Antes de pensarmos nos desafios do setor de florestas plantadas do amanhã no Brasil de hoje, considerando que desafio é uma palavra que remete a superação de obstáculos e busca de soluções de problemas, é necessário refletirmos sobre: Aonde queremos chegar? Como faremos esse caminho? E quando chegaremos lá?
Primeiro definir o objetivo claramente, para em seguida identificar os desafios a serem superados para alcançar este objetivo. Proponho, como mero exercício, pensarmos no contínuo crescimento do setor de florestas plantadas no Brasil, tendo como o grande objetivo, dobrar a área atual de 10 milhões de hectares plantados para 20 milhões até 2035. O “aonde queremos chegar” e o “quando chegaremos lá” parecem fáceis para definir, mas o “como”, certamente, é o mais difícil. Vamos tentar desenvolver algumas reflexões a respeito.
O Brasil demorou mais de 60 anos para atingir os primeiros 10 milhões de hectares plantados, inclusive com incentivos fiscais num passado mais distante, terras com preços muito mais acessíveis do que atualmente. Isso torna muito agressivo o objetivo de dobrar a área plantada nos próximos em 10 anos? Depende da forma como enxergamos.
Os incentivos e terras baratas foram importantes alavancas de crescimento, porém, não existem mais ou estão mais limitados que antes. Não podemos ficar presos num looping de querer que as coisas voltem a ser como eram antes para então termos as condições ideais para crescer. No mundo dos esportes, o ideal é que o atleta tenha todas as condições para atingir alta performance, mas quando isso não é possível, ele precisa continuar buscando a excelência com os recursos que possui (exemplo: Senna no GP do Brasil só com a 6ª marcha).
O mesmo vale para o setor de florestas plantadas; precisamos avançar com o que temos. Se o Brasil não crescer rapidamente, alguém vai crescer e ocupar o espaço que poderia ser nosso. Neste sentido, as empresas de papel e celulose que operam no Brasil se destacam, anunciando, de forma consistente, grandes investimentos em expansão industrial e florestal. Importante refletir sobre o prazo de maturação das florestas plantadas para abastecimento dessas indústrias.
Este é um campo no qual os investidores privados brasileiros e estrangeiros, mesmo não sendo tradicionais do setor florestal, deveriam dedicar estudos de viabilidade para construir modelos de abastecimento de longo prazo, integrados com essas empresas. Um esforço conjunto poderá gerar melhores resultados, aliviando pressão de caixa para as empresas e oportunizando novos negócios para investidores.
Contextualizar a produtividade do Brasil e de outros países no conceito de vantagem comparativa reforça que podemos produzir mais volume de madeira por unidade de área e em menor tempo. As vantagens competitivas e comparativas que não tínhamos num passado mais distante foram e continuam sendo construídas, reforçando a viabilidade econômica do setor.
O mercado nacional e internacional para produtos oriundos de florestas plantadas vem se consolidando cada vez mais, algo que não era tão expressivo no passado. Perdemos algumas alavancas de crescimento e ganhamos outras. Conciliar estudos de produtividade florestal para definição da idade biológica ideal de corte com modelagem econômica para maximização do Valor Presente Líquido do ativo florestal é uma iniciativa relevante.
Em termos práticos: a) estudar a composição química e rendimento da madeira para o fim que ela se destina, em várias idades potenciais para corte; b) cruzar estes resultados com a produtividade, para saber a perda de volume no corte precoce; c) aplicar preço real da madeira/produto final no volume do corte precoce e na idade biológica, comparando ambos na mesma base (Valor Presente).
Preços aquecidos podem melhorar fluxo de caixa e rentabilidade do negócio, mesmo com perda de volume no corte precoce, além de possibilitar antecipação de materiais genéticos mais produtivos. O triângulo econômico “rentabilidade, risco e liquidez” nos ajuda a entender a dinâmica de investimentos na atividade floresta plantada, bem como sua comparação com outros investimentos. A figura 1 é um modelo conceitual de investimento perfeito, com baixo risco alta rentabilidade e alta liquidez.
Utilizei escala de 1 a 5 hipoteticamente, em que 1 é o nível mais baixo e 5 o mais alto. Para florestas plantadas hoje no Brasil, de uma maneira geral (existem exceções), na minha opinião, o triângulo econômico (Figura 2) ficaria com o componente de risco baixo (ex.: comparar com tomate). A rentabilidade, apesar do longo prazo, ficaria num nível levemente acima da média, enquanto a liquidez ficaria na média, pois liquidar um ativo florestal rapidamente não é tarefa simples.
No conceito do triângulo econômico, os desafios para atingir o objetivo de crescimento da área plantada no Brasil são:
a. Aumentar a rentabilidade: buscar o máximo aproveitamento da floresta plantada, não apenas madeira, mas também alternativas e mercados para produtos secundários como biomassa, biochar e intangíveis (carbono, água, serviços ecossistêmicos). Para cada 1ha de floresta plantada, o setor preserva 0,7ha. A área preservada pode gerar retornos com serviços ambientais, benéficos ao planeta. Modelos integrados às comunidades locais adicionam valor ao colchão reputacional do setor e podem desenvolver melhor conexão com a sociedade;
b. Aumentar a liquidez: produtores independentes, investidores e pequenos produtores podem se sentir mais atraídos a investir em florestas plantadas com antecipações financeiras mensais do volume futuro de madeira em crescimento. A tokenização, ainda embrionária no Brasil e no mundo, pode ser uma alternativa para melhorar liquidez e trazer maior transparência nas transações comerciais de madeira;
c. Diminuir o risco: riscos concentrados em aspectos técnicos como perdas por pragas, doenças, intempéries, furto de madeira, entre outros. Eficiente trabalho de silvicultura e manejo minimiza estes riscos. Mercado futuro desfavorável e possibilidade de aguardar melhor momento para comercialização, enquanto o ativo florestal continua a adicionar volume por unidade de área.
Ao analisarmos segmentos de serraria, laminação e compensados, mais de 80% das empresas são de porte médio, com faturamento anual inferior a R$4,8 milhões. Nestes segmentos, além da alta fragmentação, há um processo de transição familiar, no qual a geração patriarca, com mais de 70 anos, busca a continuidade dos negócios nas novas gerações, enquanto estas buscam por outros tipos de investimentos.
Esse cenário gera oportunidade para que estes ativos sejam adquiridos por novos investidores com apetite renovado ao crescimento. Há uma grande preocupação com disponibilidade de mão de obra para o campo, cada vez mais escassa e competindo com a agricultura. As empresas precisam fidelizar seus colaboradores, com bom ambiente de trabalho, salários e benefícios atrativos para manter os times engajados, gerando produtividade, qualidade e margens atrativas.