as técnicas de adubação, de plantio e de manutenção. Hoje, fala-se em “silvicultura de precisão”, mas entendo que o que devemos colocar em pauta são as “florestas de precisão”, onde a colheita deve ser levada em consideração, assim como a inclusão da “rede viária florestal” nessa nova forma de visualizar as florestas plantadas.
Porém será que as técnicas de estradas de uso florestal no Brasil também evoluíram como os outros segmentos da produção de madeira proveniente de floresta plantada? A resposta é “depende”; para as empresas que, hoje, trabalham em sistemas de produção chamados “quentes”, ou seja, a madeira tem um curto período de tempo entre a colheita e a transformação na fábrica, creio que sim, senão a planta pode ter que reduzir a produção ou até mesmo parar. Já para as empresas que trabalham com sistemas mais “frios”, as estradas podem ter qualidade mais reduzida, visto que a sua interferência na produção é menos comprometida.
Para efeito de pensamento, uma pergunta se pode fazer: quanto custa um dia parado de uma empresa? Números indicam que, para grandes empresas, pode custar acima de R$ 6 milhões e pode ser consequência da má trafegabilidade de estradas de uso florestal. E para a sua empresa, quanto custaria? Essa reflexão pode ajudar os empresários e os técnicos a visualizarem a necessidade de melhorias ou de racionalização da rede viária florestal em suas propriedades, assim como o melhor planejamento, construção e uso das mesmas. Outra questão interessante para abordagem é a diferença entre “densidade e qualidade” das estradas.
A densidade se refere a metros lineares de estradas por hectare e está diretamente relacionada com a distância média de extração e de atividades de silvicultura, pois quanto maior a densidade, menores serão esses custos. Porém, quanto maior for a densidade, maiores serão os custos de manutenção, de perda de área produtiva e de passivos ambientais. Dessa forma, é importante se definir uma “densidade aceitável de estradas” em um empreendimento florestal, de forma a minimizar seus custos, mantendo e equalizando todas as atividades relacionadas com a produção florestal. Já a qualidade das estradas se refere aos padrões relacionados com trafegabilidade das composições veiculares que deverão utilizar as vias.
Assim, deve-se definir a qualidade das estradas de acordo com o tipo de composição de carga que se utilizará para o transporte da madeira ? uma estrada para caminhões de baixa tonelagem não necessita os mesmos padrões que para composições de alta tonelagem (bitrem, tritrem).
Também a densidade de trafego é um fator decisivo na decisão de se fazerem estradas de mão simples ou dupla, e ainda se deve levar em consideração se a colheita, e o consequente transporte, se fará em época seca ou úmida. O importante é levar em consideração a evolução tanto das máquinas usadas para a extração de madeira (skidders e forwardes de grande capacidade) quanto as composições veiculares para o transporte de madeira e, assim, com a tendência de redução de densidade e de aumento de qualidade.
Outro desafio para as empresas florestais está relacionado com a passagem de caminhões por comunidades. O tráfego pode gerar riscos de acidentes e também ocasionar poeira, um agravante ainda sem solução definitiva. Nesse último caso, ou se usa umectação, ou se faz construção das estradas com melhor qualidade e os custos vão aumentar, além de que muitas vezes se torna inviável o transporte durante a noite. Fazer desvios somente, via de regra, funciona para o momento, mas, na sequência, haverá habitações ao longo das novas estradas devido à sua qualidade.
Outro ponto que deve ser observado está relacionado com o transporte, para o qual se faz necessária uma reflexão, são as inovações tecnológicas, pois é natural que se procure reduzir tara para aumentar a potencialidade de carga. Mas se deve também visualizar se elas não terão impacto sobre a qualidade das estradas, e aí um fato que se pode mencionar é o uso de pneu simples nas composições. Será que as estradas que são projetadas para composições de pneu duplo aguentarão?
Ou se faz necessário um novo dimensionamento? Entendo que, com o rodado simples, a carga sobre os mesmos é muito maior e, consequentemente, tenderá a formar sulcos nas estradas e consequentes “facões”, que poderão até impossibilitar o tráfego de veículos leves. Dessa forma, para esses casos, um estudo de custo/benefício se faz necessário, a fim de avaliar, de forma econômica conjunta, o impacto de tais evoluções.
Para finalizar, a consideração que faço aqui é que, “quando se faz uma estrada bem-feita, não se enterra dinheiro”, pois é comum, por ocasião de chuvas e em estradas com baixa qualidade, se dizer “coloca mais uma carga de pedra que resolve o problema”, mas, se a estrada não tem “base”, não adianta colocar material, pois ele vai “afundar” e simplesmente desaparecer no solo. Por último, deixo aqui uma pergunta: Quanto vale para você uma estrada? Provavelmente, a resposta vai depender de sua posição na empresa. Se for responsável pelo abastecimento, será um tipo de resposta e, provavelmente, ela valerá muito. Mas, se for responsável pela controladoria da empresa, a resposta pode ser bem diferente.