Secretário Executivo do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas Globais e Biodiversidade
Op-CP-16
Sustentabilidade é um tema que ganhou a agenda mundial nos últimos meses, basicamente em função da constatação da urgência relativa ao tema do aquecimento global. Com a divulgação do quarto relatório do IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, no fim de 2007, e a premiação do ex-vice-presidente americano Al Gore e do mesmo IPCC com o Prêmio Nobel da Paz, o tema das mudanças climáticas atingiu patamares de divulgação e discussão nunca antes vistos pela sociedade.
Esse relatório, que é considerado como o mais importante já produzido até o momento pelo IPCC, constata que o aquecimento global, que se agrava a cada dia, é resultado da ação antrópica. Aponta também as consequências que tal fenômeno irá gerar até o ano de 2100, caso o homem não faça nada para impedi-lo, bem como as projeções de vulnerabilidade de diversas regiões do mundo e ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
Segundo o IPCC, os impactos que o aquecimento global irão provocar são inúmeros, e muitos deles já podem ser observados, tais como a diminuição da biodiversidade, com a migração e extinção de espécies, a perda da produtividade da agricultura e a impossibilidade de produção de determinadas culturas, o degelo das calotas polares, o aumento do nível dos oceanos e o surgimento de refugiados ambientais.
Atualmente, o cenário mais pessimista projetado para a Humanidade para os próximos anos, já é hoje o cenário mais próximo da realidade, segundo conclusões do grupo de cientistas dos principais centros de pesquisa do mundo, que se reuniu em um encontro em Copenhague, Dinamarca, em março deste ano.
O encontro teve como objetivo reunir todo o conhecimento científico sobre o tema e chegar a um consenso sobre o clima. Nessa ocasião, os cientistas divulgaram que o nível do mar deve subir um metro ou mais até 2100, isto é, o dobro dos 50 cm previstos pelo IPCC em 2007. Ainda, essa elevação significará a provável necessidade de migração de cerca de 600 milhões de pessoas – 10% da população mundial, que terão suas áreas inundadas.
Tal evidência nos coloca a necessidade de buscarmos soluções para a questão em todos os níveis: poder público, setor privado e sociedade civil. As políticas públicas para o tema são essenciais. No entanto, também cabe ao setor empresarial um papel fundamental na questão. Este tem uma enorme responsabilidade na oferta de soluções para os desafios climáticos, exercendo um papel mais ativo em várias frentes, seja no campo diplomático, exigindo do Brasil uma postura diferenciada nas negociações internacionais em curso, notadamente em relação aos eventuais compromissos dos países em desenvolvimento, seja na mitigação das emissões de seus produtos e serviços, contribuindo para uma economia de baixa intensidade de carbono.
Está claro que essa é uma questão estratégica para o setor empresarial de hoje. Sustentabilidade não surgiu com o aquecimento global, mas adquiriu uma outra magnitude pela necessidade de se agir em relação a esse tema. No jargão usualmente utilizado na projeção de cenário, emprega-se a expressão business as usual, mas o que verdadeiramente está em jogo, em minha opinião, não será apenas o mundo dos negócios (business), que terá que ser transformado radicalmente, mas sim life as usual, que terá que sofrer inúmeras transformações.
Quer dizer que nos próximos dez anos haverá uma enorme força de transformação afetando a sociedade em que vivemos em vários campos: a economia terá que incorporar a dimensão climática e de sustentabilidade, o papel do Estado e do poder público nesse campo será decisivo, e também o dos consumidores, que, em suas escolhas pessoais, irão demandar bens e serviços que incorporem novas dimensões ecológicas e sociais no seu processo de produção e de disposição final.
O ambientalismo como conhecemos já está incorporando novos atores sociais, e será muito difícil imaginar que seja possível deixar de lado a dimensão da sustentabilidade em todos os processos decisórios, públicos e privados. Aliás, ainda que seja difícil precisar o que esse conceito significa, o esforço será o de definir metodologias que permitam traduzir em medidas efetivas e operacionais o que a sociedade vislumbra como sustentabilidade. Trata-se, portanto, de um processo em curso que será inexoravelmente o mais importante, em termos de transformação do mundo em que vivemos, constituindo o verdadeiro passaporte para o século XXI.