Há algumas décadas, o Brasil vem se destacando no cenário mundial pelo seu potencial produtivo florestal, alcançando valores de crescimento inéditos e que representam verdadeiros recordes em nível mundial. Atualmente, algumas florestas plantadas com espécies do gênero Pinus vêm crescendo com incrementos médios anuais superiores aos 30m3/ha-1/ano-1, enquanto, para o gênero Eucalyptus, esses incrementos superam os 50m3/ha-1/ano-1.
Esses números representam valores médios comerciais e não valores máximos experimentais, como ocorria há 3 ou 4 décadas. Nesse cenário promissor, é importante o planejamento estratégico ou o planejamento de longo prazo, o qual tem como uma das suas finalidades principais o controle dos fluxos físico e financeiro futuros, considerando horizontes de planejamento longos.
É importante destacar que o controle dos fluxos físico e financeiro não se refere apenas ao equilíbrio da produção de madeira, critério denominado even-flow pelos administradores florestais; ele pode ser utilizado também como um simulador da capacidade de expansão da produção com vistas à ampliação da oferta para as unidades consumidoras da matéria-prima florestal.
Há situações em que o que se busca é o crescimento contínuo da produção florestal acompanhando, por exemplo, o crescimento previsto das vendas dos produtos industriais acabados.
Em outras palavras, se um determinado setor industrial que utiliza a madeira como matéria-prima para fabricação das embalagens de seus produtos prevê um crescimento contínuo de 5% para as próximas duas décadas, é necessário que a produção florestal, caso se trate de florestas próprias, possa acompanhar esse crescimento, proporcionando, anualmente, um volume 5% superior ao do ano anterior.
Uma das mais tentadoras ameaças que os administradores enfrentam na hora da tomada de decisões é o fato de estar gerenciando um sistema produtivo em que a fábrica e o produto se confundem, sendo impossível a retirada apenas do produto sem afetar a fábrica.
Para realizar o objetivo da produção florestal, que é a retirada de madeira da floresta, é preciso eliminar a fábrica, que é formada pelas próprias árvores. Nesse ponto é que a floresta deve ser vista como uma gigantesca poupança que, anualmente, gera seus dividendos na forma de madeira.
Se a rotação da floresta for, por exemplo, de 20 anos para o caso de florestas de Pinus, uma conta muito simples nos diz que apenas uma fração máxima de 1/20 da floresta poderia ser colhida anualmente. No entanto há situações em que fatores externos, como demanda e preço, estimulam a retirada de mais madeira da floresta do que essa fração máxima.
No curto prazo, as consequências dessa decisão podem até não ser percebidas, mas, no longo prazo, certamente elas terão seu impacto, e é bem provável que quem tomou essa decisão no passado sequer esteja ainda à frente da administração da floresta quando a falta de madeira se tornar evidente.
Atualmente, no Brasil, cada vez mais, as empresas utilizam ferramentas matemáticas de otimização para auxiliar na tomada de decisões. Nesse sentido, o Planejamento Florestal Estratégico Otimizado incorpora critérios matemáticos rigorosos de otimização, visando obter da floresta a máxima produção ou o máximo retorno financeiro possível.
Empresas verticalizadas que não são autossuficientes podem adotar como objetivo a maximização da produção física de madeira, enquanto produtores florestais independentes certamente desejarão maximizar o retorno financeiro da sua floresta.
Já os responsáveis pelo abastecimento de madeira para uma determinada indústria podem interessar-se pela minimização dos custos de produção florestal. A flexibilidade dos modelos de planejamento florestal estratégico otimizado permite que, antes mesmo da derrubada da primeira árvore, inúmeras simulações sejam realizadas.
Os horizontes de planejamento utilizados geralmente vão de 1,5 a 2 vezes a rotação da floresta, no caso do Pinus, com rotações de 20 anos e horizontes de planejamento de 30 a 40 anos, ou até 3 vezes a rotação, no caso do Eucalyptus, para a produção de madeira fina, com rotações de 7 anos e horizontes de planejamento de 21 anos.
E, como se não bastasse a complexidade matemática dos modelos, surge, atualmente, a necessidade de se incorporar a eles restrições espaciais e operacionais, sem as quais as respostas otimizadas podem tornar-se, simplesmente, utópicas. A visualização e o controle espacial e temporal das respostas constituem uma exigência dos tomadores de decisões, devendo ser incorporada aos modelos avaliados.
É impossível pensar em planejamento florestal estratégico otimizado sem a utilização de software especializado. Neste sentido, no Brasil, já há disponibilidade de programas computacionais para gerar a complexa “árvore” de opções de manejo para mais de uma rotação, permitindo até mesmo a substituição das atuais florestas por outras mais produtivas.
Alguns desses programas incorporam simuladores de crescimento e produção com otimizadores que montam e resolvem os complexos modelos matemáticos com vários milhares de variáveis e restrições.
A formação de blocos de colheita anual com área mínima visando atender restrições operacionais para viabilizar a colheita mecanizada já é um fato nos tempos atuais. Com o advento de equipamentos cada vez mais poderosos, é possível resolver, em minutos, problemas que, há um par de décadas, demandavam horas ou até dias para sua resolução.
Nas universidades brasileiras, alguns cursos de engenharia florestal já incorporam, no seu currículo, disciplinas específicas que abordam tanto aspectos teóricos quanto práticos da montagem e da resolução desses modelos de planejamento florestal estratégico otimizado, incluindo a utilização de software especializado.
Contudo a disseminação do conhecimento ainda pode ser considerada uma grande barreira para o uso generalizado dessas ferramentas avançadas de gestão da produção florestal.
As parcerias entre universidades e empresas vêm se fortalecendo a cada ano por meio do apoio a projetos de pesquisa, capacitação dos profissionais das empresas em programas de pós-graduação, treinamentos in-company, dentre outros.
É evidente que, aos poucos, o ceticismo de alguns anos atrás que havia em alguns tomadores de decisão deixa lugar, ao menos, à curiosidade, por verificar se os modelos matemáticos de planejamento florestal são capazes de detectar soluções melhores que as por eles adotadas. E é nesse sentido que, como professor e pesquisador da área de planejamento florestal, deixo a seguinte interrogação: Você já planejou sua floresta hoje?