As plantas que atualmente causam danos às atividades humanas, à saúde do homem e ao meio ambiente, quando ocorrendo fora de sua área de distribuição geográfica ou em tamanhos populacionais acima da capacidade-suporte do ambiente, têm várias designações compatíveis com sua função biológica, como planta exótica invasora, planta pioneira, planta trepadeira, dentre outras. Nessa condição, todas as plantas têm um caráter comum, que é sua indesejabilidade no local, época e forma em que ocorrem e são indesejadas em virtude dos problemas que causam à produção vegetal, à manutenção da integridade de reservas ambientais, dentre outras importantes interferências, e, por isso, recebem o conceito antropocêntrico de plantas daninhas.
Sob esse conceito, qualquer planta pode ser considerada daninha dependendo do ambiente ou da época em que ocorrem. Plantas de eucaliptos são indesejadas e consideradas daninhas quando crescem espontaneamente nas áreas de manutenção de linhas de transmissão elétrica.
As plantas daninhas que ocorrem em áreas de atividades agrícolas e florestais foram evolutivamente desenvolvidas para a ocupação de campos onde a vegetação original foi alterada e passou a ocorrer disponibilidade de hábitat ao crescimento vegetal. Essas plantas teriam a função de criar hábitats adequados ao início de uma sucessão ecológica de populações que culminaria no restabelecimento de nova vegetação clímax, mas esse processo sempre foi interrompido pela atividade humana.
Nesse caso, a sucessão é interrompida, e os hábitats para plantas pioneiras estão constantemente sendo disponibilizados, e estas formam mecanismos adaptativos que as tornaram exímias colonizadoras. Com o desenvolvimento da sociedade humana, essas comunidades foram se tornando cada vez mais densas, diversificadas e especializadas na ocupação dos agroecossistemas, passando a interferir mais profundamente nas atividades humanas.
Na silvicultura, há de se distinguir dois sistemas principais de exploração econômica: as plantações florestais e os sistemas de manejo extrativista praticados em regiões de clima temperado. Nesses dois sistemas, os problemas com plantas daninhas são diversos. Essa diversidade de necessidades tem sido uma das dificuldades de entendimento do intenso controle químico nas plantações florestais em climas tropicais e subtropicais, em comissões regulatórias compostas principalmente por técnicos oriundos de regiões onde se pratica o sistema de manejo extrativista.
Neste artigo, será abordado apenas o problema de plantas daninhas em plantações florestais. A plantação florestal constitui um sistema agrícola diferenciado de produção, mas também envolve ações periódicas de mobilização do solo e ciclos de plantio. Nesse tipo de exploração, a interferência das plantas daninhas de rápido crescimento e reprodução são muito importantes nas fases iniciais de implantação da floresta, época em há grande disponibilidade de nichos para as plantas pioneiras. Nesse período, as plantas daninhas competem pelos recursos de crescimento e, dentre eles, a competição por água tem sido considerado o principal fator de interferência que reduz o crescimento e a produtividade das florestas implantadas.
O manejo de plantas daninhas em reflorestamento no Brasil, especialmente em eucaliptos, se tornou mais importante após a introdução da braquiária (Urochloa decumbens), pois não se trata de uma planta pioneira por origem. A braquiária é uma planta de ambiente clímax de savanas africanas.
Em seu ambiente original, para manter a vegetação savana, essa gramínea exerce grande ação de interferência para evitar a invasão das árvores. Além de ser uma planta bastante competitiva, exerce mais dois tipos de ação para prejudicar o crescimento das concorrentes: alelopatia e absorção de luxo de bases, como o potássio. Por esses motivos, as infestações de braquiária têm grande impacto nas culturas de plantas arbóreas. Assim, o controle das plantas daninhas passou a ser aplicado de forma mais precoce e estendida para atender a um período crítico de interferência mais longo na plantação florestal.
Quando o controle das plantas daninhas na linha de plantio é retardado, as plantas de eucalipto sofrem precoce perda das folhas basais, e, quando a vegetação infestante é removida, estas já podem estar estioladas. Com o centro de gravidade mais alto, as plantas de eucalipto podem oscilar com os ventos, promover rachaduras no xilema e permitir a formação de tilas. Essas são intrusões protoplasmáticas, que obstruem parcialmente os feixes vasculares, reduzindo o fluxo de água e nutrientes, e a planta passa a ter um desenvolvimento bastante prejudicado.
Assim, o controle de plantas daninhas é fundamental para a garantia de que a planta florestal exerça seu potencial de crescimento e produção. Há várias modalidades de controle que podem ser empregadas no manejo de plantações florestais, desde as ações preventivas até o controle químico. O controle biológico de plantas daninhas para culturas florestais é uma modalidade bastante difícil de ser aplicada em função da diversidade de espécies presentes nas comunidades infestantes e dos riscos que os agentes de controle representem à planta florestal ou às culturas vizinhas.
As estratégias preventivas mais utilizadas são o manejo do solo pré-plantio e o monitoramento das composições específicas, densidades e distribuições geográficas das populações que compõem as comunidades infestantes dos diversos talhões. Esses dados de monitoramento permitem a adequação da modalidade, época e localização do controle das plantas daninhas.
O controle mecânico é uma estratégia importante aplicada no manejo de plantas daninhas, principalmente na destruição das infestações no período de pós-colheita e pré-plantio e contribui para a redução do banco de sementes no solo. Em termos de controle físico, estão sendo testados alguns equipamentos de aplicação de choque elétrico nas plantas daninhas e os resultados estão sendo analisados pelas empresas para aplicação em larga escala.
O controle químico, sem dúvida, é o mais utilizado no controle de plantas daninhas de plantações florestais em função da viabilidade de aplicação em grandes áreas em curto espaço de tempo, da previsibilidade dos resultados e da relação custo/benefício. Essa modalidade de controle é altamente técnica e requer um profissional habilitado para a seleção das áreas em que há a necessidade da intervenção, a escolha dos herbicidas, as épocas de aplicação e as doses adequadas e da avaliação dos resultados.
Em função das atuais infestações de plantas daninhas na maior parte do Brasil e, principalmente, pelas elevadas presenças de gramíneas exóticas invasoras, o controle químico deve ser executado de forma bastante precoce no ciclo da floresta, especialmente nas proximidades das plantas florestais (linhas de plantio). Dependendo da composição específica da comunidade infestante, não há opções de herbicidas pós-emergentes seletivos eficazes para todo o espectro de populações presente, e a opção é a utilização de herbicidas pré-emergentes associados a aplicações de herbicidas em pós-emergência das plantas daninhas.
Em áreas densamente infestadas de braquiária, o controle deve ser estendido fundamentalmente nos primeiros dois anos do ciclo da floresta e executado com herbicidas sistêmicos aplicados de forma dirigida. Aplicações posteriores podem ser aplicadas com o objetivo de reduzir o banco de sementes para o próximo ciclo.
A grande diversidade de ambientes em que se pratica a silvicultura no Brasil não permite que haja uma abordagem única ou pouco diversificada para o manejo de plantas daninhas, mas o controle destas por todo o período crítico de interferência e a promoção de condições para um rápido e intenso sombreamento promovido pela floresta são fundamentais ao sucesso desse processo, independente da região, clima ou solo.