Dentro do setor de florestas plantadas, discutir a importância da colheita de madeira em relação à sua complexidade e os elevados custos envolvidos pode parecer redundância, porém é necessário termos em mente que muitos dos problemas passam pela necessidade de maior atenção dos gestores em relação aos aspectos: treinamento, manutenção e planejamento.
Quanto ao treinamento, com os atuais avanços tecnológicos das máquinas de colheita da madeira, que são cada vez mais automatizadas, produtivas e de elevados custos de aquisição, torna-se muito importante que elas sejam manuseadas por operadores capacitados e com perfil adequado ao cargo. Com isso, será possível aproveitar o potencial máximo de produção das máquinas e evitar abandonos do cargo, situação muito comum nas empresas e que pode comprometer todo o planejamento e acarretar elevados custos.
Em seguida, temos a necessidade da implantação de um eficiente programa de manutenção mecânica, com uma infraestrutura adequada e mecânicos capacitados, possibilitando, assim, o atendimento imediato e evitando que as máquinas permaneçam paradas por longos períodos, obtendo-se, consequentemente, ganhos na disponibilidade mecânica, maior produtividade e redução dos custos de produção. Por fim, nos deparamos com a necessidade de melhorias nos atuais modelos de planejamento e controle aplicados na colheita da madeira, de forma a alcançar o uso racional dos recursos e melhorias na execução das operações do ponto de vista técnico, econômico, ambiental, de segurança e ergonômico.
Nesse aspecto, deve-se ressaltar que, muitas vezes, os problemas observados nas operações florestais estão relacionados às falhas de gestão, seja por problemas de relacionamentos entre as pessoas envolvidas no processo ou por falta de conhecimento ou aplicação inadequada dos aspectos que necessitam ser considerados nos diferentes níveis de planejamento. O planejamento pode ser definido como a elaboração por etapas, com base técnica, de planos e programas com objetivos bem definidos, ou seja, visa ao desenvolvimento de processos, técnicas e ações a serem executadas no futuro, de forma rápida, coerente, eficiente e com riscos aceitáveis.
O planejamento é muito peculiar dentro de uma empresa florestal, pois existem muitas variáveis envolvidas no processo que podem atuar de forma isolada ou simultânea, em que cada empresa possui suas características próprias, remetendo, portanto, à necessidade de uma maior atenção por parte dos gestores florestais. O planejamento florestal pode ser subdividido basicamente em três níveis hierárquicos: estratégico, gerencial e operacional.
O planejamento estratégico, considerado de longo prazo, envolve ações que ocorrerão em um futuro mais distante, com período de abrangência acima de 3 anos e contemplando decisões que envolvem grandes investimentos, como a aquisição de terras, construção ou expansão de indústria e alterações nos planos de manejo, silvicultural ou de infraestrutura. Na sequência, temos o planejamento gerencial, considerado de médio prazo e com período de abrangência de até 12 meses, podendo ser usadas ferramentas computacionais no apoio à tomada de decisão.
O objetivo principal desse nível de planejamento é o desenvolvimento de um plano de colheita e transporte da madeira, a partir de informações dos projetos e dos talhões disponíveis para corte, que são repassados pela equipe de planejamento florestal. Os principais aspectos considerados são: definição dos projetos e talhões a serem cortados e como a madeira será distribuída para a indústria e/ou demais consumidores; dimensionamento dos recursos físicos e distribuição dos módulos de colheita da madeira em função das distâncias de transporte; definição da capacidade produtiva e custos das operações de colheita e transporte; levantamento das condições atuais e melhorias nas estradas e obras de arte; informações do regime de manejo; definição de projetos e talhões estratégicos; sazonalidade do mercado e fretes; elaboração de orçamentos; levantamento dos impactos e ações mitigadoras para as questões ambientais e sociais; etc.
É importante ressaltar ainda que, como o planejamento gerencial envolve uma grande variedade de dados e informações a serem consideradas de forma simultânea, é fundamental que esse trabalho seja realizado por uma equipe multidisciplinar, com a participação efetiva dos gestores e suas equipes das áreas de colheita da madeira, logística, estradas, silvicultura e planejamento. Por fim, temos o planejamento operacional, considerado de curto prazo, com período de abrangência de 30 dias e podendo ser subdividido em macro e microplanejamento.
O primeiro envolve ações que ocorrem ao nível de fazenda ou projeto, contemplando aspectos como definição da sequência das operações de colheita e transporte, posicionamento dos módulos de colheita da madeira, dimensionamento dos recursos físicos, levantamento das condições topográficas, definição de talhões estratégicos, pátios intermediários, melhorias nas estradas, rotas de transporte, etc.
Já o segundo envolve ações que ocorrem no interior do talhão, contemplando aspectos como estimativa da eficiência, capacidade produtiva e custos das máquinas; volume a ser colhido; identificação de restrições operacionais; sentido de corte; sentido e distância ótima de extração; disposição dos feixes de árvores ou pilhas de toras dentro do talhão; necessidade de abertura de ramais; compartimentalização dos talhões em função das distâncias de extração e dos pontos de pilhas; localização dos estaleiros; disposição das pilhas de madeira nas margens das estradas, dentre outros.
Entretanto, para que todos esses aspectos previstos no planejamento operacional sejam levantados e aplicados na prática, torna-se necessária também a participação das pessoas envolvidas na colheita de madeira, com realização de trabalhos simultâneos de escritório e campo e com apoio das equipes de geoprocessamento e planejamento florestal da empresa.
Nesse momento, é fundamental a elaboração de mapas dos projetos e mapas individuais de cada talhão interligados às suas respectivas planilhas com informações complementares, podendo esse material compor o Book Operacional, que auxiliará os supervisores de campo e os operadores das máquinas na tomada de decisões nas frentes operacionais durante a execução do trabalho. Além disso, para que o planejamento seja executado de forma eficiente, é fundamental que a empresa disponha dos Manuais ou Cartilhas de Operação, com descrição detalhada de todos os procedimentos a serem executados nas diversas atividades envolvidas na colheita da madeira.
Tais manuais poderão contemplar os seguintes aspectos: descrição dos procedimentos operacionais nas diversas situações de trabalho, de manutenção e abastecimento, aspectos de segurança do trabalho, trabalhos em áreas de riscos, aspectos da qualidade do produto e do serviço, procedimentos para minimização de impactos ambientais, checklist das máquinas, etc. Por fim, para que todas essas ações previstas no planejamento florestal sejam alcançadas, é fundamental o controle diário de todas as atividades da colheita de madeira, permitindo maior eficiência na execução do trabalho; garantia do abastecimento da indústria; fornecimento de informações para fins operacionais e industriais; fornecimento de informações para uso no sistema de controle, custos e orçamentos; pagamento de pessoal; e garantia do cumprimento das metas estabelecidas no planejamento estratégico.
Portanto, em função da complexidade da colheita de madeira, que possui um grande número de variáveis que interferem diretamente na forma de execução do trabalho, o planejamento e o controle tornam-se de fundamental importância para a otimização das operações e a redução dos custos de produção, sendo uma tarefa desafiadora para os gestores florestais.